Estou preso na vida, e desconheço quem odeia essa prisão. Vez ou outra, ouço falar de alguém que quis se libertar, fugir rasgando as grades desse cárcere e dando adeus à prisão “vida”, mas, no fundo, tenho certeza que algumas dessas pessoas esperavam ser reincidentes e voltar para a prisão. Coisa que não acontece jamais.
Pela janela dessa cadeia posso ver apenas uma paisagem, vasta, infinita, que vai escurecendo como um eterno crepúsculo; o passado. Olho para fora da vida e vejo o passado tão límpido, tão nebuloso, tão… tão… tão passado que chego a me enjoar. Queria que houvesse outra janela, na parede oposta, onde eu pudesse ver a outra paisagem; o futuro. Talvez, vendo as coisas por esse outro lado da cadeia eu pudesse compreender certas coisas. Coloco o ouvido encostado à parede e tento escutar o que vem do futuro… ruídos incompreensíveis, nada mais.
Às vezes me deito e olho para o teto presente. Como se fosse uma película tão rápida… a velocidade é a tônica desse teto, nada espera, nada suporta, nada fica, nada. Vem de lá do futuro, passa por cima de mim como um rolo compressor, e vai embora para o passado, eu observo ir para longe pela janela do horizonte passado, fleumático irascível horizonte. Vasto, amplo, inatingível, tridimensional.
De um lado, há uma parede sem janelas, atrás da parede o horizonte de expectativas no futuro desconhecido de mim e de todo mundo, conjecturas é o que fazemos a cerca do que há por trás dessa maldita parede. No teto, um rolo projetor, talvez o mesmo que há debaixo dos nossos pés; presente. Rápido; plástico; individual; personalizado. Do lado oposto, outra parede, de igual modo, intransponível, mas com uma janela com grades que dá vistas ao passado. Macro. E eu, preso entre as paredes da vida. Vivendo sob o teto e pisando sobre o tempo. Ainda bem!
Paulo Siuves