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                SOPROS DA ILHA – Por Angeli Rose

Ao final, o romance amoroso se revela,mas o romance também é escrito e anunciado pelo personagem como “A Moreninha”.

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 22/04/23

                              

Eu costumava encontrar com o Dr. Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho, no jornaleiro perto de casa. Mas antes dessa quase rotina se instalar, fui apresentada ao ídolo do futebol carioca dos idos anos 60 e 70 por um colega de magistério. O ex-jogador e médico do Pinel por 30 anos é pai de um ex-aluno querido do Centro educacional Anísio Teixeira. E de lá pra cá, os encontros fortuitos com Afonsinho aconteceram pelos arredores do Posto 6 de Copacabana.  Isso era antes da Pandemia do Covid-19 chegar a nossas vidas. Eu ainda frequentava bancas de jornais, conversava com o Sr. Claudio e tomava café na padaria Tupy. Hábitos que deixei de lado com o impacto da Pandemia e a incorporação de preparado de tapioca na refeição caseira.

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(Afonsinho, foto de Lúcia Menezes )

Minha admiração por Afonsinho vinha de muito tempo, como Botafoguense que sou. Menina via meu pai, também botafoguense, torcendo pelo time que teve campeonatos conquistados com a força consistente do meia-armador daqueles tempos. Anos depois, adulta e exercendo a docência, algumas conversas foram trocadas e alimentadas, principalmente, com as leituras de sua participação no Carta Capital como colunista. Ali esteve diante de mim o pai ceatiano e a  referência de profissional da saúde e do esporte da esquerda que enfrentara em diferentes momentos o pensamento e a ação autoritários vigente em décadas passadas no futebol e na vida brasileira. 

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Afonsinho em ação,, maio de 1975, saindo do Botafogo e indo para o América.

O ex-jogador e médico já se destacava com projeto na área de saúde importante na Ilha de Paquetá, bairro carioca. Afonsinho trazia os bons sopros de Paquetá reavivando minha memória de leituras infanto-juvenis escolares. O convite recorrente para ir a Paquetá conhecer as atividades culturais de reavivaram as boas lembranças sobre trechos de “A Moreninha”, assim como o filme com Sonia Braga no papel da coquete Carolina, além das 2 novelas inspiradas no romance de Joaquim Manuel de Macedo(de 1965 e de 1975). Embora só tenha recordações da versão de 1975,ano Internacional da Mulher [ http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00132a.pdf  ]: 

Dona Carolina passou uma noite cheia de pena e de cuidados, porém já menos ciumenta e despeitada; a boa avó livrou-a desses tormentos; na hora do chá, fazendo com habilidade e destreza cair a conversação sobre o estudante amado, disse:
 Aquele interessante moço, Carolina, parece pagar-nos bem a amizade que lhe temos, não entendes assim?…
 Minha avó… eu não sei.
 Dize sempre, pensarás acaso de maneira diversa?…
A menina hesitou um instante, e depois respondeu:
 Se ele pagasse bem, teria vindo domingo.
 Eis uma injustiça, Carolina. Desde sábado à noite que Augusto está na cama, prostrado por uma enfermidade cruel.
 Doente?! exclamou a linda Moreninha, extremamente comovida. Doente?… em perigo?…
 Graças a Deus, há dois dias ficou livre dele; hoje já pôde chegar à janela, assim me mandou dizer Filipe.
 Oh! pobre moço!… se não fosse isso teria vindo ver-nos!…” (Cap. 23,A esmeralda e o Camafeu)

É do amor romântico que trata e o texto de 1844, que foi saindo na forma de folhetins, com êxito na recepção da época. E marca a inauguração do Romantismo no Brasil. O romance utiliza o discurso direto amplamente, a fim de conferir mais força, dinamismo e intensidade emocional às cenas desenvolvidas. Neste capítulo final, antes do Epílogo, há o ápice da trama que gira em torno de uma aposta inicial entre Filipe e Augusto, dois dos 4 personagens, estudantes de medicina que vão passar o feriado de Sant’Anna na Ilha de Paquetá. A aposta impunha a escrita de um romance, se um deles não conquistasse uma moça no fim de semana. Ao final, o romance amoroso se revela,mas o romance também é escrito e anunciado pelo personagem como “A Moreninha”. Mais notícias sobre a trama, você poderá ter ao ler o romance de Joaquim Manuel de Macedo.

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(edição Garnier)

Bons sopros; boas palavras. O escritor foi tão bem sucedido com seu romance “A Moreninha” que a partir dele passou a dedicar-se ao ofício de escritor e jornalista. Foi fundador do jornal “A Nação” e, junto de Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre, fundou a Revista Guanabara. Antes , atuava como médico. De Afonsinho, o doutor e jogador, depois colunista em jornal,  passando por Joaquim Manuel de Macedo, também médico e jornalista, todas essas lembranças e boas lembranças de conversas e leituras, registro que vale retornar à ilha, ou ir conhecê-la, caso ainda não tido a oportunidade, ou queira levar as novas gerações para passearem pela bucólica Paquetá. À sombra de amendoeiras, o leitor poderá se deparar com inúmeras atividades culturais que movimentam a Ilha de Paquetá nesse feriado de Tiradentes até junho. E por quê? 

Depois de ocupar alguns noticiários locais com a luta travada pela associação de moradores da ilha para que o governo municipal retomasse os investimentos e preservasse o transporte por barcas em horários plenos, Paquetá está comemorando a vitória de seus anseios com um grande festival cultural , o Outono Cultural [https://ilhadepaqueta.com.br/programacao-outono-cultural/], que reafirma a importância da mobilização popular em nosso tempo. “Respeita Paquetá” alcançou grande parte das reivindicações, favorecendo uma vida mais produtiva e turística na interação entre o Rio de Janeiro e Paquetá. Do cinema à “Comida de Buteco” em curso, passando pela Casa das Artes e o Museu da Comunicação e dos Costumes, Paquetá vai além da Praia da Moreninha hoje. Existe desde 2010,por exemplo, a ONG Paquetá – Ilha da Poesia que está sediada na sede da Academia de Letras ,Ciências e Poesia, numa sala do Hotel Farol.

Entre um capítulo e outro do romance romântico de Macedo, convido o leitor e a leitora a visitarem com as crianças e criar memórias valiosas sobre a nossa carioquice. Do clássico romance de Joaquim de Macedo em que a família poderá conhecer muito sobre a vida da burguesia daqueles tempos a uma reflexão sobre o termo “morena” que os estudos decoloniais também redimensionam como caracterizador da mulher negra (Glossário anti-discriminatório, vol3), embora no romance seja utilizado para sugerir a oposição às mulheres que não são louras e sim de cabelos pretos, uma releitura atenta certamente re-situa a produção romântica em relação ao “Colorismo” que alimenta o racismo em nossa sociedade, e assim valerá preencher o fim de semana com a Ilha de Paquetá em nosso imaginário in loco

[https://viajeibonito.com.br/ilha-de-paqueta-o-que-fazer/ ]

Até a próxima! Vou correndo pegar uma barca pra lá. É pra lá que vou!

ANGELI ROSE é professora, pesquisadora, carioca, mãe de Thiago Krause, tem vários
títulos honoríficos, atua intensamente no âmbito cultural, mas atualmente revê todas as conquistas, redimensiona as escolhas feitas e as parcerias estabelecidas, porque ao final e ao cabo, tudo pode escafeder-se em poucas horas, ou pela guerra mundial, ou pelo individualismo vigente que desmancha tudo o que parece sólido ainda.

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