Deus vinha todo fim do dia conversar com o homem e ouvir suas composições musicais, deliciar-se com a obra do intelecto e das mãos do homem músico
Por Paulo Siuves – Academia Mineira de Belas Artes/ Jornal Clarín Brasil JCB – Belo Horizonte em 18/10/2020 às 08hs36mins
GÊNESIS MUSICAL
No princípio criou Deus o céu e a terra, e a terra era sem graça e vazia, e o silêncio dominava sobre a face das águas. Não havia luz, nada existia de belo além da imensidão das águas tranquilas. Então Deus crio o vento, e as ondas do mar se fizeram levantar trazendo barulho e ritmo, houve luz intermitente – Dia e Noite – houve batidos e uivos pelo ar. E viu Deus que ali havia potencial, em sua infinita sabedoria, criou harmonia entre o ruído dos ventos e o barulho das ondas quando quebram na praia, fez a pausa e organizou o andamento dos sons numa cadência que cresce e depois diminui quase fazendo um staccato. E viu Deus que aquilo era bom.
Ao som, com movimentos, cadências, evoluções e pausas chamou Deus de MÚSICA, e toda a natureza se criou sob sua harmonia. Em todas as coisas havia um pulso musical e em tudo havia um movimento, um quase convite para bailar. Deus viu que a música estava incompleta e que era possível colocar alguma coisa para que fosse possível chegar ao “Grand Finally”, ao coda, com paixão e razão. Então Deus criou o músico, e deu a ele a sabedoria para encadear os compassos, para criar as nuances perfeitas, para harmonizar os vários sons com todos os ritmos e fazer uso de tudo o que existe para fazer música. E a sabedoria daquele ser foi tamanha que ele pode usar diversos objetos para tirar ritmos, sons em harmonia e, quando não conseguisse, ele inventou seus próprios instrumentos musicais. E viu Deus que o ser que ele criou era bom e deu-lhe o nome de ser-Humano. O homem.
Deus vinha todo fim do dia conversar com o homem e ouvir suas composições musicais, deliciar-se com a obra do intelecto e das mãos do homem músico. Numa tarde de puro “brain storms”, o homem compôs uma música numa escala melódica em compasso ADÁGGIO, e percebeu Deus que o homem estava criando o romance, viu Deus que sua criatura também criava, mas sua capacidade criativa era limitada e sem recursos. Então, em sua infinita misericórdia e sabedoria, Deus fez cair sobre o músico um pesado sono, sabendo da necessidade do homem de compor para alguém que lhe fosse uma fonte de inspiração, abriu-lhe o flanco esquerdo, retirou dali uma costela e fez, para o homem, uma mulher.
Quando o homem despertou do sono, viu ao seu lado uma forma feminina e a amou, e com seus instrumentos musicais, compôs uma balada romântica. Deus viu que sua criação era boa e pôs no coração do homem o desejo de amar sem limites a sua mulher. O homem a chamou MUSA INSPIRADORA e passou a compor as mais belas canções de amor e alegria. Porém, o homem teve um adversário, um ser que quis ser como Deus, quis ter todas as canções para o seu louvor. Então ele se colocou entre o homem e a sua musa e plantou a discórdia. Como fruto dessa discórdia, o homem criou a música de “dor de cotovelos”. Desde então é possível ouvir músicas de baixíssima qualidade harmônica e melódica. Deus ouviu aquilo e repreendeu severamente ao músico, como castigo por ter dado ouvidos ao inimigo e depois criado uma coisa tão abominável, o homem e sua musa foram expulsos do paraíso. Longe de Deus as composições do homem sofreram altos e baixos dando origem a ritmos como “funk proibidão”. Mas, Deus enviou seu único filho, o Cristo, para resgatar o músico e prometeu dar um lugar no céu onde essas “coisas” jamais serão tocadas. E prometeu ao homem: eu irei preparar um lugar para vós e será um palco lindo, e virei outra vez para vos levar comigo, para que onde eu estiver cantando, estejais vós também!
Paulo Siuves é escritor, bacharelando em Estudos Literários pela Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, presidente da Academia
Mineira de Belas Artes, Embaixador Cultural da Academia de Letras do
Brasil, músico e agente de segurança pública em Belo Horizonte, e escreve semanalmente para o Jornal Clarín Brasil