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UMA MEMORÁVEL VIAGEM DE ÔNIBUS – Por Paulo Siuves

Ela se acomodou no assento ao lado dele, e a conversa continuou a fluir de maneira natural. Para sua surpresa, ela sabia o nome dele, mas ele já havia esquecido o dela.

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 11/06/23

Havia comprado minha primeira moto lá em 2006, faz bastante tempo. Entre tombos e aventuras, fui me adaptando ao uso desse meio de transporte urbano prático e mais rápido que os demais. Embora reconheça que seja um pouco mais caro que andar de bicicleta – por razões óbvias. Com o passar dos anos, percebi que muitos dos meus amigos e até meus sobrinhos também se renderam à praticidade da moto, utilizando-a para se deslocarem entre casa e trabalho, entre casa e escola, e em muitas outras ocasiões. No entanto, confesso que, em dias de chuva ou quando minha moto estava passando por manutenção, não hesitava em recorrer ao uso do ônibus.

Porém, tinha um amigo que nutria um verdadeiro ódio, declara-se inimigo desse transporte coletivo. Ele alegava que não havia conforto, privacidade ou sequer um momento de paz. Sempre reclamava que alguém tentava ler o título do livro que ele carregava ou ouvir o que estava tocando em seus fones de ouvido. Além disso, abominava quando pessoas desconhecidas tentavam puxar conversa durante a viagem. Não suportava nem mesmo quando o assunto se voltava para o governo e suas ações políticas, algo que definitivamente não lhe agradava. Embora gostasse de futebol, ele não conseguia lidar com a falta de conhecimento ou habilidade de alguns passageiros para debater sobre o assunto. Odiar andar de ônibus era quase um mantra para ele.

Um dia, contrariando sua preferência, sua moto precisou passar por revisão e ele se viu impelido a ir de ônibus para o trabalho, deixando o carro na garagem para economizar combustível. Ao entrar no coletivo, encontrou um assento junto à janela e mergulhou no mundo da música que ecoava em seus fones de ouvido. O ônibus ainda estava percorrendo as ruas do bairro quando parou em um ponto para a entrada de novos passageiros. Observou que muitos deles tinham expressões cansadas e frustradas, provavelmente a caminho do trabalho ou da escola. Alguns pareciam buscar socorro médico, enquanto poucos, bem poucos, aparentavam estar a passeio. Foi nesse momento que uma mulher morena e deslumbrante adentrou o veículo, e seus olhares se cruzaram. Ela exibia um sorriso que não era comum de se ver, e ele logo pensou: “Será que ela está me confundindo com alguém?”. Mesmo assim, não pôde resistir e retribuiu o sorriso. Ela se sentou ao seu lado e iniciou uma conversa:

– Como estão as coisas? Já faz um tempo que não te vejo. Aliás, saí do supermercado há alguns meses… – disse ela, com um sorriso acolhedor nos lábios.

– Ele ficou surpreso com o fato de ela se lembrar dele, mesmo depois de tanto tempo.

– Pois é! Também não te vi desde então… – respondeu, sentindo-se intrigado

Ela se acomodou no assento ao lado dele, e a conversa continuou a fluir de maneira natural. Para sua surpresa, ela sabia o nome dele, mas ele já havia esquecido o dela.

– E então, Fernando, eu tenho dois ingressos para o pagode no Mineirinho e queria ver se você está afim de ir comigo. O que acha?

Aquela viagem de ônibus começou sem vestígios de que seria memorável. Era para ser apenas mais um dia comum, uma viagem cotidiana em um transporte que ele tanto rejeitava. No entanto, a presença daquela passageira tão encantadora, uma moradora do mesmo bairro, fazendo um convite tão inesperado, mudou tudo. Naquele momento, ele encontrou um motivo para não dizer mais que odeia andar de ônibus. A viagem se tornou maravilhosa.

Os dois compartilharam histórias, risadas e descobriram afinidades em meio àquele ambiente improvável. Uma conexão especial se formava, guiada pelo acaso, mas alimentada pela curiosidade e pela vontade de viver novas experiências. Ele havia encontrado um novo propósito e uma conexão especial, mal podiam esperar para desvendar os mistérios que aguardavam no desenrolar daquele destino compartilhado. Iria ao show ao lado dela, que se converteria não apenas em sua companheira de danças, mas em sua amada, seu grande amor.

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Paulo Siuves nasceu em julho de 1971 na cidade de Contagem, Minas Gerais, e é bacharel em Letras pela UFMG. Além disso, ele é autor de dois livros e organizador de coletâneas. Atua como servidor público municipal e faz parte da Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte. Paulo Siuves é colunista nos jornais Clarin Brasil e Cultural Rol. Ele possui um Ph.I. em Filosofia Universal e um Dr.H.C. em literatura. Paulo Siuves é ex-presidente e membro fundador da Academia Mineira de Belas Artes (AMBA) e também é membro da Academia de Letras do Brasil nas seccionais Suíça, Minas Gerais (RMBH) e Campos dos Goytacazes/RJ, além de pertencer a muitas outras academias.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”

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One Reply to “UMA MEMORÁVEL VIAGEM DE ÔNIBUS – Por Paulo Siuves

  1. Ainda bem que teve um final feliz… Eu deixei de andar de ônibus por fobia e ansiedade, descia de três a quatro paradas já mortinha pra pegar outro e prosseguir para o trabalho,depois de respirar fundo e contorcer as maos pura um tempo . Já pra ter um troço dentro do ônibus decidir tirar carteira de motorista e meses 10 anos não mais andei de ônibus e uma aposta de amigas duvidaram que eu superaria tanta ansiedade em um carro…e perderam,nunca mais tive crises …
    Não deixa de ser tbm um final feliz né ?

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