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BICHOS SOLTOS – Por Paulo Siuves

‘Tivemos alguns pintinhos, daqueles amarelinhos, que a gente trocava por garrafas. Entregávamos algumas garrafas e recebíamos em troca alguns pintinhos. Quem viveu em Belo Horizonte nos idos de 70’s ou 80’s sabe do que estou falando’

Por Paulo Siuves/Jornal Clarín Brasil JCB News – Belo Horizonte, 13/09/2021

Desde sempre convivo com animais em casa, não me lembro de um período em que estive sem ter por perto um bichinho qualquer, um peixinho num aquário que fosse… Aliás, nem sei qual foi meu primeiro amigo de estimação. Cachorro, gato, pato, mico, tartaruga, coelho, camundongo, aves então, foram várias, de vários tipos. Certa vez, meu irmão nos construiu um viveiro e tínhamos passarinhos diversos naquele lugar. No entanto, descobrimos que não gostamos de prisões, não nos damos bem com bichos confinados, presos, enjaulados. Aquele viveiro não podia dar certo. Os passarinhos foram sendo soltos por nós sob a alegação de que estavam fugindo.

Bom mesmo é ter em casa cachorros, gatos, tartarugas, essas criações que vivem soltas pelo quintal, tendo por limites o nosso próprio limite, isto é, o muro do vizinho, isso quando não se decide pela guarda compartilhada com a vizinha, como foi com o meu miquinho. Lembro-me com saudades do Nik de Mello Siuves, nome que minha irmã Helena deu ao miquinho que veio parar no meu ombro no dia da posse do presidente Collor, por isso o Mello no nome.

Os problemas de ter bichinhos soltos são aquelas pessoas que não sabem lidar com essa vida compartilhada. Explico. Tivemos alguns pintinhos, daqueles amarelinhos, que a gente trocava por garrafas. Entregávamos algumas garrafas e recebíamos em troca alguns pintinhos. Quem viveu em Belo Horizonte nos idos de 70’s ou 80’s sabe do que estou falando. Pois bem, viviam piando, soltos, atrás de nós, procurando algo para bicar e engolir, nossa tarefa era evitar que morressem com o papo estourado por tanta comida. Mas, tios e tias que nos visitavam, acabavam pisando em alguns (lembram da Minsk, de Graciliano Ramos?). Pois é, aí tinha choradeira, velório, enterro com direito a velas e tudo mais. Todos os nossos bichinhos eram enterrados com honras familiares. Minha irmã teve um cachorro sem raça definida, que antigamente eram os cachorros “vira-latas”, chamado Shao Lin. Ele morreu envenenado por algum vizinho que se divertia matando os cães do bairro. Meu primo e eu choramos em cima da laje da nossa casa e compusemos uma canção em homenagem ao Shao Lin. Nada que justifique cantar aquilo hoje em dia.

Acho que passei isso para meus filhos, eles adoram seus bichinhos e choram nas despedidas fúnebres. Minha mãe não gostava de bichos de estimação, segundo ela, toda vez que se apega a um bicho, ele morre. Mas, li em algum lugar que eles vivem o suficiente para nos ensinar o sentido real da palavra amor, do que é se doar para o outro, sem reservas. Quem tem gatos sabe o que é ser amado por alguém desprendido, quem tem ao menos um cachorro entende o que é amor fiel, qualquer dono de passarinhos entende o significado de amar em troca de proteção. O ruim dessa história é que não se consegue criar um bicho qualquer para comer, nunca criamos porcos, nem galinhas para o abate. O Nelinho (homenagem ao atacante do Atlético Mineiro), nosso galo carijó da safra dos pintinhos trocados por garrafas, foi parar na panela, uma triste refeição que ninguém comeu…

(Revisão gramatical por Gabriela Scarpelli – gabriela.faria.letras@hotmail.com)

Paulo Siuves é escritor, bacharel em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, presidente da Academia Mineira de Belas Artes, Embaixador Cultural da Academia de Letras do Brasil, músico e agente de segurança pública em Belo Horizonte, e escreve semanalmente para o Jornal Clarín Brasil

paulosiuves@yahoo.com.br

redacao@jornalclarinbrasil.com.br

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6 Replies to “BICHOS SOLTOS – Por Paulo Siuves

  1. Aqui em Penedo-Al,o comum na minha infância era trocar vidros,(garrafas ou alumínio) panelas e tampas velhas por algodão doce.
    Minha criou muitas galinhas para virar refeição.
    Quanto a criar bichos de estimação,sempre tivemos cachorros. Tivemos vários e uma gata que era compartilhada pela vizinhança. A Mimosa passava dias por cada casa na rua,até voltar pra nós. Atualmente,temos a Bibi (homenagem a algum personagem de novela,que não assisti) e meu pai a trata como filha. Ela pode ser tudo,menos perigosa.
    Tivemos cachorros mortos envenenados e outros gatos da rua também morreram com a tal ‘bola’.
    Infelizmente,as pessoas são más e por rixas com vizinhos acabaram matando bichos inocentes.
    Boa semana Paulo!

  2. Concordo plenamente, se temos direito a liberdade todos os seres vivos também. E deve ser repelida toda e qualquer atitude de uso e abuso.
    AMOR E RESPEITO gera gentileza, mas principalmente liberdade.
    QUEM AMA E RESPEITA, A SI E AO PRÓXIMO, LIBERTA!

  3. Essa época de trocar as garrafas por pintinhos era muito boa. Passava o dia catando latas de óleo para trocar. Lá em casa, com 4 crianças, na época cada um tinha um. Só o meu sobreviveu até mamãe e papai manda-lo para a panela, Só soube anos mais tarde que eles tinham comido e não os vizinhos como me contaram.

  4. É uma delícia ler a coluna dominical do amigo Paulo Siuves! Além de agradável, é consistente na sua exposição. Crônicas sempre pertinentes para iniciar a semana. Obrigada!E parabéns!!

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