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“Na política não existe apoio incondicional” – Maquiavel – Por Kossi Telou

Um político que tem bons interesses para república como recomenda Maquiavel, não deveria buscar um amor incondicional de seus concidadãos

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil, 03/09/2021


Na concepção popular, geralmente confunde-se a religião, a torcida organizada movidas por devoções, crenças incondicionais com a política.

A religião é uma crença herdada que carrega uma identidade, uma intimidade. De acordo com Mark Twain, “a fé é acreditar naquilo que não é”, ou seja, a fé foge de qualquer forma de racionalidade. Ela pode trazer para seus adeptos uma certa esperança, um certo conforto… tudo isso é reconhecido e respeitado. Em certas circunstâncias em nome da mesma, os adeptos podem se livrar em “guerras santas” como por exemplo na Europa do século 17 com a guerra dos trenta anos.

A paixão por um time mesmo sendo inexplicável é reconhecida e respeitada. Esse sentimento é um amor incondicional pois mesmo perdendo ou ganhando em nome dessa devoção o amor pela aquela camisa é o mesmo. As vezes em certas circunstâncias, em nome desse amor o torcedor pode cruzar os limites do aceitável com facilidade e naturalidade.

Mas a política é um campo de conhecimento de estudo racional que não combina com as crenças, as emoções, as visões transcendentais do mundo. A política é um campo de ideias, de inteligência, de estratégia, de jogo de interesses. É um encontro de ideias não para um interesse metafísico individual, nem de prazeres pessoais, mas de construção de um espaço de equilíbrio racional de interesse coletivo preservando as individualidades.

Pode existir a sua religião de estimação, o seu time de coração pela qual fará qualquer loucura e com certeza responderá diante a lei por isso mas não pode e nem deve existir o seu político de estimação pois dentro de uma república não pode existir um político pelo qual pode fazer qualquer loucura.
Um político que tem bons interesses para república como recomenda Maquiavel, não deveria buscar um amor incondicional de seus concidadãos. Não deveria procurar ser um mito, um populista amado, seguidores fanáticos.

Analisando a história pode ser observado de que, desde a antiguidade até a nossa era os reis, imperadores, chefes de Estados sempre tiverem essa tendência de se tornar para os seus concidadãos deuses, ídolos, líderes de poder absoluto, populistas amados, endeusados em vez de servir.

Estes geralmente dentro de um certo carisma podem de acordo com o seu grau de conhecimento mentir, enganar o povo mesmo assim continuarão sendo aplaudidos pois bem construíram para suas ambições políticas legiões de seguidores que têm dificuldade de questionar, ou criticar as suas ações políticas.

Nicolau Maquiavél

Estes políticos geralmente não gostam de debates de ideias pois não têm argumentos, faltam conhecimento logo costumem fazer uso de linguagem e ditados populares: giras, gritos, palavrões, expressões menos correntes do tipo “o meu povo me ama, Deus em primeiro lugar, o povo me pediu para voltar para o poder sendo que a pessoa está fazendo o seu quinto mandato. Isso se observa nas ditaduras africanas por exemplo”. Essas colocações que aguçam as polaridades, criam um certo medo, um caos emocional e propiciam um espaço adequado para as ambições desses “Lobos políticos”. Eles adoram usar expressões metafísicas do tipo “eu sou o escolhido de deus, eu recebi uma missão de deus para o povo, costumem designar uma religião oficial para república…”. Esses tipos de Reis na idade média se davam até o título de “Deus” ou representantes direto de Deus na terra. Estratégias de comunicação que inspira devoção, o culto da figura política.

Esse fenômeno é ainda uma perigosa armadilha mesmo nas democracias mais avançadas.

Escolhemos um político hoje, amanhã será um outro dentro de um jogo democrático pensado, dentro de uma racionalidade, dentro de debates de ideias, de interesses almejados e expressados por meio da legalidade e da legitimidade, para que a república possa dar um salto de emancipação e de progresso.

Então será inteligente tomar cuidado com o velho deitado que fala, “a religião, o futebol e a política não se discutem”. Dentro da “lógica” religiosa se morrer ganha sozinho a sua recompensa, no futebol o time ganha somente para seus seguidores mas na república a democracia ganha para todos, o politico no qual você votou não governará só para você, mas para todos.

Dito isso, podemos entender que, não podemos trazer a política para o campo dos deuses, das paixões que se tornam mitos, políticos de coração, de estimação. o fundamentalismo, o fanatismo, o populismo não estão distantes. Crenças e ditados populares que as vezes mal concebidas até mesmo que fazem senso dentro de uma época, podem ainda hoje destruir a ideia de uma república democrática.

Num Estado de direito os cidadãos construam com os políticos por meios de debates inteligentes e coerentes as propostas para o futuro coletivo, as instituições republicanas (os três poderes, as forças armadas) não devem incondicionalmente apoiar um indivíduo nem um partido político. A sua função está estritamente a cima de qualquer influência individual ou dos partidos políticos de acordo com a lei maior, a constituição. Por exemplo na China as forças armas são devoto ao partido comunista chinês “PCC” e a sua função diante o resto da população é de acordo com o que PCC decidir. O que numa democracia seria fatal para os valores democráticos.

No Estado democrático, não há jogo de soma zero, há obrigatoriedade de debates de ideias para encontrar propostas inteligentes, inclusivas, para a emancipação de uma Nação.

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Kossi Essodina Telou é Internacionalista, Empresário, Palestrante, Consultor em Negocios Internacionais e Colunista de honra do Jornal Clarín Brasil – JCB News

Sugestões ou dúvidas, escreva para: redacao@jornalclarinbrasil.com.br

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