“Sua linguagem emocional e a de seu cônjuge podem ser tão diferentes quanto é o idioma chinês do inglês.”
Jornal Clarín Brasil – 08/09/2024
Fortalecendo a União em Meio às Dificuldades
Paulo Siuves
Outro dia, estive conversando com um amigo muito querido, daquele tipo de amigo que é “mais chegado que um irmão” (Provérbios 18:24). Tínhamos combinado de nos encontrar em minha casa, mas ele me mandou uma mensagem dizendo que, por causa do trabalho, não poderia vir. Ainda assim, seguimos conversando pelo telefone.
Durante nossa conversa, ele me perguntou sobre os desafios do casamento e me questionou de forma sincera: “Será que sou só eu que, às vezes, sinto vontade de voltar a ficar sozinho?”. Ele estava expressando o que muitos homens casados sentem em algum momento: a dificuldade de conciliar as responsabilidades, as diferenças entre marido e mulher, e o desejo de fugir dessas tensões.
Eu respondi que ele não era o único a sentir isso. Também passo por esses momentos de tensão e desejo de solidão, mas reforcei que essas dificuldades fazem parte da jornada de dois adultos, criados em contextos diferentes, tentando construir uma vida juntos. Muitas vezes, parece um experimento que sabemos que vai dar errado. No entanto, o casamento pode superar esses conflitos evidentes se decidirmos amar verdadeiramente um ao outro.
Isso me fez lembrar de algo que sempre compartilho em minhas palestras, especialmente sobre o que foi falado no livro As Cinco Linguagens do Amor, de Gary Chapman. Ele ilustra de forma brilhante como as pessoas falam diferentes idiomas emocionais. Conforme descrito no livro: “Sua linguagem emocional e a de seu cônjuge podem ser tão diferentes quanto é o idioma chinês do inglês.” Não importa o quanto você se esforce para manifestar seu amor em inglês, se seu cônjuge só entende chinês, vocês jamais conseguirão perceber o quanto se amam.
O conceito central do livro é que, desde a infância, desenvolvemos uma forma particular de dar e receber amor emocional, influenciada pela nossa formação psicológica e pelas maneiras como recebemos carinho dos nossos pais e outros entes queridos. Quando nos casamos, essas diferenças podem colidir, gerando desentendimentos e frustrações. Se não aprendermos a falar o idioma emocional de nosso cônjuge, corremos o risco de que nossos esforços para expressar afeto e compromisso não sejam compreendidos.
A teoria de Chapman nos ensina que para construir um relacionamento duradouro, é essencial descobrir e adaptar a forma de demonstrar carinho de acordo com o que realmente faz o nosso cônjuge se sentir amado. Isso significa que precisamos nos esforçar para entender o que realmente faz o outro se sentir amado e valorizado, em vez de simplesmente aplicar a nossa própria forma de expressar amor. Se nos limitarmos a nossa própria “língua nativa”, sem considerar a do outro, o amor que tentamos comunicar pode não ser recebido como pretendemos, isto é, podemos enfrentar dificuldades de comunicação.
Portanto, em vez de nos frustrarmos com as diferenças e os desafios, devemos investir na compreensão mútua e na comunicação. Quando começamos a falar a linguagem do amor que nosso cônjuge entende, criamos um ambiente onde o amor pode florescer. Não se trata apenas de ajustar nossas palavras e ações, mas de um compromisso genuíno em aprender e adaptar nossas formas de expressar carinho para atender às necessidades emocionais do parceiro.
Foi isso que eu compartilhei com meu amigo: o casamento exige um esforço contínuo para compreender e ajustar nossas formas de expressar carinho. Esse esforço não apenas resolve conflitos, mas também fortalece a conexão emocional entre os cônjuges. O amor verdadeiro no casamento vai além dos momentos fáceis; é um compromisso de crescer juntos e superar desafios, aprendendo a se comunicar de forma que o outro compreenda.
Com essa abordagem, conseguimos transformar os conflitos em oportunidades de crescimento e fortalecimento da nossa relação. O casamento, embora desafiador, pode ser uma jornada rica e gratificante quando ambos os parceiros estão dispostos a se entender e amar verdadeiramente.
Fortalecendo Relacionamentos em Todos os Âmbitos
As reflexões sobre as dinâmicas do casamento nos levam a um ponto central que se aplica a todos os tipos de relacionamentos: a importância da comunicação clara e da empatia para construir conexões duradouras. Em um mundo cada vez mais acelerado, onde as demandas profissionais e pessoais se sobrepõem, é comum nos depararmos com desafios de comunicação e desentendimentos não só com nossos cônjuges, mas também com amigos, colegas de trabalho e familiares.
É interessante notar que os princípios das cinco linguagens do amor, apresentados por Gary Chapman no contexto conjugal, podem ser aplicados também a outros relacionamentos. Saber identificar o “idioma emocional” das pessoas com quem convivemos é essencial para fortalecer qualquer laço, seja no ambiente familiar ou no profissional. Muitas vezes, conflitos surgem justamente pela falta dessa percepção: tentamos expressar apreço, carinho ou consideração da nossa maneira, sem perceber que a pessoa à nossa frente compreende e valoriza formas diferentes de conexão.
Assim, ao pensarmos em como fortalecer nossos relacionamentos, seja em casa, no trabalho ou nas amizades, devemos lembrar que a chave está na disposição para entender o outro, adaptar nossa comunicação e cultivar uma empatia genuína. Quando aprendemos a “falar a língua” emocional de quem está ao nosso redor, criamos espaços de confiança e entendimento que, no final, nos tornam pessoas mais realizadas e conectadas com aqueles que amamos.
Essa é uma reflexão que convido o leitor a levar para além das quatro paredes de casa. Que tal aplicarmos essas ideias nos nossos relacionamentos cotidianos e observar como a empatia e a comunicação podem transformar até os momentos de tensão em oportunidades de crescimento?
O Dr. Paulo Siuves nasceu em julho de 1971 na cidade de Contagem, Minas Gerais, e é bacharel em Letras pela UFMG. Além disso, ele é autor de dois livros e organizador de coletâneas. Atua como servidor público municipal e faz parte da Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte. Paulo Siuves é colunista nos jornais; Jornal Clarin Brasil e Cultural Rol. Ele possui um Ph.I. em Filosofia Universal e um Dr.H.C. em literatura. Paulo Siuves é ex-presidente e membro fundador da Academia Mineira de Belas Artes (AMBA) e também é membro da Academia de Letras do Brasil nas seccionais Suíça, Minas Gerais (RMBH) e Campos dos Goytacazes/RJ, além de pertencer a muitas outras academias.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores