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Ano “Se” Letivo

Tivemos que pegar às rédeas – Quando digo tivemos, quero dizer, eu e minhas paranoias…

Por Nathielle Aroeira – Jornal Clarín Brasil JCB – Belo Horizonte 16/08/2020 às 09hs21min

Muito temos refletido, questionado, temido e nos preocupado com a situação principalmente das nossas crianças, nesse ano turbulento que ainda está na metade

E tenho pensado nesse tema a muitos dias para conseguir somente ignorar com eficiência, a insistência nesse assunto 

O ano, nas escolas, na verdade nem começou com tantas datas a se marcar e cumprir. Tantas atividades e situações a se programar no início do ano que quando era para iniciar verdadeiramente foi que paramos definitivamente. 

Eu vi minhas filhas correrem para se adaptarem aos nossos novos horários e ao nosso NOVO NORMAL, na então época.

Uma situação, que na minha condição, não é das mais tranquilas.

Mas como já estamos acostumadas a continuar SEMPRE, não importam as dificuldades, seguimos com o plano, e mal sabíamos nós que as dificuldades iriam crescer de tal forma que a mamãe (vulgo, eu mesma) não conseguiria amenizar.

Seguimos

No dia 19 de Março, as meninas já estavam em casa e a mamãe também foi obrigada a parar.

Ao invés de seguirmos, paramos, e foi estranho assimilar tudo que estava acontecendo… Digo, pra mim.. Porque pras meninas, tudo continuava normal – Só que melhor (rsrs)

Agora a mamãe, antes sempre fisicamente cansada e até meio distante, iria ficar o dia inteiro com elas- Olha que incrível!  Elas amaram e amam.

No começo estávamos de férias, matando a saudade, nos divertindo, curtindo nossa casinha, com nossa própria companhia, nossa independência, nossa liberdade, nossa paz. Paz que nós três conquistamos , depois de muita luta.

Quando me lembrei da luta , lembrei-me também, que se de alguma forma sairmos dessa confusão vivas (precisaríamos estar realmente, vivas), e aptas a enfrentar coisas PIORES, (expor realidades é o meu forte) – Foi aí que o “glamour” passou…

Começamos a intensa peregrinação da recuperação da aprendizagem, voltar os velhos hábitos. Tentar manter uma rotina menos… (como é mesmo a palavra que vocês gostam de usar em tudo?!?! … Lembrei!

“Uma rotina menos TÓXICA”…

E foi aí que o “trem azedou de vez”! 

Minhas pequenas, já acostumadas a uma vida de regras e limites muito bem estabelecidos e milimetricamente explicados.

Ficaram perdidas

É… Ficaram soltas por alguns meses (tipo 2..), e isso bastou para a massa desandar

Aí que entra a mamãe, que antes fisicamente cansada, agora estava fisicamente cansada, emocionalmente esgotada e psicologicamente estafada.

Tivemos que pegar às rédeas – Quando digo tivemos, quero dizer, eu e minhas paranoias…

Enquanto eu tomava as rédeas, aproveitei para mais uma vez esquecer de “mim”, (É a maneira mais eficaz de se vencer na vida materna).

E fazendo isso me lembrei de quem eu realmente sou, assumi o meu papel de mãe e reformulamos nossa rotina. 

Agora entra o assunto que quero falar:

As crianças não estão indo na escola, mas são obrigadas a se adaptarem.

– Nem preciso dizer muito sobre esse tema, pois, todos sabemos que quem não se adapta, padece, não é verdade?

Então, elas estão tendo uma AULA prévia e totalmente EXPERIMENTAL da vida, para se tornarem pessoas fortes e maleáveis, o fascinante EQUILÍBRIO…

* As crianças não estão indo para escola, mas estão sim aprendendo a socializar.

– Sim! Elas são obrigadas a socializarem comigo e eu com elas em TODO O TEMPO, e isso ensina valores que tem um VALOR inestimável na evolução da criança em um ser humano, no mínimo, respeitável.

Porque precisamos desenvolver o perdão… Sim! O famoso perdão… Numa convivência diária, 25 horas por dia (25!!), imagina o quanto de motivos que não provocamos um no outro, para que haja a falta de perdão?!? 

* As crianças não estão indo na escola, mas são obrigadas a terem responsabilidades.

– Não! Não é questão de maus tratos nem nada, mas o tempo de aprendizagem do ser humano é potencialmente na infância, logo, se não aprendermos na infância, poderemos ter dificuldades para aprender quando mais velhos…

Eu não sei vocês, mas eu prefiro ensinar às minhas filhas que na vida podemos errar, aprender e mudar, AGORA!

Do que ter que ver minhas adultas frustradas e sofrendo 

Então, cada uma tem seu afazer.

Assim como na escola tem combinados, aqui em casa, eles passaram a ser leis irrefutáveis

Horários à seguir, tarefas à fazer, uma vida pra se divertir.

* As crianças não estão indo para a escola mas estão aprendendo cada dia com mais intensidade, a DIVIDIR.

É. Enquanto vimos nos jornais pessoas comprando carrinhos e mais carrinhos de álcool e papéis higiênicos (????), levando todo o estoque dos supermercados.

