Aplausos para quem decidiu parar de fumar e conseguiu, é difícil pra caramba.
Por Paulo Siuves/Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 19/12/2021
A coisa mais sensacional são os aniversários de décadas redondas. Você se lembra, caro leitor, quando completou dez anos? Lembro-me que ganhei uma calça comprida bege, com direito a paletozinho. As tias chegaram com abraços e frases do tipo: “Já está um homenzinho”, e trouxeram as recomendações: “Agora é o novo homem da casa pra ajudar a cuidar da mamãe” e ninguém tinha presentes legais nas mãos. Eram roupas ou outros presentes chatos. Nenhum carrinho, nenhuma bombinha, nada de atrativo divertido.
Aos vinte vieram as cobranças, hora de casar, de trabalhar e ter seu próprio dinheiro, de decidir sobre isso ou aquilo. Ainda bem que ninguém perguntou sobre o meu primeiro milhão, eu sequer sabia desse ordenamento da divina sociedade capitalista. Hora de parar pra pensar em tanta coisa séria. Sei lá… Hoje em dia é tudo meio diferente. Tá tudo misturado, como se meninos fossem homens e homens fossem ainda meninos.
Aos trinta eu estava casado e já era pai, as preocupações eram tantas que não me recordo de muita coisa distinta que valha a pena trazer à baila, que marcava a divisão do fim da segunda década e preparação para o início da terceira. Deixa essa década pra lá. Foi uma época muito turbulenta na minha vida, foi bom ter vivido, mas foi, digamos, “hard core”.
A quarta década foi impressionante. As pessoas esperam que estejamos bem sucedidos na vida, filhos encaminhados, esposa feliz e orgulhosa do maridão, um profissional bem sucedido e pleno. Só não avisaram pra população brasileira que essa a cobrança é generalizada. Eu estava preocupado em terminar o ensino superior e conseguir alguma promoção. Sinceramente, as cobranças muito são pesadas. E todas as coisas que até parecem ser o ideal de vida passam longe de ser a realidade para muita gente, muita gente mesmo. O fantasma do desemprego assusta mais que em idades anteriores, a potência sexual passa a ser uma preocupação adicional (e nem venham com preconceitos machistas porque essa é uma preocupação real), e o que dizer aos pais que viram suas crias irem por caminhos adversos e nada honrosos, diferente do que sonharam? Difícil. Como se não bastasse o preconceito que são obrigados a encarar diante dessa sociedade hipócrita que prega empatia e exibe repugnância cultural diante de pessoas que têm escolhas diferentes das demais, que possuem opiniões diferentes ou comportamentos que se diferem do considerado aceitável pela “maioria”.
Enfim, chegamos ao cinquentenário. Cinquenta anos é uma benção. Meio século de vida. Estou desfrutando dessa imensa liberdade. É o início de uma liberdade surpreendente e eu estou me reconhecendo a cada punhado de dias… Sou narcisista, sou ansioso, sou chato que dói, mas sou divertido tanto quanto chato. Não sou um homem dado a vícios, aliás, estou há doze anos sem nicotina. Êêêêêêêêê!! Aplausos para quem decidiu parar de fumar e conseguiu, é difícil pra caramba. Em suma, espero o meu aniversário de sessenta, daqui a nove anos e meio, com um desejo de viajar muito gritando “eu sobrevivi à pandemia”, e embarcar em outras viagens libertadoras. Afinal, estou conhecendo a liberdade de não ter que dar satisfação do que faço da minha vida somente agora. Filhos criados, netos pra bajular, e mais dias virão. Agradeço a Deus por essas décadas vividas e pelas décadas que virão. Obrigado Deus!
Por Paulo Siuves
(Revisão gramatical por Gabriela Scarpelli – gabriela.faria.letras@hotmail.com)
Paulo Siuves: Natural de Contagem/MG, é escritor, poeta, músico e guarda municipal, atuando na Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte como Flautista. É graduado em Estudos Literários pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG e presidente da Academia Mineira de Belas Artes (AMBA). Publicou os livros ‘O Oráculo de Greg Hobsbawn’ (2011), pela editora CBJE, e ‘Soneto e Canções’ (2020), pela Ramos Editora. Além desses, publicou contos e poemas em mais de cinquenta antologias no