Qual de nós conseguiríamos nos imaginar passando uma única noite expostos no tempo nesse intenso inverno em que atravessamos, em que as baixas temperaturas vem batendo recordes, sentidos mesmo dentro de nossas casas?
Jornal Clarín Brasil JCB News – Belo Horizonte, em 20/07/2021
No aconchego de seu lar, estando sob grossos cobertores, ou em uma casa calafetada, com aquecedores, ou uma elegante lareira acessa, tomando seu chocolate quente, você já se perguntou como os animais de rua sobrevivem durante os meses frios de inverno? Obviamente, os animais selvagens desenvolveram ao longo dos anos, técnicas e características naturais para se protegerem do frio. Mas e aqueles que desempenham a missão de serem nossas mascotes, que foram domésticados por nós, e que consequentemente, dependem de nós, mas que foram desamparados pelas ruas das cidades, como se protegem, ou quem os protegem?
Vamos entender um pouco sobre o assunto;
Na natureza, ou até mesmo invadindo os grandes centros urbanos, os animais usam um dos três mecanismos de enfrentamento para lidar com o frio, a solidão e a escassez de alimentos, sejam estes animais, selvagens ou domesticados.
Como os animais selvagens reagem ao inverno, vejamos:
- Migraração: Migração significa mudança, e alguns animais ao observarem as mudanças climáticas, se movem instintivamente de áreas frias para áreas mais quentes, alguns são capazes de encontrar fontes de alimentos que de outra forma não estariam disponíveis durante os meses de inverno. Os pássaros migram, mas alguns mamíferos também o fazem – morcegos, alces, renas e até mesmo algumas baleias seguem o clima para encontrar alojamentos quentes durante o inverno severo – Essas grande migrações, podemos observar com maior incidência no hemisfério norte, rumo ao sul, e ao contrário, quando existe a inversão climática entre os polos do globo terrestre.
- Adaptação: Alguns animais mudam suas características físicas com as estações, adaptando-se à temperatura e às condições meteorológicas. Eles podem ter uma pelagem mais espessa ou suas peles podem mudar de cores para que se misturem melhor ao ambiente, como a neve, por exemplo. Os cervos de cauda branca têm uma pelagem acinzentada durante o inverno, que combina bem com a cor dos troncos das árvores da floresta. Sua pelagem muda para mais rica, cinza-avermelhada durante a primavera e o verão, que combina melhor com o tom salpicado do clima quente. Outras adaptações incluem a propensão do esquilo a armazenar nozes e sementes, que fornecem a eles um estoque adequado de alimentos durante o frio ao longo inverno.
- Hibernação: Uma das maneiras mais curiosas pelas quais os animais sobrevivem no inverno é a hibernação. Todos nós sabemos que os ursos hibernam, mas e os outros animais – os cervos hibernam? As marmotas hibernam? Os esquilos hibernam? Não, mas outros animais e insetos sim. Durante a hibernação, o corpo do animal cai em um tipo especial de sono profundo, quando os batimentos cardíacos diminuem, e o consumo de energia também, para se auto-alimentarem da energia extraída da gordura acumulada em tempos de calor. Assim, o sistemas metabólicos desses animais ficam mais lentos para preservar essa energia. Ursos, gambás, esquilos e algumas espécies de morcegos hibernam para conservar energia e esperar até que as fontes de alimento voltem a serem abundantes em seus “habitats”.
Em suma, através do exposto, embora de maneira mais marcante e emblemática no hemisfério norte, percebemos, que os animais, no inverno, mesmo os biológicamente melhor adaptados às intempéries, gostam de calor tanto quanto nós, os humanos “sem pêlos”, ou proteção natural. É por isso que acontece de muitas vezes, aqui no Brasil, muitos animais, principalmente no inverno, procurarem lugares em nossas casa, garagem ou anexos para se protegerem do frio. Muitos animais, como gambás, micos e até mesmo roedores, podem entrar em nossas residências por pequenas aberturas nas cercas e buracos em paredes, ou até mesmo por algum descuido nosso ao deixarmos portas e janelas abertas sem a devida proteção, do contrário, morreriam de frio sem um abrigo adequado. Tampas de chaminés soltas, telhas faltando e aberturas de ventilação abertas são um convite para que os animais adentrem e fixem residência em nossas casas, pelo menos até o frio passar.
É uma ideia inteligente fazer uma inspeção visual simples de sua casa a cada outono para que se evite surpresas assustadoras, mas, que tenhamos também sensibilidade para que possamos, conscientemente, promover abrigo para esses “amiguinhos.
Casa você encontre um ou outro animal silvestre em sua casa, não entre em pânico, acione as autoridade e eles, de maneira adequadas serão capazes de capturar de forma segura a essas criaturinhas, e encaminha-las para um abrigo onde elas possam estar protegidas e receberem os cuidados especiais.
No último caso, quando você mesmo tiver feito a captura, você pode transporta-las de maneira segura para longe de sua casa e solta-las de volta a natureza.
E quanto aos animais domésticados?
Iniciamos como uma pergunta para te fazer refletir: Qual de nós conseguiríamos nos imaginar passando uma única noite expostos no tempo nesse intenso inverno em que atravessamos, em que as baixas temperaturas vem batendo recordes, mesmo dentro de nossas casas?