Pessoas gastando auxílio EMERGENCIAL em produtos FÚTEIS, impedindo assim pessoas que realmente precisam receber um auxílio, para o BÁSICO.

Eu “tava” cá, com minhas “botõezinhas” aprendendo ardentemente a DIVIDIR.

Minhas pupilas – Hadassa e Maressa

Se tivermos só um, então teremos três pequenas partes.

Se tivermos três, todos ganham um inteiro.

Se tivermos seis… Aí já é fartura.

Se tivermos sete, precisamos procurar por pessoas que estejam precisando do que para nós está sobrando, no momento.

* As crianças não estão indo para a escola, mas estão aprendendo a CUIDAR.

Podem perguntar à elas: “Quem ama faz o quê?!” 

Elas vão te responder de prontidão: “Quem ama cuida!”

E amor? O de verdade. Não é pra todo mundo.

Então, cuidando, preocupando, sendo atenciosas, não desistindo uma da outra é o cuidado.. Logo, entre nós existe amor. 

Porque amor não é sentimento.. (elas também vão responder essa..) amor é ATITUDE! 

* As crianças não estão indo para a escola mas estão aprendendo que tudo tem um tempo

Oh! Sim! 

Não sabiam adultos?!?!

Tudo tem um tempo. 

É difícil até para nós adultos assimilar esses tópicos.. Mas as crianças já estão aprendendo, elas não vão sofrer como nós.

Às vezes, o que nos resta e o melhor a fazer é esperar.

E isso nos leva ao próximo tópico

* As crianças não estão indo para a escola mas estão aprendendo… (Pausa dramática, porque esse item é um dos que mais amo)

Estão aprendendo a RESPEITAR!!

-YYYEEEEESSSSSS!!!

Esse é bem abrangente e tem várias bifurcações.

Nisso tudo, podemos ensinar às nossas crianças a respeitar o tempo, às pessoas, às oportunidades, à natureza, aos animais, aos mais velhos, às autoridades.. E principalmente respeitar à elas mesmas.

Cada um tem seu tempo.

E com isso, nós também vamos aprendendo.

Aprendendo a respeitar nossos limites e conhecer cada vez mais quem são esses “serezinhos” enormes por dentro e tão pequeninos por fora. 

Respeito! Sempre! 

Respeitar gostos, sentimentos, momentos, e até pensamentos diferentes.

Sim! 

Hoje em dia tem muito adulto que não sabe fazer isso.

Assim como ensino em casa, eu cobro que esse respeito aconteça principalmente onde?! 

Podem chutar…

NA ESCOLA!

Elas já me conhecem e eu não aceito nenhum desrespeito com ninguém.

Claro que são crianças normais, vivem me desrespeitando e cometendo atos leves de desrespeito como fechar a cara e tudo mais… mas o CONCEITO já está lá 

Elas já sabem que não é o correto a se fazer e que todos merecem respeito igualmente.

IGUALMENTE!

* As crianças não estão indo para a escola mas estão aprendendo.. 

Elas estão nos observando.

O tempo todo…

E sempre falhamos…

E elas sabem.

Mas sabem também que sempre recomeçamos.

Com dificuldade, com muito esforço, mas sempre de maneira honesta e justa! 

Sempre com sinceridade.

Porque assim, mesmo não indo na estrutura física instituída como escola,(lugar onde se aprendem conteúdos, digamos didáticos),as crianças estão em constante evolução! 

E quem sabe (eu tenho certeza absoluta que sim), se nossas crianças não estivessem precisando desse tempo com a família?!

Para entender isso tudo que chamamos de vida real

Para reaprender a aprender o que há muito foi deixado para trás, como o bom e velho RESPEITO.

Quem sabe com a convivência, e nosso empenho em ajudar.

Conosco abrindo mão de nós mesmos eles aprendem a fazer o mesmo?

E assim aprendam também a AMAR…

E como boa peregrina na internet, comprovo que o que mais nos falta são exatamente esses dois TÓPICOS, que são cruciais para nossa SOBREVIVÊNCIA, mas que andam esquecidos demais por nossa sociedade cheia de doenças, misérias e crueldades.

Tomara que saibamos passar esses ensinamentos

Por que isso não é responsabilidade dos professores e da ESCOLA, esses valores, hoje esquecidos, que são a nossa única esperança de uma vida melhor, são responsabilidade nossa, de passar para frente

Espero sinceramente que não falhemos mais nisso

Embora saiba que esse texto não será lido por completo, e nem que o mundo será mudado de imediato.

Minhas filhas não irão para o prédio da escola esse ano, mas em nenhum momento elas deixarão de aprender de conhecer, de fazer experimentos, de interagir, de pensar, de crescer e principalmente de se adaptarem.

Elas estão evoluindo para serem seres humanos melhores, não para máquinas funcionais de baixo custo.

Elas serão seres… HUMANOS

Seres que pensam e criam…

Seres que analisam e ponderam…

Seres que amam e se doam…

Seres que criam e RACIOCINAM… 

Elas são seres SELECIONADOS para terem sucesso na vida real.

Uma vida ao lado de seres tão especiais como elas.

Que Deus, O Altíssimo, tenha misericórdia de nós! 

SHALOM!

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Nathielle Aroeira é educadora, mãe dedicada e escreve para o Jornal Clarín Brasil/JCB aos domingos
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