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Morreu Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, aos 80 anos.

Era o “homem mais elegante e uma companhia brilhante”, emocionou-se o cantor Elton John, num tweet de condolências à família. “É um dia muito triste”.

Por RTP 24/08/2021

Morreu aos 80 anos o músico britânico Charlie Watts, baterista da mítica banda The Rolling Stones, anunciou esta terça-feira o seu agente.”É com imensa tristeza que anunciamos a morte do nosso estimado Charlie Watts. Ele morreu hoje pacificamente num hospital de Londres rodeado pela família“, adiantou o porta-voz do músico, citado pela agência Reuters.

“Charlie foi um amado marido, pai e avô e, como membro dos Rolling Stones, um dos maiores bateristas da sua geração“, acrescentou Bernard Doherty, em comunicado.
“Pedimos respeitosamente que a privacidade da sua família, membros da banda e amigos mais próximos seja respeitada nesta hora difícil”, solicitou. A banda tinha anunciado, no começo deste mês, que Watts não iria participar na digressão norte-americana, por estar a recuperar de um procedimento médico, sendo substituído pelo músico Steve Jordan.

Charlie Watts começou por estudar artes gráficas ao mesmo tempo que tocava bateria em clubes londrinos de rhythm&blues.

Foi aí que conheceu Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards, com quem viria a formar, em janeiro 1963, a banda icónica Rolling Stones.

Foi o único membro do grupo, além de Jagger e Richards, a participar em todos os álbuns de estúdio.
“Vais fazer falta”
Era o “homem mais elegante e uma companhia brilhante”, emocionou-se o cantor Elton John, num tweet de condolências à família. “É um dia muito triste“.

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“Deus te abençoe Charlie Watts, vais fazer-nos falta”, reagiu no Facebook Ringo Starr, baterista dos Beatles, desejando à família de Watts “paz e amor”.

Também Liam Gallagher, vocalista do grupo Oasis, e os Kiss renderam homenagem nas suas contas oficiais do Twitter. “RIP Charlie Watts”, escreveram.
Paul McCartney enviou “muito amor à família” e condolências aos Stones, para quem “Charlie era uma rocha”. Joan Jett lembrou-o como “o mais elegante e digno baterista no rock”.

O músico Perry Farrell, de Jane`s Addiction, escreveu, no Twitter, que um baterista é “o segredo de uma banda: não há grandeza sem um grande baterista”.

John Fogerty, dos Creedence Clearwater Revival, recordou Watts como “um dos grandes bateristas, cuja falta será sentida”, enquanto o ator e ex-membro dos Monty Python Eric Idle o classificou como um “homem generoso e gentil”.O autodidata viciado em jazz
A sua maior influência no estilo na bateria, reconhecida pelo próprio, foi o jazz. Watts manteve-se fiel a esse primeiro amor e formou mesmo o Charlie Watts Quintet, com o qual realizou vários espetáculos, desde logo no Ronnie Scott´s Jazz Club. Gravou vários discos com ambos os grupos.


Nascido a 2 de junho de 1941, em Londres, o músico sempre sonhou com o jazz, sobretudo com o swing, desde que começou aos 13 anos a ouvir Duke Ellington, Chet Baker e Charlie Parker, apresentados pelo seu vizinho, Dave Green, com quem viria a formar o quarteto “The A, B, C & D of Boogie-Woogie” 30 anos depois.

“Era o que sonhávamos fazer”, reconheceu Watts em 2011 à agência France Presse.Baterista autodidata, aprendeu a tocar de ouvido e a olhar a técnica dos bateristas de jazz na cena londrina. “Nunca fui aprender a tocar jazz numa escola. Não é disso que gosto. O que gosto no jazz é a emoção”, explicou à AFP.

Além de baterista, Watts desenhou e concebeu as primeiras capas dos discos e as apresentações em palco do grupo.

