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Academia Mineira de Belas Artes – Paulo Siuves

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira

Por Paulo Siuves – Academia Mineira de Belas Artes/ Jornal Clarín Brasil JCB – Belo Horizonte em 04/10/2020 às 06hs52mins

MULHER ALFA

Paulo Siuves

Outro dia, falei aqui que escreveria sobre mulher ou homem alfa, muito bem, vamos lá. Sou admirador da mulher pela sua essência, sua força, por ser simplesmente mulher num mundo machista, retrogrado, onde ainda há pessoas que acham que o machismo não precisa ser atualmente combatido. Precisa ser combatido sim, para que num futuro não muito distante daqui, as mulheres possam viver sem o medo de encontrar com um “machão” por aí, no trabalho, na vizinhança, ou pior, no ambiente familiar. O comportamento machista precisa ser problematizado em todos os lugares onde existam pessoas reunidas, estejam no meio de mulheres ou somente de homens, porque não? Quantas vezes, no meu ambiente de trabalho, conversamos sobre isso e foi realmente proveitoso, mesmo sem a presença de uma mulher sequer? Isso não desmerece homem algum, ao contrário, faz crescer e enobrecer o espírito dentro de cada um. Diferentemente do machista, admiro a mulher alfa; mulher independente, bem resolvida, cheia de amor próprio, que não se deixa dobrar pelas animosidades cotidianas brasileiras, que pegou as rédeas da sua vida e não só isso, comanda o destino de si e de muitos outros, sempre rumo à segurança, seja emocional ou social. Se destaca por sua capacidade de liderar, de comandar, de orientar e de gerir uma situação e costuma ter uma atitude baseada no acerto.

Se você, meu amigo (preste atenção), se envolver amorosamente com uma mulher alfa, ganhou na Mega-Sena acumulada. Ela é uma mulher que quer ter uma vida amorosa intensa (assim como ela), uma relação fidedigna, com verdade e profundidade, nada de relações rasas, isso ela odeia. Ela não fica em relacionamentos que lhe sobram apenas migalhas, onde há indecisões e pisos falsos, relação vazia não é com ela. Se você pensa que vai estar com ela do mesmo jeito que fica com mulheres comuns, só tenho uma coisa a lhe dizer: “Acorda, inocente!”. Ela vai te dar um pé nos fundilhos e você vai ficar com aquela sensação estranha de quem não entendeu o que aconteceu. Se você é do tipo de cara que é indeciso, inseguro, instável, introvertido, inconvincente, e outros “in..”s adjetivais por aí, nem se aproxime de uma mulher alfa, porque se você for do tipo de homem que não está realmente pronto para o amor, vai “dar ruim” pra você. Aliás, verdade seja dita, ela vai detectar, nem vai perder tempo com você, porque você não é do tipo que desperta ânimo nem desperta vontade de estabelecer conexões profundas, efetivas.

A mulher comum se equilibra entre a independência e a intimidação; a mulher alfa é independente e não se intimida facilmente. Se alguém tentar intimidá-la, vai encontrar em sua frente uma mulher que tem personalidade muito forte e facilidade para tomar decisões, e a decisão dela é jamais se deixar intimidar. O machismo ou o sexismo fogem dela. Sabem como ela lida com alguém machista? Ela não lida, ela expurga. O machista se sente repelido e tem medo de expor seu pensamento cultural tóxico perto dela. O cara que pensa que é machão, perto da mulher alfa, se assemelha a um leãozinho de filme infantil, quer rugir, mas rosna baixinho para ela não ouvir já que ela tem atitude; se rosnar pra ela… O rugido de volta é assustador.

No entanto, o inverso também é muito real; se fizer algo meigo, carinhoso, terno, o que ela te dá de volta quase não cabe nesse universo. A mulher alfa ama em profundidade e ama ser amada, ela se sente confortável quando está amando, porque ela sabe reconhecer quando a reciprocidade é verdadeira. Contudo, ela não confunde relação amorosa com relação profissional; cada coisa em seu devido lugar. Ela tem satisfação na progressão profissional da pessoa com quem se relaciona, essa pessoa tem nela um espelho de produtividade e competência. Essa mulher explora o universo de possibilidades, tanto afetivo quanto laboral e social. Ela encontra meios de caminhar ao lado de quem quer crescer, e oferece ajuda para fazer com que seus familiares, amigos e affairs explorem mundos infinitos de emoções, explorem sua melhor versão, porque ela simplesmente está na sua melhor versão feminina e quer sempre se sofisticar, sublimar, intensificar, aguçar suas vocações inatas e capacidades adquiridas ao longo da vida. Se você é amigo, parente ou namorado dessa mulher, prepare-se para conhecer o efeito de tornarem-se potências juntos, porque é isso o que acontece com quem anda junto de uma mulher alfa; quero dizer que, se você está indeciso daquilo que você quer ser, ou aonde quer chegar, desista de estar perto dela. Ela é capaz de tornar seu parceiro amoroso uma potência social e profissional, isso se ele já não o for, por causa da relação com esse mulherão que ela é, porque é isso que ela quer que ele seja; um “homão” de verdade. Ela é capaz de pegá-lo pela mão e fazer com que ele perceba suas potencialidades e fazer desse cara, um grande homem.

A alfa também sabe a hora de sair dessas relações inconsistentes. Como é cheia de amor próprio, não vai ficar gastando energias com relações rasas e sem conexões. Se perceber que aquela relação é uma aliança de responsabilidade unilateral, ela vai se retirar elegantemente, sem sofrimento aparente. Pode ser que chore no quarto escuro, mas será para que nem mesmo ela veja a sua fraqueza. Pela manhã, como uma fênix, ela vê surgir diante do espelho uma mulher refeita, pronta para a selva.

O que me encanta mesmo é que o mundo tem cada dia mais mulheres alfas. Mulheres comprometidas com elas mesmas, com a qualidade das relações que estão se envolvendo, evitando relações de abuso, relacionamentos tóxicos. A mulher alfa é aquela que se dedica ao próximo de forma desinteressada, que visa o bem-estar do próximo, não levando em consideração interesses particulares. E são, contudo, ambiciosas, centradas e muito humanas. A cada dia eu vejo uma mulher alfa surgindo, uma mulher diferente se tornando consciente de que elas não precisam estar debaixo de alguma autoridade patriarcal, machista, que as diminua por causa da sua condição de gênero feminino. Essas mulheres estão preparadas para se lançarem, sem medo, nesse universo desafiador das relações humanas, de relações amorosas, profundas e respeitadoras, de relacionamentos familiares e profissionais que reconheçam suas capacidades e potencialidades afirmadoras. E para finalizar, vamos nos deliciar com a beleza do poema de Adélia Prado.

Com licença poética: a mulher em sociedade

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado, Bagagem (1993)

Assim como Adélia Prado pediu licença poética a Drummond, eu a peço à Adélia, para dizer a você, leitora: Quando nasci um escritor esquisito, desses que escrevem colunas, anunciei:
vai ser alfa na vida, mulher!

Paulo Siuves – abril, 2020

Paulo Siuves é escritor, Formando da Universidade Federal de Minas Gerais, Presidente da Academia Mineira de Belas Artes, Embaixador Cultural da Academia de Letras do Brasil, Músico e Agente de Segurança Pública em Belo Horizonte, e escreve semanalmente para o Jornal Clarín Brasil

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