Levantamento da CNC aponta que essa é a maior retração desde 2016, quando o setor ainda sofria efeitos da maior recessão no Brasil
Por Agência Brasil 61 – Brasília, em 10/03/2021 às 00hs01mins
O efeito da pandemia da Covid-19 surpreendeu os comerciantes em 2020 e o resultado gerou o fechamento de mais de 75 mil lojas em todo País. É o que aponta um levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Essa é a maior retração no setor de lojas com vínculos empregatícios desde 2016, quando o ramo ainda sofria os efeitos da maior recessão da história recente do País e 105,3 mil lojas fecharam as portas.
As consequências econômicas da crise sanitária sobre o setor foram sentidas imediatamente após a decretação da pandemia global. Em março de 2020, houve recuo de 14,4% no volume de vendas em relação a fevereiro e, no mês seguinte, um novo tombo histórico foi registrado: -17,7% na comparação entre os meses de abril e março. A partir de maio, o setor voltou a registrar avanços mensais, restabelecendo o nível de faturamento do mês anterior à pandemia já no mês de agosto.
Essa rápida reação do setor só foi possível graças a uma combinação de fatores que permitiram restabelecer as condições de consumo, como o fortalecimento do comércio eletrônico, a flexibilização das medidas restritivas na virada do primeiro para o segundo semestre e a disponibilização do auxílio emergencial.
De acordo com o relatório da CNC, os seis primeiros meses de 2020 fizeram com que 62,1 mil pontos de vendas fossem fechados, e na segunda metade do ano, 13,1 mil comerciantes encerraram as atividades. Os ramos mais afetados foram o de vestuário, calçados e acessórios (-22,29 mil) seguido pelos hiper, super e minimercados (-14,38 mil) e pelas lojas de utilidades domésticas e eletroeletrônicos (-13,31 mil).
Os micro e pequenos empresários foram os mais afetados. Eles correspondem à maior perda de pontos de vendas no País, totalizando 98,8%. Thiago Borges, dono de um Hookah truck (espécie de bar móvel) em Brasília, foi um dos microempreendedores que fechou o comércio no começo da pandemia da Covid-19. Um ano depois, ainda não conseguiu retomar as atividades.
“É complicado porque a pandemia ‘veio do nada’ e nós, que somos comerciantes, tivemos que arcar com os prejuízos. Tive que fechar as portas e me virar encontrando outra forma de trabalho”, explicou.
O Distrito Federal ocupa a 13° posição no ranking de comércios brasileiros afetados. Mas o impacto de saldos negativos podem ser vistos em todo o País. Os estados da região Sudeste, com exceção do Espírito Santo, foram as unidades que mais perderam comércio. São Paulo teve 20,30 mil estabelecimentos fechados, Minas Gerais perdeu 9,55 mil e Rio de Janeiro 6,4 mil. Apesar da baixa, é possível observar que a região Norte teve queda mínima, como mostra o gráfico abaixo.
Comerciante na capital de São Paulo, Telma Francesco, fechou no último domingo (7), a loja de roupas infantil que tinha há cinco anos. De acordo com ela, o auxílio emergencial ajudou a manter o estabelecimento, pois a clientela que o recebia ainda frequentava. Mas com o fim do benefício, as portas da loja tiveram que ser fechadas. “Quando o auxílio acabou, os clientes ficaram sem renda e eu tive que fechar a loja, pois as vendas não supriam os gastos, as dívidas estavam acumulando e tive reajuste no meu aluguel.”
Apesar disso, Telma mantém a esperança e espera reabrir a loja quando a economia for restabelecida.
Cenário incerto
Levando em consideração a evolução da crise sanitária e os impactos sobre o nível de isolamento social da população, a CNC revela que a vista para os próximos meses ainda é incerta. Desse modo, foram projetados três cenários, associando o índice da evolução das vendas no varejo ampliado e a recuperação do saldo de lojas ao longo de 2021.
No cenário básico foi previsto a redução de cinco pontos percentuais no índice de isolamento social da população até o fim de 2021, em relação a dezembro de 2019. Neste caso, as vendas avançariam 5,9%, em comparação com 2020, e o setor seria capaz de reabrir 16,7 mil novos pontos de venda este ano.
Em um cenário alternativo mais otimista, no qual o isolamento social retornaria aos níveis pré-pandemia (30% da população), o volume de vendas cresceria 8,7% e 29,8 mil estabelecimentos com vínculos empregatícios seriam abertos ao longo do ano.
Por fim, um quadro mais pessimista, no qual o confinamento da população se mantivesse ligeiramente abaixo (3 pontos percentuais) do patamar observado em dezembro do ano passado, o saldo entre abertura e fechamento de lojas terminaria o ano em +9,1 mil unidades.
Fonte: Brasil 61