“Quando criança, conquistou o coração de milhões porque era o símbolo dos refugiados afegãos”
Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 27/11/2021
Sharbat Gula, outrora conhecida apenas como a menina dos olhos verdes que fez capa da National Geographic em 1985, deixou o Afeganistão para se refugiar em território italiano. Hoje, aos 50 anos, viúva e mãe de quatro filhos, Sharbat pediu ajuda para deixar o país depois de os talibãs tomarem o poder.
Em meados dos anos 80, A fotografia de Steve Mccurry imortalizou a menina afegã de 12 anos. Sharbat Gula, tornou-se o rosto do povo que fugia da guerra, quando foi fotografada num campo de refugiados naquele país.
Após uma busca de 17 anos, o fotógrafo Steve McCurry procurou Gula até chegar, em 2002, a uma remota comunidade afegã, onde a encontrou já casada com um padeiro e mãe de três filhas.
Um analista do FBI e o inventor do reconhecimento da íris verificaram e confirmaram a identidade da famosa menina, então encontrada já adulta, disse a National Geographic, à época.
Em 2014 Sharbat, já por motivo de sofrimentos em sua terra natal, tentou fugir do paós, sendo apreendida no Paquistão, onde foi acusada de usar documentação falsa e acabou por ser presa e deportada de regresso ao Afeganistão, em 2016.
Em Cabul, foi recebida por Ashraf Ghani, presidente de então, que lhe entregou as chaves de um novo apartamento.
“Quando criança, conquistou o coração de milhões porque era o símbolo dos refugiados afegãos”, disse Ghani sobre Gulla, na época. “É um privilégio para mim recebê-la. Temos orgulho de ver que ela vive com dignidade e segurança em sua terra natal”, sublinhou.
A era talibã
Depois de os talibãs terem retornado ao poder, em agosto desde ano, Sharbat pediu ajuda para abandonar o país.
Recebida em Roma com os quatro filhos, Sharbat Gula diz sofrer de hepatite C e que o marido faleceu há vários anos.
A Itália foi um dos países ocidentais que transportaram centenas de afegãos para fora do país após a saída das forças americanas e a tomada dos talibãs.
Desde que tomaram o poder, os líderes islamitas disseram que respeitariam os direitos das mulheres, mas de acordo com a Sharia, ou lei islâmica.
Na memória de Gula está a governo talibã entre 1996 a 2001, quando as mulheres estavam proibidas de trabalhar e as meninas vedadas à vida escolar. As mulheres tinham que cobrir o rosto e estar acompanhadas por um parente do sexo masculino quando saíam de casa. Realidades que Sharbat conhece de cor.
Na quinta-feira, o Governo italiano anunciou o resgate da viúva e filhos e acrescentou que a família tinha encontrado um porto seguro.
O gabinete do primeiro-ministro Mario Draghi disse que a Itália organizou a viagem e agora ajudará a integrá-la na vida nova, acrescentou em comunicado.
por Carla Quirino – RTP