Se é domingo ou feriado, o café vai entre as mãos lá para fora, ser degustado ao sol, com um calção folgado, chinelos e café
Por Paulo Siuves – Jornal Clarín Brasil JCB/Academia Mineira de Belas Artes – Belo Horizonte em 15/11/2020 às 07hs26mins
Meio Homem, Meio Café
Recebi um texto gracioso falando sobre o benefício do café pela manhã. Não era exatamente sobre o café, mas algo em torno dele. Sobre tomar um gole devagar, apreciando o sabor, o cheiro, o calor dele descendo pela garganta, revigorando, confortando, preparando para o dia, mais um dia.
Talvez faça sol lá fora, o aroma do café é um aroma de uma lembrança boa, que evoca otimismo e me desperta para o confronto quotidiano. Talvez seja um dia de chuva e a xícara de café fumegante, enfim, me desperta. Aquela fumacinha sobe dançando e soltando momentos únicos de prazer, as nuvens pesadas não podem amedrontar a mim, homem feito, depois de degustar essa bebida mágica, enfrento o dia, salvo pelo café. Estou destinado a vencer e não somente a sobreviver…
Há coisas no fundo de uma xícara de café que nenhuma palavra explica, somente tragando vagarosamente, como um vício, se pode entender que é possível extrair dali a força necessária para sair de casa, faça chuva ou faça sol. Pode até ser segunda feira, mas antes de tudo, um café, por favor! Segundas-feiras são o patinho feio da semana, no entanto, eu até gosto das segundas, sejam feiras, chances ou intenções.
Sempre tomo café meio às pressas quando é terça ou quarta-feira, e nem é por picardia que escolho fazer assim. Terça e quarta são dias em que a semana está a todo vapor, tudo está acontecendo, às vezes, ao mesmo tempo… a vida se divide em plataformas, e eu tenho que estar online em todas as telas; família, trabalho, amigos, esportes, entre uma decisão e outra, um gole no café, descubro que esfriou na xícara, ele também precisa ser renovado. A estação de trabalho está viva e o café precisa estar também.
Tenho cisma com as quintas feiras, aqueles dias esquisitos que não são fim de semana e nem o início delas, sempre me decepcionei às quintas. Me sinto meio homem-café e, durante o dia, o café se torna a única razão para que eu reconsidere os esportes, os amigos, o trabalho… o que me salva numa quinta-feira, faça chuva ou faça sol, é um cochilo depois do almoço e um café preto fresquinho à tarde, a vontade é de mandar tudo para a quinta das cucuias.
Se é domingo ou feriado, o café vai entre as mãos lá para fora, ser degustado ao sol, com um calção folgado, chinelos e café: Pronto, estou me refazendo. A sensação de vigor é a certeza de que o dia está pra mim. Leio, exercito o corpo e vou curtir a vida, afinal, a gente vive cada dia como se deve ser: único. Só se morre uma vez! Eu vou viver hoje de novo a minha Vitória diária, vem comigo?
Paulo Siuves é escritor, bacharelando em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, presidente da Academia Mineira de Belas Artes, Embaixador Cultural da Academia de Letras do Brasil, músico e agente de segurança pública em Belo Horizonte, e escreve semanalmente para o Jornal Clarín Brasil