Felizmente, nós, humanos, desenvolvemos e temos recursos e inteligência suficientes para podermos fazer a nossa parte, adaptando nossas instalações a ponto de amenizar, ou neutralizar os efeitos do frio nesta estação do ano.
E nossos amigos peludos e sem-teto?
Nós, os amantes dos animais, quando vemos nossos amiguinhos abandonados pelas ruas, o primeiro pensamento que pode passar por nossas cabeças, é pegar cada animalzinho desses, que vemos abandonado no frio e levá-los para nossas casas e garantir-lhes abrigo, ou pelo menos um lugar quentinho para dormir; . No entanto, existem no Brasil milhões de animais abandonados, e os abrigos (quando existem), como sabemos, encontram-se na maioria das vezes, superlotados. Por mais que queiramos, nós não teríamos condições de recolher a todos para o aconchego de nossos lares. O máximo que as vezes podemos fazer, é selecionarmos e dedicar uma maior atenção á aqueles, com os quais nos deparamos expostos a maiores vulnerábilidades, aparentando estarem doente, e precisando com maior urgência de uma mão amiga. Neste caso, podemos também ligar para os centros especializados no acolhimento aos animais de nossos município, o que já seria um bom começo.
A realidade, dolorosa, porém, verdadeira, é que no Brasil, não há garantia de que um abrigo possa acolher todos os animais abandonados pelas ruas, mas ainda assim, podemos ser os “Bons Samaritanos“, que hão de dar os primeiros socorros. Encontrar lares para animais sem-teto, em nossa cultura, ainda é um árduo desafio, pois, os espaços são limitados em cada abrigo e existe ainda, um padrão básico de qualidade de atendimento que não pode ser prejudicado, ou comprometido por uma superlotação. Por isso sugerimos sempre que os “Bons Samaritanos” estejam sempre preparados para a possibilidade de ter que cuidar, ou dar os primeiros socorros a essas criaturinhas desamparadas – seja porque o seu abrigo local está lotado ou porque têm uma longa lista de espera. Se você conseguir evitar que eles permaneçam ao tempo, já é válido. Após a acolhida inicial, certifique-se de encaminha-los a um centro veterinário local, para se certificar de que eles são saudáveis o suficiente para encaminha-los a doação, ou mantê-lo no mesmo ambiente junto a algum outro animal de estimação.
Se você é como eu e minha família e tem um bichinho que manda na sua cas,a e portanto, não permite a presença, ou chegada de um outro “convidado” peludinho, assim, repentinamente, a melhor forma de ajudar os bichinhos de rua neste inverno, inicialmente será dando comida, água e abrigo emergencial. Especialmente para cães e gatos, deve-se fornecer um abrigo aquecido, que é a maneira mais benéfica de garantir uma temporada segura e imediata para mantê-los saudáveis o suficiente, e assim combater possíveis infecções e doenças durante os dias mais frios, além de ajudá-los a conservar energia suficiente para que eles possam depois aplicar na busca por alimentos, ou até conseguirem um novo lar.
Dica de profissional: evite deixar alimentos perecíveis do lado de fora durante o inverno, ou em períodos de chuvas, pois podem fermentar, e se deteriorarem, o que pode vir a causar um dano maior aos bichinhos, intoxicando-os.
E umas das dicas mais importantes, embora paliativas nesse evento emergencial, é construir um abrigo provisório para animais de estimação sem-teto, o que é fácil, barato e acessível, e temos muito acessos a materiais, como, caixa de papelões e afins, que podem passar por simples adaptações e se transformarem em um “hotelzinho” para essas ilustres figuras.
Caixas de polietileno, podem ser usadas, mas elas, pura e simples, protegem muito pouco do frio. Toalhas e cobertores, também protegem, mas, caso estejam sob uma geada, ou garôa, elas retêm a umidade e não fornecem isolamento adequado. Você pode sim usa-las, mas terá que ter uma vigilância e monitoramento especial para garantir que permanecerão secas durante o período frio, caso você encontre, ou disponibilize de caixas de isopor, obviamente adaptadas com aberturas para refrigeração (suspiros), serão melhores ainda.
É muito importante, que, como defensores dos animais, façamos nossa parte para acolher e cuidar dessas criaturinhas de Deus, abandonadas sem-teto durante todo o ano, mas especialmente neste período, quando nossos amiguinhos precisam de uma proteção adicional contra os elementos nocivos do frio.
Neste inverno, e sempre que puder, unamos forças, e trabalhemos para combater a superpopulação indiscriminada de animais de estimação e fornecer o mínimo de dignidade “humana”aos animaizinhos desabrigados, para que eles possam conhecer afeto, calor humano, e a simples alegria de terem suas barriguinhas cheias e um lugar quentinho para dormirem, além de se livrarem também de dores físicas e emocionais em suas vidas.
A Dra. Letícia Morethson – CRMV 22 171– É formada em Medicina Veterinária pela faculdade Vértice Matipó – MG na Zona da Mata Mineira, entre os anos de 2015-2020. Pós graduanda em inspeção e tecnologia de produtos de origem animal pela instituição IFOPE. Atua em Minas Gerais.