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Coluna do escritor Paulo Siuves – Reflexões

“Ao prestar homenagem à mãe de um querido amigo de trabalho, pelo falecimento dela, tantas coisas vieram à minha mente que não sei como posso explicar em poucas linhas”

Por Paulo Siuves – Academia Mineira de Belas Artes/AMBA – Jornal Clarín Brasil/JCB – 15/03/2020

Ontem foi um dia difícil, nem gostaria de lembrar. Como não posso esquecer simplesmente, fazendo um reset na memória, vou tentar concentrar minha lembrança em algo bom. Começando pela lembrança de que estou ficando velho (lembrei da música do Peninha “Quando olho no espelho/Estou ficando velho e acabado”), mas, digo sempre que eu NÃO estou ficando velho sozinho.

 
Essa semana, fui buscar minha idade completa, encontrei um site que calcula ate as horas, minutos e segundos. Fiquei assustado com tantos números. Meu forte não é números, mas vejam só. Quando eu completar os cinquenta anos, terei vivido exatamente 18.263 dias… é muita coisa pra pensar em cinquenta anos. Desses números loucos que a internet me precisou, veio a certeza extrema. Ninguém fica velho sozinho, todo mundo vai envelhecendo, juntos. Não vou falar em dias vividos efetivamente porque sou péssimo em operações matemáticas, isto é, nem imagino o que deve ser colocado para efetuar esses cálculos. Quem viveu cinquenta anos, gastou exatos 26.298.720 minutos, tente pensar em vinte e seis milhões de minutos. Só consigo projetar isso pensando em filmes hollywoodianos, como a maravilhosa história de “O Homem Bicentenário”, uma história do consagrado escritor Isaac Asimov que foi adaptada para o cinema e conta a trajetória de um robô chamado Andrew, papel interpretado emocionantemente por Robin Williams. Mas estou falando de cinquenta anos, não de duzentos. 

Pense em quantas pessoas passam pela vida de alguém durante 438.312 horas desde o seu nascimento? Quantas pessoas ficaram por dias na sua vida, compartilharam experiências por meses em algum curso mercadológico, ou conviveram por anos em sua ocupação profissional. Isso pra não ficar com elucubrações dispendiosas – relações esportivas, religiosas, afetos amorosos, etc, etc e etc. Eu fiquei uns dias pensando nisso; quantas pessoas ficam em nossas vidas durante um tempo e acabamos levando a vida de modo tão próximo que não notamos as mudanças, e são muitas. Cabelos ficam brancos, pessoas se tornam pais, adquirem mais volume na região da cintura e menos flexibilidade na coluna, é uma transformação triste, mas não notamos, não percebemos isso acontecendo e essa metamorfose é democrática, extraordinariamente democrática. Ela, a metamorfose, nos acomete de envelhecimento funcional, efetivo e permanente em cada um dos 1.577.923.200 segundos vividos em cinquenta anos. Depois disso, a bíblia diz, na versão King James, que “…a maior parte dos anos é de labuta e sofrimentos, porquanto a vida passa muito depressa.” (Salmos 90:10). 

Ao prestar homenagem à mãe de um querido amigo de trabalho, pelo falecimento dela, tantas coisas vieram à minha mente que não sei como posso explicar em poucas linhas, então, estimado leitor, não vou gastar o tempo nessas digressões. Mas, fiquei olhando para meus amigos de trabalho e me lembrando de quando começamos a empreitada de iniciar uma banda marcial. Garotos, a maioria solteiros, sonhando com um futuro de glamour musical, mas, com pendor para constituir família, tornamo-nos pais, maridos, e por aí desenrolou a história de cada um. Cabelos grisalhos, responsabilidades maiores e definidas, nasceram-nos filhos, perdemos nossos pais e mães, compartilhamos alegrias e infortúnios. Ganhamos experiências e não percebemos quando foi que tudo isso aconteceu. Sei que ainda temos muitas coisas a aprender, e desejo ardentemente que o melhor ainda esteja por vir, mas, olhando para meus amigos, me sinto feliz e orgulhoso do que construímos até aqui. Um livro escrito a sessenta e poucas mãos. 

Ontem foi um dia difícil, como não posso simplesmente esquecer que estou ficando velho, que estou aprendendo com sofrimento, pelo menos posso tentar agradecer pelas vezes que sorri largado com as minhas vitórias. O certo é que de cada etapa das nossas vidas, levamos um pouco de alguém deixamos um pouco de nós. Que possamos aprender que sempre deixamos nas pessoas mais do que levamos delas conosco.


Paulo Siuves é escritor, Formando da Universidade Federal de Minas Gerais, Presidente da Academia Mineira de Belas Artes, Embaixador Cultural da Academia de Letras do Brasil, Músico e Agente de Segurança Pública em Belo Horizonte, e escreve semanalmente para o Jornal Clarin Brasil

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