Opinião: a tecnologia não pode replicar a intensidade sensorial e a profundidade das conversas pessoais que mantemos na vida cotidiana
Por : Melanie Chan – Universidade de Leeds Beckett
Com o Facetime, Skype, Whatsapp e Snapchat, a conversa cara a cara vem acontecendo com menos e menos frequência, dia após dias, por muitas pessoas.
Esses aplicativos nos permitem conversar de forma rápida e fácil – superando distâncias, fusos horários e países. Além do nos proporcionar facilidades que há pouquissímos anos atrás seriam inimagináveis para qualquer um do nóe.
Frequentemente, essas formas de comunicação reduzem a necessidade de falar com outro ser humano, como no tempo de nossos país, e até mesmo na infancia de alguns de nós . Isso levou a que alguns dos trechos de conversação de nossas vidas diárias agora ocorram principalmente por meio desses dispositivos. Portanto, não precisamos mais conversar com vendedores, recepcionistas, motoristas de ônibus ou nem mesmo com colegas de trabalho; simplesmente nos envolvemos com uma tela para comunicar o que queremos dizer.
De fato, nesses cenários, tendemos a falar apenas com outras pessoas quando a tecnologia digital não opera com sucesso. Por exemplo, o contato humano ocorre quando chamamos um assistente para nos ajudar quando um item não é reconhecido no caixa eletrônico, os famosos “Posso-Ajudar?” .
DJá existem estabelecimentos comérciais, que como incentivos de re-humanização, e oferta de diferenciais de atendimento, “proíbem” o uso desses aparelhos em seus interiores
E quando temos a capacidade de nos conectar tão rápida e facilmente com outras pessoas usando dispositivos tecnológicos e aplicativos de software, é fácil começar a ignorar o valor das conversas pessoalmente. Parece mais fácil enviar uma mensagem para alguém do que encontrá-la. E na verdade, algumas pessoas que já tinham uma têndencia ao isolamente, fazem disso uma desculpa para que se isolem ainda mais do convívio social.
Dicas corporais
Pesquisas sobre tecnologias digitais indicam que frases como “boca a boca” ou “manter contato” apontam para a importância do cara a cara” e do contato humano. . De fato, a conversa cara a cara pode fortalecer os laços sociais: com nossos vizinhos, amigos, colegas de trabalho e outras pessoas que encontramos durante o dia.
Ao mantermos contatos reais, reconhecemos nossa própria existência e humanidade, de maneira que as mensagens instantâneas e as mensagens de texto não nos permitem fazê-lo, por serem frias e objetivas, tanto na recepção quanto na emissão. A conversa cara a cara é uma experiência rica que envolve desenhar memórias, fazer conexões, criar imagens mentais, associações e escolher adequar respostas, até mesmo os tons e volume de vozes nas resposta e afirmações. A conversa cara a cara também é multissensorial: não se trata apenas de enviar ou receber bugigangas pré-programadas, como “likes”, icones de corações pulsantes, desenhos animados e emojis amarelos sorridentes.
Ao conversar com o vídeo, você vê principalmente o rosto de outra pessoa apenas como uma imagem plana na tela. Mas quando temos uma conversa cara a cara na vida real, podemos olhar nos olhos de alguém, estender a mão e tocá-los. Também podemos observar a postura corporal da outra pessoa , e conhecemos também a expressão corporal de cada um, já esse também é meio de comunicação e podemos assim interpretá-los com maior fidedignidade. Todos esses fatores contribuem para a intensidade sensorial e a profundidade das conversas pessoais que mantemos na vida cotidiana.
Falando com máquinas
Especialistas de estudos sociais de ciência e tecnologia, advertem que, quando “falamos pela primeira vez através de máquinas, [esquecemos] de quão essencial é a conversa cara a cara com nossos relacionamentos, nossa criatividade e nossa capacidade de empatia”. Mas então “damos mais um passo e falamos não apenas através de máquinas, mas com máquinas”.
De muitas maneiras, nossa vida cotidiana agora envolve uma mistura de formas de comunicação face a face e mediadas tecnologicamente. Mas, devemos nos atentar que as formas digitais de comunicação podem complementar, em vez de substituir as conversas cara a cara.
Ao mesmo tempo, também é importante reconhecer que algumas pessoas valorizam a comunicação on-line porque podem se expressar de maneiras que podem achar difíceis por meio de conversas cara a cara.
Experimente de vez em quando, sair sem seu celular ou qualquer dispositivo de comunicação, que não seja sua boca, ouvidos, olhos e mãos
Por fim, o som, o toque, o olfato e a observação das dicas corporais que experimentamos ao ter uma conversa cara a cara não podem ser totalmente substituídos por nossos dispositivos tecnológicos. A comunicação e a conexão com outras pessoas por meio de discussões presenciais são valiosas, porque não é algo que possa ser editado, pausado ou reproduzido.
Então, da próxima vez que você decidir entre humanos ou máquinas no caixa ou se levantar da sua mesa e caminhar para outro escritório para conversar com um colega – em vez de enviar um e-mail para ele -, pode valer a pena seguir os hábitos antigos e experimentar voltar a envolver-se com o humano, como seres-humanos que somos, ao invés da tela somente.