Governos dos Estados Unidos e países africanos exigem que governo chinês tome providências e impeçam as agressões
Por Jornal Clarín Brasil/JCB – Belo Horizonte em 15/04/2020 às 01h25min
Nos últimos anos, os países do continente africano vem se tornando os principais parceiros comerciais da China, e cada vez mais, percebe-se a presença de cidadãos chineses residindo e trabalhando em diversos países da Africa, assim como, ainda que de maneira mais tímida, um considerável número de cidadãos africanos, sejam eles, estudantes, executivos ou empresários, também nesse intercâmbio intercontinental. Porém, em decorrência dos últimos acontecimentos relacionados aos maus tratos sofridos por cidadãos africanos e afro-americanos em solo chinês, vem inquietando aos líderes africanos que ficaram irritados com a discriminação relatada por Pequim contra seus cidadãos.
A União Africana (UA), através de seu escritório diplomático exigiu respostas do governo chinês sobre relatos de que os africanos são alvos por medo de espalhar o coronavírus.
Um aumento recente nas infecções por COVID-19 na China, associado as inúmeras “fake news”, além da tradicional xenofobia dos chineses foi o o que acendeu o estopim contra estrangeiros de pele negra no país, sejam eles da Africa ou dos EUA, já que os chineses não diferem entre um e outro.
O governo chinês está preocupado com a possibilidade de haver uma segunda onda e intensificou o escrutínio de estrangeiros.
Coisas que a China não quer que você saiba
— Jornal Clarin Brasil (@BrasilClarin) April 15, 2020
O #racismonaChina . Este primeiro vídeo mostra a polícia chinesa não permitindo que os africanos descansem depois de serem expulsos de suas casas sem terem para onde ir. Este não é um incidente isolado.https://t.co/czmV2k399c pic.twitter.com/KhSTeGB7Lj
Alunos e expatriados africanos já foram despejados de suas casas, testados para coronavírus várias vezes e estão sendo evitados em público, como se deles fossem a culpa pela nova onda de contaminação que ameaça o país asiático.
Os incidentes provocaram uma disputa diplomática com a União Africana, os governos africanos e os Estados Unidos.
Então, essa é uma nova forma de racismo? Ou é apenas Pequim tentando conter a pandemia?
As autoridades locais do centro industrial de 15 milhões disseram que pelo menos oito pessoas diagnosticadas com a doença passaram algum tempo no distrito de Yuexiu, conhecido como “Pequena África”.
Cinco eram cidadãos nigerianos que enfrentaram a fúria generalizada da população chinesa depois que surgiram boatos de que eles haviam quebrado uma quarentena obrigatória e foram a oito restaurantes e outros locais públicos em vez de ficarem em casa.
Como resultado, quase 2.000 pessoas com quem entraram em contato tiveram que ser testadas para o Covid-19 ou submetidas a quarentena, informou a mídia estatal chinesa.
Guangzhou confirmou 114 casos de coronavírus importados na quinta-feira. Segundos a autoridades chineseas, desses 114, 16 dos casos confirmados foram em africanos. Os demais 98 tratavam-se de cidadãos chineses em retorno ao país.
Por causa disso os africanos a se tornarem alvos de suspeita, desconfiança. além da explosão de racismo e agressões em vias públicas na China.
Vários africanos disseram à AFP que foram expulsos à força de suas casas e afastados de hotéis.
“Estou dormindo debaixo da ponte há quatro dias sem comida para comer … não posso comprar comida em lugar nenhum, nenhuma loja ou restaurante me serve”, disse Tony Mathias, um estudante de intercâmbio de Uganda que foi forçado a sair de seu apartamento. na segunda-feira.
#RACISMOCHINA
— Jornal Clarin Brasil (@BrasilClarin) April 15, 2020
Chineses estão acusando africanos e afro-americanos de disseminarem nova etapa de contaminação do #coronavírus na China e estão agredindo estudantes, traders e empresários negros residentes no país.
UNIÃO AFRICANA E EUA REAGEMhttps://t.co/czmV2k399c pic.twitter.com/YQybOn6KeL
“Somos como mendigos na rua”, disse o jovem de 24 anos.
Mathias acrescentou que a polícia não havia lhe dado informações sobre testes ou quarentena, mas disse a ele “para ir para outra cidade”.
A polícia de Guangzhou se recusou a comentar quando contactada pela AFP.
Um empresário nigeriano disse que foi despejado de seu apartamento no início desta semana.
“Em todo lugar que a polícia nos vê, eles vêm e nos perseguem e nos mandam ir para casa. Mas para onde podemos ir?” ele disse.
Tensões crescentes
Outros africanos disseram que a comunidade foi submetida a testes em massa do Covid-19, apesar de muitos não terem sequer deixado a China recentemente e colocados em quarentena arbitrária em casa ou em hotéis.
A China proibiu a entrada de estrangeiros no país e muitos viajantes estão sendo enviados para quarentenas de 14 dias em suas próprias residências ou em instalações organizadas pelo governo chinês.
Thiam, um estudante de intercâmbio da Guiné, disse que a polícia ordenou que ele ficasse em casa na terça-feira, mesmo depois do teste negativo para o Covid-19 mesmo havendo ele dito aos policiais que não deixava a China há quase quatro anos.
Ele acredita que as medidas têm como alvo específico e injusto os cidadãos de origem africana.
“Todas as pessoas que vi testadas são africanas. Os chineses estão andando livremente, mas se você é negro, não pode sair”, disse ele.
O Departamento de Estado no último sábado emitiu um alerta aconselhando os afro-americanos, ou aqueles com potencial contacto com os africanos, para evitar a cidade de Guangzhou.
Denny, um comerciante nigeriano despejado de seu apartamento na terça-feira, disse que a polícia o transferiu para um hotel para quarentena depois que ele passou vários dias dormindo nas ruas.
‘Medo louco’
As infecções em Guangzhou provocaram uma torrente de abuso online, com muitos internautas chineses postando comentários racistas e pedindo que todos os africanos fossem deportados.
“Mesmo que tenhamos um resultado negativo, a polícia não nos deixa ficar (em nossas casas) e não explicam o motivo”, disse ele.
Na semana passada, um polêmico desenho animado que descreve estrangeiros como diferentes tipos de lixo a ser “jogado fora” se tornou viral nas mídias sociais chinesas.
“Existe esse medo louco de que alguém africano possa estar em contato com alguém que está doente”, disse David, um canadense que mora em Guangzhou e não quis dar seu nome completo.
O Ministério das Relações Exteriores da China reconheceu esta semana que houve alguns “mal-entendidos” com a comunidade africana.
“Quero enfatizar que o governo chinês trata todos os estrangeiros na China igualmente”, disse o porta-voz Zhao Lijian na quinta-feira, pedindo às autoridades locais que “melhorem seus mecanismos de trabalho”.