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A RUA DE ANITA – Por Angeli Rose

Às vezes, o professor não tem ideia dos problemas que pode criar entre alunos por causa de uma “boa ideia”.

Por Angeli Rose/Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil , 11/09/2021

Morávamos em Vila Isabel, terra de Noel (Rosa),como a rima sempre pede. Eu contava 10 anos e meu irmão mais velho, 12 anos, talvez. A nossa rua era íngreme e de paralelepípedo. O nome fora dado em homenagem ao músico Luís Barbosa, artista radiofônico doas anos 30, o primeiro a fazer do chapéu um pandeiro. Aliás, sob essa curiosidade de menina que essa crônica é movida.

Minha mãe ganhara de meu pai um apartamento em Copacabana. E como é próprio dela, ao estilo da piada “O gato subiu no telhado…”, começou a contar alguns detalhes sobre a possibilidade de mudarmos de bairro e partirmos para o outro lado da cidade, a zona Sul. Ao longo do dia, dava notícias sobre o novo apê, sonho de toda a classe média em ascensão. Copacabana era o centro das atenções, como “princesinha do mar”. A rua do apartamento, futura morada da família, era Anita Garibaldi. E me intrigou o nome ser de mulher. Até então eu conhecia, ou melhor, o que mais eu prestava atenção era que muitos nomes de ruas nos bairros por que circulava eram de homens, santos ou santas, ou numerais de datas importantes para alguém. A mais óbvia, acho que todos sabem, é a avenida, ou boulevard, “28 de Setembro” que recebeu esse nome em homenagem ao dia de 1871, quando a Lei do Ventre Livre foi assinada. E a rua de Anita?

Então, foi naquele momento de revelação do nome da rua que a menina em mim ficou encucada. Depois, manteve-se encafifada achando que havia uma história a desbravar sobre aquela mulher do nome. E foi o que fiz. Naquela semana fui direto perguntar à professora quem tinha sido Anita Garibaldi. A ela dei a deixa e propôs-me o desafio de pesquisar sobre o nome e a personagem histórica. Em seguida, aproveitou para fazer o mesmo com a turma. Estávamos todos com um dever de casa por causa da Rua Anita Garibaldi. Às vezes, o professor não tem ideia dos problemas que pode criar entre alunos por causa de uma “boa ideia”. Nós, crianças, ou já pré-adolescentes, como agora identificamos a faixa etária em que me encontrava, queremos atividades mais lúdicas e divertidas, aprender acaba sendo o plano B da socialização na escola. Sentia assim o tempo passado.

Aprendi sobre Anita Garibaldi. Aprendi mais sobre a cidade em que moro, o Rio de Janeiro. Aprendi sobre mulheres que lutam por seus ideais. Contei para a minha mãe sobre quem fora Anita Garibaldi. Conversei na escola sobre a guerreira de botas longas que nascera em Laguna, cidade de Santa Catarina. A mesma que lutou e esteve envolvida com a Guerra dos Farrapos. Aquela que resistira ao lado do marido por anos em prol da liberdade. As enciclopédias consultadas referiam-se a ela, Anita, como a guerreira de episódios fortes, para a biografia de uma mulher em sua época (1821-1849). Recordo ainda que me impactou ter lido em algum livro que a guerreira e heroína brasileira casou-se duas vezes, chegando a fugir com o segundo marido, por saber da contrariedade de seus pais à paixão que lhe consumia por Giuseppe, o italiano que ganhou seu coração, fazendo-a largar o sapateiro, primeiro marido.

Créditos arte : Michelle Angellilo

E a rua de Anita em Copacabana? Fomos para lá por poucos meses. A mim e ao meu irmão, não nos atraía a possibilidade de mudar de escola. Os critérios infanto-juvenis nem sempre foram próximos dos crivos adultos. E daqueles poucos meses em que experimentamos o bairro da praia, durante as férias escolares, tenho apenas uma forte memória: Um dos agentes do Dops sair do apartamento ao lado nas madrugadas para caçar comunistas. Muito tempo depois compreendi o exemplo de Anita Garibaldi com sua força e exemplo de determinação, principalmente, na luta por liberdade e a condição da mulher através da história.

A crônica apresentada esta semana homenageia o Bicentenário de Anita Garibaldi no último dia 30 de agosto [https://pt.wikipedia.org/wiki/Anita_Garibaldi] e ganhou o 2º. Lugar no Concurso Anita Garibaldi: Uma mulher à frente do seu Tempo, promovido pela Associação de Jornalistas e Escritoras de Santa Catarina (AJEB-SC). A entidade lançou no último 28 de agosto a coletânea de mesmo nome do concurso da qual nós, premiadas, participamos [https://www.facebook.com/ajebsc/ ]

Angeli Rose é carioca, geminiana, colunista do Jornal Clarín Brasil – JCB News (digital), a convite do amigo e escritor Paulo Siuves – presidente da AMBA; professora há mais de 25 anos de Literatura Brasileira e Língua Portuguesa; pesquisadora (UFRJ), Ph.D. em Educação(UFRJ);Dra. Em Letras(PUC-Rio);Especialista em Jornalismo Cultural(UERJ) ,entre outras formações. É Multi Dh.C em Literatura, Educação(FEBACLA) e Belas Artes(CONCLAB/CONNINTER); é Embaixadora da Paz (OMDH),além de diversos outros títulos honoríficos que tem recebido pelo seu destaque como ativista cultural e literário. Recentemente também foi agraciada com o prêmio de Menção Honrosa do Concurso da Coletânea Rede Sem Fronteiras, categoria Crônica, exposta e à venda no estande (D-51) da Rede Sem Fronteiras (RSF) na 91ª. Feira de Livros de Portugal(de 26/8 a 12/9). A ativista cultural e feminista também é fundadora e coordenadora geral do Coletivo Mulheres Artistas, além de recentemente ter fundado o Instituto Internacional Cultura Em Movimento, novo espaço de cultura, do qual é Presidente, ao lado de amigos e, especialmente, a Prof.Dra.Luciana Marino Nascimento(UFRJ),Vice-Presidente. Siga @angeliroseescritora   //http://lattes.cnpq.br/4872899612204008 

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