“Reinventar-se” fora a palavra de ordem no período mais crítico da Pandemia.
Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 11/06/23
A gestão cultural hoje, ”pós-pandemia”, no novo normal em que vivemos enfrenta mais
um fator entre os que já se anunciavam para o século XXI, o da sociabilidade. Se antes
socializar era uma ação desejável e procurada por cidadãos ligados à cena cultural, hoje
nos deparamos com a perda do hábito de estar em companhias, ou “fazendo uma
social”,como a gíria corrente também costuma expressar.
Há também o fato de que o padrão de muitas famílias caiu com o impacto da Pandemia
do Corona vírus pela Covid-19 sobre suas rendas, mais o desemprego, e o temor mesmo
de estar em grande grupos sociais para assistir a um espetáculo,ou ir ao cinema,ou ainda
a um teatro.Isto se deu tanto pela Pandemia, como também pelo modo como o governo
federal anterior e seus seguidores encaravam a cultura, como uma “uma inimiga” ,a
indesejada pras gentes. Porém, isto se deu mais por ignorância, do que propriamente
pela natureza das atividades culturais em seus diferentes graus de comprometimento
com a Democracia. Ignorância até certo ponto, porque sabemos historicamente que é
um projeto da conhecida “Extrema-Direita”, alimentar a ignorância e a alienação entre
os cidadãos. Projeto ideológico que alimenta qualquer tipo de autoritarismo.
(Breve digressão à parte: é possível pensar que o Presidente do Brasil anterior já fora
uma “cria” dessa ideologia conservadora e autoritária. Vê-lo como causa nos tempos
atuais é desconsiderar a história de intervenções militares que nosso país viveu. Isto não
atenua a responsabilidade de Messias Bolsonaro e sua trupe, mas redimensiona as
conseqüências que uma história pouco disseminada pode ter em nossa cultura. )
Entretanto, se de um lado a Cultura, em seu aspecto de entretenimento e mais comercial
conseguiu encontrar pontos de fuga para oferecer produção contínua e virtual durante a
Pandemia, ao lado disto surgia com igual dificuldade o desafio de introduzir as pessoas
de vez no mundo digital, o que não era fácil nem automático. Não havia tempo para a
transição ser feita, a TV aberta com a programação engessada entre telejornais,
programas de variedades, futebol e novelões, não encontrava espaço para adaptar-se
rapidamente à nova realidade impactada pelo isolamento forçado e necessário.
Lembremo-nos de que novelas tiveram de ser interrompidas por conta das gravações
que foram igualmente interrompidas. De outro lado, a produção cultural mais reflexiva e
consistente do ponto de vista da sofisticação estética via-se impedida de usar territórios
mais afeitos a esse tipo de criação.
“Reinventar-se” fora a palavra de ordem no período mais crítico da Pandemia.
E junto a esse caldo, é possível perceber que a caminhada na direção da diversidade e da
pluralidade, rota irreversível dentro das perspectivas mais democráticas, deparou-se
com resistências que poderiam estagnar o processo pelo qual os estudos decoloniais, por
exemplo, são tão responsáveis. Lutar contra o perigo da “história única” (Chimamanda
Nigozi Adchie) é uma luta constante e no nosso caso brasileiro passa por conquistar
políticas públicas que reconheçam a relevância da Arte e o direito a ela, como direito
também fundamental para o desenvolvimento do espírito crítico. E é esse Brasil que
voltou. É nesse Brasil que apostamos.
Ainda não esgotaremos o vasto tema da gestão cultural em seus diferentes níveis nesta
semana, mas é importante deixar como reflexão que tanto do ponto de vista dos
gestores, quer do âmbito privado, quer do âmbito público, como do ponto de vista de
artistas e ativista culturais, que façamos o que façamos o que estará sempre em questão
é o quanto nossas ações contribuem para o fortalecimento do ambiente democrático em
nosso país e nas suas relações como mundo.
Nesse sentido, como fundadora e coordenadora geral do COLETIVO MULHERES
ARTISTAS [@coletivomulheresartistas] e co-fundadora e Presidente do INSTITUTO
INTERNACIONAL CULTURA EM MOVIMENTO- IICEM[www.culturaemmovimento.org], ambas as organizações civis sem fins
lucrativos, pude experimentar as delícias e as agruras de liderar, planejar e realizar,
com princípios que preservassem o norte em direção ao desenvolvimento do
pensamento crítico, no intuito de fortalecer o regime democrático, ainda que este esteja
insipiente em na realidade brasileira,como alguns intérpretes do Brasil assim vêem.
Entre as muitas ações virtuais e presenciais que temos realizado, participar de “feiras
culturais” tem sido, sem dúvida, iniciativa animadora e de imensa troca cultural, entre
artistas, gestores, mas também entre culturas diversas na esfera nacional e internacional.
Para tanto, podemos citar a FEIRA VIRTUAL DE LIVROS DA COLÔMBIA [https://www.facebook.com/FeriaVirtualdelLibroColombia], em curso, de 2 a 18 de
junho em página própria do Facebook, promovida pela Confederación Internacional Del
Libro Peru; a participação com estande próprio (estande 20) na 29ª. FEIRA DE LIVROS DE RESENDE (RJ) [https://www.feiradolivroderesende.com/]; e mais adiante, participação na Bienal Internacional do Livro RJ,assim como a realização da FELICA,FEIRA LITERÁRIA CARIOCA- IICEM, na sua 2ª. edição este ano.
Entre desafios para estar com as vozes contemporâneas da cena cultural, sabemos o
quanto as “feiras de livros” e culturais em geral fomentam o exercício da cidadania
plena e crítica, além de entendermos que o audiovisual é parceiro na formação de
público leitor crítico e não adversário.
Convido você, leitor e leitora, para visitar-nos em nossas iniciativas e, quiçá, animar-se
a colaborar com os projetos, principalmente, dessas duas organizações civis e sem fins
lucrativos: IICEM e o CMA. Visite-nos na FVLCOLOMBIA,ou na FLIR.
Até lá!
ANGELI ROSE é professora, pesquisadora, carioca, mãe de Thiago Krause, tem vários
títulos honoríficos, atua intensamente no âmbito cultural, mas atualmente revê todas as conquistas, redimensiona as escolhas feitas e as parcerias estabelecidas, porque ao final e ao cabo, tudo pode escafeder-se em poucas horas, ou pela guerra mundial, ou pelo individualismo vigente que desmancha tudo o que parece sólido ainda.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”