Casado há mais de 50 anos com Shirley Sheperd e pai de Seraphina, Charlie Watts contrastou sempre com os seus excênticos parceiros de banda, “a calma no meio da tempestade dos Rolling Stones, tanto em palco como fora dele”, nas palavras evocativas do jornal Mirror, em 2012.

Não passou contudo completamente incólume ao ambiente frenético e de dependência vivido no grupo.

Nos anos 80 submeteu-se a uma cura de desintoxicação de heroína e do álcool. Garantiu depois que nunca recaiu. “Foi uma fase muito breve para mim. Limitei-me a parar, não era importante para mim“, referiu.

Em 2004 Watts sobreviveu a um cancro na garganta e veio depois a figurar não só nos discos lançados pela banda desde então (“A Bigger Bang”, de 2005, e “Blue & Lonesome”, de 2016), mas também editou trabalhos em nome próprio, acompanhado por outros coletivos, com destaque para o aclamado disco com a Danish Radio Big Band, de 2010.Vontade de abandonar
Ao longo da sua carreira com os Rolling Stones, o baterista nunca comparou desvaforavelmente a presença nos palcos dos estádios com os palcos intimistas dos clubes de jazz. “Não são assim tão diferentes”, dizia.

Contudo, por várias vezes pensou abandonar a banda. “Anunciar que um dado concerto seria o último não seria uma tristeza assim tão grande. Continuaria a ser o mesmo de ontem ou de hoje”, afirmou em 2018 à revista New Musical Express, numa altura em que o grupo de septuagenários preparava uma nova tournée.

Considerado como o 12.º melhor baterista de todos os tempos pela revista Rolling Stone, Charlie Watts, que tocava com as baquetas invertidas, reconheceu ter várias vezes tido a tentação de abandonar a banda que ajudou a fundar em 1963.

“No fim de cada tournée, ia-me embora. Trabalhávamos seis meses nos Estados Unidos e dizia para mim próprio, acabou, volto para casa. Depois, duas semanas mais tarde, começava a andar às voltas e a minha mulher dizia-me. Porque não voltas a trabalhar? És um pesadelo“.

Watts gostava de colecionar carros, apesar de não conduzir, tinha cavalos na sua propriedade em Devon, no Reino Unido, e pouca paciência para solos longos ou atenção de qualquer género, mas esteve na origem de vários dos ritmos mais marcantes do rock, como “Honky Tonk Women” e “Brown Sugar”, entre outros.
O “meu baterista”
Citado no livro “According to the Rolling Stones”, por sua vez mencionado no New York Times, Charlie Watts assumia que “adorava tocar com o Keith e a banda — ainda adoro -, mas não tinha interesse em ser um ídolo pop, sentado ali com raparigas a gritar. Não é o mundo de onde venho. Não é o que queria ser e ainda acho isso tolo”.”Tanto quanto a voz do Mick e a guitarra do Keith, o som da bateria de Charlie Watts é os Rolling Stones”, escreveu Bruce Springsteen na introdução do livro do baterista Max Weinberg, “The Big Beat”, em 1991, como lembra o diário nova-iorquino.

A agência norte-americana Associated Press destaca que Jagger e Richards, por vezes, pareciam concordar com pouca coisa, mas a sua admiração por Watts era um dos tópicos sobre os quais se encontravam na mesma página. Keith Richards chamava-lhe “a chave”.

Segundo a autobiografia de Richards, Charlie Watts protagonizou um dos momentos mais memoráveis do trio fora do palco, quando, em 1984, depois de uma noite em que o vocalista e o guitarrista dos Rolling Stones só voltaram às 05:00 ao hotel de Amesterdão onde estavam a ficar, Jagger decidiu telefonar para o quarto de Watts e perguntar: “Onde está o meu baterista?”

Vinte minutos depois, Watts, o taciturno, bateu-lhes à porta do quarto, “impecavelmente vestido”, entrou, passando por Richards, agarrou Jagger pelos colarinhos e disse-lhe: “nunca me chames o teu baterista!”, antes de o atingir com um murro de direita.

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