A organização chefiada pelos traficantes envolvia o “emprego de armas de fogo, contava com a ajuda de funcionários públicos e mantinha conexão com outras organizações criminosas”, conforme aponta denúncia do MPF
Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 10/07/23
Ministério Público Federal (MPF) enviou denúncia a Justiça que detalhou a relação de Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” ou “Dom”, com dois dos mais poderosos narcotraficantes de drogas atuantes na linha de fronteira entre Brasil e Paraguai. Só neste ano, Motinha escapou duas vezes de tentativas de captura das autoridades de segurança.
Conforme os dados da operação “Helix”, da Polícia Federal, há pelo menos 8 anos existe um consórcio do “Clã Mota” junto de nomes como Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro” e o braço direito dele, Caio Bernasconi Braga, o “Fantasma da Fronteira”.
Para a PF, o Clã Mota constituiu organização criminosa que movimentou toneladas de cocaína do Paraguai para portos brasileiros, através das rotas do tráfico de Mato Grosso do Sul e depois para a Europa.
A organização chefiada pelos traficantes envolvia o “emprego de armas de fogo, contava com a ajuda de funcionários públicos e mantinha conexão com outras organizações criminosas”, conforme aponta denúncia do MPF.
A denúncia culminou na Operação Helix, da qual Dom era um dos principais alvos. Quando a força-tarefa foi às ruas, em maio, Dom também conseguiu fugir. Em sua mais recente fuga da PF, usou helicóptero e contou com a ajuda de uma milícia altamente treinada. Seis deles foram preso, mas outros cinco conseguiram fugir.
MPF aponta que a junção dos criminosos existe, ao menos, desde meados de 2015. Um dos delatores da organização foi o ex-piloto do Primeiro Comando da Capital (PCC), Felipe Ramos Morais – morto em confronto com a polícia em fevereiro desde ano.
Em depoimento ao MPF em Ponta Porã, Morais lembrou da ocasião em que passou a noite na estância Buracão, que pertence ao Clã Mota, em 2018, para “tratar de futuros negócios ligados ao tráfico”. A propriedade fica ao lado da fazenda de Minotauro e a esposa, Maria Alciris, em Pedro Juan Caballero. Maria Alciris ou Maritê seria a gerente dos negócios criminosos do marido, diz a denúncia.
Além de Bernasconi e Minotauro, também participaram do encontro, Dom e o pai dele, Antônio Joaquim da Mota, conhecido como Tonho da Mota. A noite de negócios foi regada a churrasco com carne do frigorífico do patriarca da família Mota, disse Felipe.
Durante a conversa com o ex-piloto do PCC, Tonho da Mota teria dito que “mexia com tráfico fazia tempo, havia dado uma parada e estava voltando a mexer com tráfico”. Tonho ainda confidenciou que tinha medo de seu filho (Dom) ser preso, por isso estava “dando um suporte para Motinha”.
Antônio teria dito que estava fazendo uma parceria com Minotauro, mirando em uma nova parceria internacional para exportação de drogas. No depoimento ao MPF, Felipe ainda disse ter ouvido uma conversa entre Tonho e Motinha sobre uma operação que eles estavam começando na Guatemala.
Na data em que esteve na fazenda do Clã Mota, a pedido de Minotauro, Felipe estava foragido e vivia em Portugal. Para conseguir participar do encontro, ele foi para Madri, desembarcou em Assunção (PY) e seguiu até a estância.
Clã Mota
Quando Minotauro teve o celular apreendido, a PF encontrou o codinome de Motinha em suas planilhas do tráfico. Da mesma forma, nas agendas apreendidas na casa de Motinha, aparece o nome de Caio Bernasconi Braga.
O crime era tão organizado que tinha planilha de despesas e nela, havia pagamentos a cinco integrantes do alto escalão do Clã Mota.
Outro argumento elencado pelo MPF na denúncia para embasar a relação entre os criminosos são as trocas de mensagens de Dom com Maritê, a esposa e gerente da organização criminoso de Minotauro. Enquanto estava foragido, Minotauro conversava com seus interlocutores através da esposa.
Preso em 2019 em Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, Minotauro esta detido em presídio federal. Já o braço direito do traficante, Caio Bernasconi foi detido em maio deste ano, em Ponta Porã, depois de ficar 8 anos foragido. O paradeiro de Dom, no entanto, ainda é um mistério.
Operação Helix
Além de escancarar a relação de Dom e o pai com os dois narcotraficantes, na denúncia de 444 páginas o MPF também faz um retrospecto de quando as atividades criminosas do Clã Mota, entraram no radar da polícia, em meados de 2017.
Por meio de mensagens, documentos, reportagens e inquéritos da PF o Ministério Público Federal traçou a conexão do clã com outros chefes, famílias e demais integrantes das organizações criminosas da região de fronteira do Brasil com o Paraguai, na divisa com Mato Grosso do Sul.
Embasada pela denúncia, a Polícia Federal saiu às ruas em 11 de maio deste ano para cumprir os 10 mandados de prisão e 43 mandados de busca e apreensão da Operação Helix. Além de Mato Grosso do Sul haviam alvos em outros 5 estados.
Durante a operação também foram deferidos o sequestro de diversos bens, como automóveis e helicópteros, e de um imóvel vinculado à organização criminosa, cujos valores estimados ultrapassam R$ 30 milhões, além do bloqueio de valores e contas bancárias das pessoas e empresas envolvidas.