Em meio às incertezas financeiras do início do ano, essa ideia ganhou contornos interessantes
Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 25/02/24
Meu caçula gosta de pets. Temos alguns em casa e já tivemos muitos outros morando
conosco. Em nossa casa, os animais sempre foram mais do que meros mascotes. Luna,
com sua pelagem negra reluzente, é a veterana entre nossos pets. Uma SRD de alma
valente, mistura de Pinscher com Basset. Mas ela não é a protagonista dessa crônica.
Recentemente, nossa casa recebeu um hóspede temporário. Minha sobrinha foi viajar
por uns dias e, para ir tranquila, pediu ao meu filho para ficar com o pet dela aqui em
nossa casa, o animado Theo. Sua chegada trouxe uma nova dinâmica ao lar,
especialmente para Luna, que a gente até esquece qual é o som do latido dela. Luna
encontrou espaço em seu coração para brincar com o novo amigo. Entretanto, como
toda boa história, essa temporada tinha seu fim. Quando chegou o momento da
despedida, Luna não estava preparada para deixar seu companheiro de brincadeiras
partir. Enquanto observava Theo ser colocado na caixa de transporte, ela esperava
ansiosa que iriam todos juntos em mais uma aventura.
Enfim, o Theo foi embora e a solidão de Luna após a partida dele foi palpável, ela ia até
o portão e voltava para a sala, chorava e percorria o caminho. Inconsolável. Eu brinquei
com ela, tentei confortá-la com carinho, meu filho não estava em casa. Naquele
momento, foi a magia da tecnologia que acabou por acalmar seu coração aflito, pedi à
Alexa para “tocar música para acalmar cachorro”. Com a simples solicitação à Alexa,
uma melodia suave preencheu o ambiente, acalmando a inquietação de Luna e
restaurando a paz àqueles enormes olhos jabuticaba.
Enquanto contemplava essa cena, uma reflexão curiosa surgiu em minha mente: “Será
que a Alexa tem música para acalmar os bolsos?” Em meio às incertezas financeiras do
início do ano, essa ideia ganhou contornos interessantes. Fiquei pensando no que a
Alexa poderia me oferecer como musicoterapia monetária. Imaginei uma playlist que,
ao invés de acalmar os corações caninos, pudesse tranquilizar as preocupações
financeiras.
Talvez Martinho da Vila, com seu refrão icônico “…dinheiro na mão é vendaval, é
vendaval…”. Acho que não seria um bom conselho para mim. Hoje, eu estou mais para
o Ultraje a Rigor, com seu tribal refrão “… Mim gosta ganhar dinheiro (dinhero!)” nos
gritos primitivos e miméticos de saudação ao dinheiro. Mas o Roger não pede dinheiro
como o Samuel Rosa pede em sua canção “Esmola”, que mostra a desigualdade social
escancarando o abismo ao cantar “Uma esmola pelo amor de Deus/Uma esmola por
caridade/Uma esmola pro menino, pro ceguinho, pro preto pobre, pro indigente, pro
mendigo, pro desempregado…”.
Seguindo a possível playlist para acalmar o bolso, pensei na alegria de Tim Maia
gritando aos quatro ventos “Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é o que eu
espero”. Romântico que sou, fico torcendo para não me igualar ao César e ao Paulinho,
que cantam “olha o que a vida me ensinou/Dinheiro não compra o amor” sofrendo a
desilusão de haverem sido trocados por outro. Mas estamos em época de carnaval, é
fevereiro, dias de cantar marchinhas como “Me dá um dinheiro aí”, um pedido vindo de
1960 e que ressoa bem pra mim até hoje. Homero, Ivan e Glauco Ferreira, ensinam que
a gente acaba em uma grande confusão quando não se tem controle sobre o vil metal.
Bem, enquanto não descobrimos uma playlist para acalmar os bolsos, resta-nos
desfrutar das melodias que acalmam as almas e compartilhar o amor que nos une, tanto
aos nossos amigos de pelo quanto aos humanos que nos cercam. Como a vida nos
ensina, nem sempre o dinheiro é a resposta para nossos anseios mais profundos, por
isso, eu desejo que ouça com o coração aberto o que Frejat diz: “Eu desejo que você
ganhe dinheiro/Pois é preciso viver também/Que você diga a ele pelo menos uma
vez/Quem é mesmo o dono de quem”.
Então é isso! Há playlist para acalmar os cachorrinhos, mas não há uma para acalmar
bolsos vazios. E você? Queria uma playlist para acalmar o quê?
Paulo Siuves nasceu em julho de 1971 na cidade de Contagem, Minas Gerais, e é bacharel em Letras pela UFMG. Além disso, ele é autor de dois livros e organizador de coletâneas. Atua como servidor público municipal e faz parte da Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte. Paulo Siuves é colunista nos jornais; Jornal Clarin Brasil e Cultural Rol. Ele possui um Ph.I. em Filosofia Universal e um Dr.H.C. em literatura. Paulo Siuves é ex-presidente e membro fundador da Academia Mineira de Belas Artes (AMBA) e também é membro da Academia de Letras do Brasil nas seccionais Suíça, Minas Gerais (RMBH) e Campos dos Goytacazes/RJ, além de pertencer a muitas outras academias.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”