Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 23/03/25
Como Se Fosse A Primeira Vez
Paulo Siuves
Meu casamento termina todos os dias. Todas as manhãs, quando saio para o trabalho, beijo minha esposa; sinto como se entrasse numa separação indesejada, um processo que não quero viver. Não quero me separar, divorciar-me, distanciar-me, romper a relação estabelecida.
Entro no trânsito de carros e ônibus como se estivesse atravessando um tribunal invisível. Há pessoas me julgando, observando meus atos, policiando meus caminhos. A pressão sufoca, a rotina pesa, e tudo o que quero é retornar para casa, para meu lar. Chego ao trabalho e começo a pensar no que fazer para reconquistar minha esposa.
“E se ela não estiver lá quando eu voltar? E se ela não voltar antes que eu durma?”.
Envio uma mensagem desejando bom dia. Mais tarde, ligo para saber se ela almoçou ou se bebeu água (ela se esquece de tomar água). Na hora do almoço, envio uma música que gostamos e pergunto onde ouvimos aquela canção pela primeira vez, o que estávamos fazendo quando aquela balada tocou…
À tarde, no meio do trabalho, meu pensamento escapa para ela. No que poderei fazer para reconquistar seu amor, sua atenção, seu carinho. Penso em pequenas surpresas, detalhes que nos conectam, gestos que a façam sorrir. Penso em como conquistar aquela mulher como se fosse a primeira tentativa.
Faço um esforço para lembrar-me das datas importantes e dos dias relevantes, dias que têm algum significado e que eu não deveria esquecer, não posso esquecer, seria imperdoável.
Compro um bombom para ela, examino meu hálito, confiro minhas roupas e me apresento em casa, ao fim do expediente, como se ainda fôssemos namorados ou recém-casados. Tento me aproximar para beijá-la e dizer que a amo.
Essa rotina jamais me cansa, porque não me canso de amar essa mulher maravilhosa que a vida me presenteou. Não é peso, não é obrigação. É escolha.
Rotina de ser melhor a cada dia, nunca pior do que fui ontem. Hábito de olhar para ela, de ver a mulher que ela é, suas qualidades que amo, problemas que enfrentamos, marcas de expressão que entalham nossa história em nossas peles, cotidiano de ser o homem da vida dela, como ela é a mulher da minha vida. Esse é o meu ritual para lembrá-la da minha devoção ao nosso casamento. O amor é isso: construir sobre o que já fomos, sem esquecer quem ainda podemos ser.
Sou todo feito de amor por ela, e por ela vivo refazendo meus esforços de conquistar todos os dias o meu casamento que, para mim, acaba todos os dias e começa todas as noites.
Sou louco? Sim. Sou mesmo louco por ela.
Sonhei tanto tempo em ter o meu chinelo junto ao dela debaixo da cama, acordar com a luz da manhã aquecendo o edredom que nos vestiu na madrugada, ouvir os pássaros cantando “bom dia” nos galhos da figueira.
Deixo sempre você ganhar na hora de fazer o café, eu ocupo-me de trazer o pão que você adora comer, enquanto fico contente em me alimentar dos seus beijos, beber dos seus sorrisos e recomeçar tudo de novo, porque amar é escolher a mesma pessoa todos os dias. Amar é recomeçar, e eu recomeço todas as noites, para que você continue dizendo ‘sim’ todas as manhãs.
Paulo Siuves é um dedicado defensor dos Direitos das Mulheres, reconhecido
internacionalmente como “Embaixador da Paz” por seus esforços. Com um sólido
histórico acadêmico e honrarias em Filosofia e Literatura, incluindo os títulos de Doutor
Honoris Causa, Paulo apoia e promove talentosas escritoras, contribuindo para um
cenário literário mais inclusivo e igualitário. Seu compromisso com a justiça social e a
igualdade de gênero é evidenciado por suas inúmeras qualificações, incluindo cursos de
formação em Direitos Humanos, e pelo reconhecimento com o Troféu Evita Perón,
concedido pelo Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”
