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“CALA BOCA JÁ MORREU!”

Há situações em que ser lacônica é mais temeroso para alguém do que ser palavrosa

“CALA BOCA JÁ MORREU!”


Angeli Rose


Quando menina costumava escutar alguma amiguinha espevitada que
respondia a alguém que “cala boca já morreu”. Confesso que na
minha timidez, em silencio, eu vibrava com aquelas discussões em
que alguém sumariamente terminava a briguinha dizendo que o “cala
boca já morreu.


Cabe lembrar que a força dessa expressão vinha em consonância com
os tempos de repressão em que cresci. Era fim da década de 60 já
pulando o muro do tempo para a nova década que se iniciava com a
chegada das calças “boca-de-sino”, pantalonas e os anos 70. Nada
mais adequado do que dizer em alto e bom som (de casa) “cala boca
já morreu!”.


No entanto, minhas memórias só revigoraram a expressão de minha
infância quando a Ministra Carmen Lúcia, em um dos seus agradáveis
e bem elaborados discursos certa ocasião proferiu tais palavras [
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-10/o-cala-
boca-ja-correu-diz-carmen-lucia-em-encontro-sobre-imprensa-em-sp
]. Claro que as manchetes do dia seguinte estamparam em fontes
bem grandes “CALA BOCA JÁ MORREU!”. Quem não viveu uma
catarse com aquela revitalização da expressão?


Mas o Movimento social “Cala boca já morreu” liderado por Felipe
Neto e mais 4 advogados https://www.calabocajamorreu.com.br atualizou politicamente a força e a potência do “cala boca”.

O movimento veio para apoiar aqueles que estejam passando por
restrições de qualquer natureza pelo simples fato de manifestarem
suas opiniões contra certo governo. Devem lembrar, o próprio
influencer e escritor foi alvo de processo e perseguição, processos
que foram arquivos posteriormente.


A expressão “cala boca já morreu” é um modo forte de responder
energicamente ao outro que tentou limitar a expressão pessoal, dizer
que a fala é dele/a e ninguém tem o direito de reprimi-la, porque já
morreu quem achava que pudesse fazê-lo.Morreu porque foram-se os
tempos de autoritarismo (Será?).


Entretanto, ao lado dessa expressão uma maneira “educada” de
limitar a fala de outrem é dizer que ,por exemplo, alguém é

“prolixo”.Ora, o prolixo é aquele que fala muito,o que pode ser uma
constatação de fato,porém, se pergunte: na medida de quem “se fala
muito” e desnecessariamente? A rigor, a expressão pessoal singular e
subjetiva não impede de se manifestar objetivamente. Penso.


E hoje quero apenas lançar essa possível variação mais sofisticada,
ou apenas elegante de dizer a alguém para calar a boca,
principalmente, se o locutor estiver falando algo que não interessa
ouvir, incômodo.


Mas não digo que se deve dispensar a autocrítica, é muito importante
se perguntar vez por outra se de fato fulano não está sendo
“espaçoso” e falando demais,ou falando demais porque fala da vida
alheia. Corre-se o risco de se tomar pelas duas moradoras da Rua da
América, a “Velha França” e a “Velha do Beco”, que deram origem à
Agremiação Vizinha faladeira

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vizinha_Faladeira


Então, aqueles/as que têm o que dizer que se preparam para abordar
qualquer tema em uma discussão, ou reunião, por exemplo, podem
ser criticados como “prolixos”. Talvez, porque “narciso acha feio o
que não é espelho”,não é?


Assim, quando um/a colega chamar sua atenção sugerindo que você
é prolixo, pense se é porque você é daquelas pessoas reflexivas que
vivem a pensar a vida, o mundo, os fatos, as coisas e as pessoas.
Quem sabe, isso seja uma sobrecarga pra quem acha que tudo pode
ser resolvido com imediatez num “voto”, num “sim” ou “não”, sem
que antes haja uma conversação sobre o assunto, ou a realização em
questão. Podem ser as criaturas lacônicas, sucintas, concisas.


Portanto, o que pode estar em jogo é o contexto, mais do que o
qualificativo “prolixa/a”. Há situações em que ser lacônica é mais
temeroso para alguém do que ser palavrosa; há outros momentos em
que desempenhar uma fita como verborrágica ou prolixa é mais
interessante para desviar a atenção, ou ainda, quem sabe, manter-se
conciso nas apreciações lhe salve de palavras que a entreguem.


Enfim, o “cala boca já morreu” (e suas variações) continua pairando
sobre nossas cabeças para que não se manifeste uma apreciação que
principalmente o/a autor/a poderá medir ser adequada.
Ah! “Boca fechada não entra mosca!”, mas isto é para outro dia…

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