“Hilda Maia Valentim, viúva de Paulo Valentim, um grande herói do Boca Juniors”
Por Jornal Clarín Brasil JCB – Belo Horizonte em 04/11/2020 às 10hs41mins
Afinal De Contas, Quem Foi Hilda Furacão?
Olá Curiosos!
Sou uma pessoa de memória muito privilegiada, lembro-me de fatos que me ocorreram na primeira infância, com dois, três anos de idade, como se eu fosse mais velha nessa época.Acho que sou de outro planeta as vezes.
Lembro-me exatamente do primeiro capítulo da Minissérie Hilda Furacão, que teve início em 1998, tudo bem que em 1998 eu já não era uma garotinha, já tinha até minha filha mais velha, mas lembro-me com detalhes da estreia da série que parou o país, tipo último capítulo da novela Av. Brasil? Bem assim…
A série tinha como protagonista Ana Paula Arósio, que era uma modelo e atriz linda, que estava no auge de sua carreira e interpretava a meretriz Hilda, que na série era uma jovem de Classe média alta que cansou-se dos protocolos familiares e foi viver em um prostíbulo, um grande escândalo nos anos cinquenta, ano em que a série é ambientada. Parece Sina, a Hilda personagem também sumiu como a atriz que se cansou dos holofotes e virou bicho grilo, foi viver no meio do mato e nem aparece para dar entrevistas mais. Mas na Série Hilda se envolve emocionalmente com um Padre que era chamado como Santo.
Imaginem? Um Santo e uma prostituta na década de cinquenta?
Uma história real narrada pelo escritor que era um espectador e frequentador da Boemia Mineira.A série fez um sucesso tipo ” La casa de Papel”, todo mundo comentava e especulava, será que a Hilda Furacão existiu de verdade? O Livro de Roberto Drummond vendeu mais que álcool em gel em Pandemia, todo mundo queria saber a história de Hilda.E ele era o narrador da trama no romance.
Mas, afinal de contas, quem era Hilda Furacão?
Hilda Maia Valentim, nasceu em 30 de dezembro de 1930, em Recife, apesar da Minissérie retratar a pobre menina rica, Hilda nasceu pobre e chegou em Belo Horizonte com a família.No entanto, Hilda tinha uma alma livre e desde muito jovem queria desbravar os bairros boêmios da capital mineira. Foi nesse momento que descobriu uma profissão pouco convencional. Lá, iniciou seus primeiros trabalhos como garota de programa.Gostava daquele espírito notívago que a prostituição lhe dava.Era uma mulher magnética, bonita para os padrões da época.
Recebeu o apelido Furacão atuando na “vida fácil” que de fácil não deve ter nada. Arrumava barraco direto com os clientes, pois não aceitava violência e nem levava desaforo pra casa, nem com ela e nem com seus colegas de trabalho; era tipo a Madame Satã carioca feminina em Belo Horizonte. Se mexesse com os dela, o pau comia. Mexer com Hilda era arrumar confusão.
Hilda tinha muitos pretendentes que lhe ofereciam mundos e fundos para abandonar aquela vida, mas adorava o cortejo e não tinha vontade alguma de abandonar a vida no Baixo Meretrício. Até que surgiu o “Santo”, que nem era tão santo assim. Recebeu essa alcunha após conhecer Hilda, pois na época, um homem bonito, jovem, livre e com coragem pra assumir uma prostituta, só sendo um ” Santo”.O que rendeu a Rodrigo Santoro, o personagem do “Santo Padre”, na Minissérie, que foi chamado pra exorcizar Hilda no Prostíbulo, mas na verdade, o tal ” Santo” era um jogador de Futebol.
Hilda trabalhara até meados de 1950, no Hotel Maravilhoso, na zona boêmia de Belo Horizonte, e foi lá que conheceu o jogador do Atlético Mineiro, Paulo Valentim e foi amor à primeira vista. Paulo foi vendido para o Botafogo, mas isso não o impediu de ir encontrar-se com a amada em Belo Horizonte.Paulo realizou o impossível para a época. Tirou Hilda da “vida”, casou-se com ela na Igreja arrumando uma grande confusão, quando durante a cerimônia o Padre tentou dar uma lição de moral em Hilda pedindo que não voltasse para a vida fácil, o que irritou Paulo que avançou no Padre, sendo contido pelo Padrinho João Saldanha.Paulo Valentim a levou-a pra viver ao seu lado em Buenos Aires, onde tinha um contrato já assinado pelo Boca Juniors. Ganhou muito dinheiro e muita fama.
Era furioso, Valentim. Mandou nada menos que dez gols em sete jogos contra o River em 1961 e 1962. Nada de Tevez, Palermo ou Maradona. Tim, tim, tim até hoje, contra o River ninguém foi mais que Valentim. Enobrece o artilheiro o amigo e Goleiro que foi seu amigo até o fim da vida. Inclusive pagou seu enterro. Chuteira na cara de Carrizo no Monumental Bicampeão argentino (1962 e 1964), fez 71 Gols em um campeonato.
Além dele tornar-se um ídolo no país, sendo adorado por multidões, Hilda ganhou respeito e como mulher bonita que era, sem saberem do seu passado, pois os Argentinos são machistas e provincianos. Hilda ganhou o título de Musa do Boca Júniors e La Bombonera rendeu-se ao casal. Hilda era mesmo um Furacão por onde passava.
Mas, nem tudo são flores.
Valentim começou a se entregar ao álcool e ao jogo, o que não é difícil acontecer em Buenos Aires , com cassinos maravilhosos e cerveja litrão pra tudo que é lado.Apesar de acabar a grana, o amor sobrevivia.
Ulisses, primeiro tentou suicidar-se, não aceitava não ter o talento futebolístico do pai, tomou fungicida, mas sobreviveu. Havia deixado uma carta pedindo a esposa que cuidasse de sua mãe. Anos depois morreu de diabetes, sem nunca saber que era filho da famosa Hilda Furacão no Brasil, apenas da Famosa Hilda Valentim, a Morena do Boca! Sozinha, Hilda foi morar em um asilo, amparada pelo Governo Argentino, no bairro de Barracas em Buenos Aires. Uma assistente social do asilo que era brasileira, associou o nome ao caso e começou a procurar familiares de Hilda. Sem sucesso.
O programa revelou que, pouco antes de viver na Instituição, se viu diante de uma trágica queda e acabou sendo internada num hospital público durante seis meses. “Conheci a Hilda e comecei a pesquisar e a recuperar parte de documentação e a identidade da Hilda. Chegamos a essa história fantástica da Hilda Furacão, ou da Hilda Maia Valentim, viúva de Paulo Valentim, um grande herói do Boca Juniors”, informou Marisa Barcellos, uma assistente social que desvendou o passado da solitária mulher.
Como Hilda Furacão saiu de cena e do Hotel Maravilhoso, Ana Paula Arósio também saiu de cena.
Ainda tenho alguns exemplares do Volume I da Rainha Louca e hoje ele sairá em E-book
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Izabelle Valladares é Jornalista e Psicanalista . Remonta a memória de livros feitos em folhas de caderno aos 6 anos de idade e de um jornal na adolescência.
Nascida em Niterói em 1976, tem mais de 20 livros publicados e participa de centenas de antologias. Mulher a Frente das 19 subsedes da Literarte, já percorreu mais de 64 países com suas obras. Tem uma página no Facebook Izabelle Valladares e a História para Curiosos com História Universal, conhecida como “A Rainha Louca”.
Neta do Jornalista Antônio Andrade, ganhador do Prêmio Esso em 1969, orgulha-se de sua ancestralidade negra.