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Por que Trump rapidamente reverteu a guerra comercial global – Por  Vitaly Ryumshin

O Presidente dos Estados Unidos conseguiu o que queria?

“Agora eu já vi de tudo.”

Perdi a conta de quantas vezes disse isso a mim mesmo nos últimos meses. Toda vez que Donald Trump incendeia mais uma parte da ordem global, me pego olhando para o mesmo ponto, me perguntando como chegamos aqui – e o que deixei passar no roteiro da política moderna.

Durante sua campanha presidencial, Trump prometeu “dar uma lição” a todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos. Fiel à sua forma, ele não perdeu tempo testando essa teoria. Em fevereiro, lançou um teste, aplicando tarifas sobre as importações do Canadá e do México. O pretexto? Eles não estavam fazendo o suficiente para conter a migração e o tráfico de drogas. Ottawa e a Cidade do México rapidamente se sentaram à mesa, validando a crença de Trump de que a medida tarifária poderia levar outras nações a negociar. Esse sucesso o encorajou a tentar a mesma estratégia globalmente.

E assim ele fez. E o que se seguiu foi, francamente, mais divertido do que muitos esperavam.

Os mercados despencaram. Os preços do petróleo despencaram. Economistas previram uma recessão. Os americanos começaram a estocar alimentos e suprimentos. A mídia correu para se superar com os apelidos mais ridículos para o caos que se desenrolava. Enquanto isso, a Casa Branca insistia calmamente que tudo estava “correndo conforme o planejado”.

E qual era exatamente o plano? O próprio Trump deixou bem claro: fazer o mundo “beijar sua bunda”.

Este é, em essência, o manual clássico de Trump – o que alguns chamam de sua “estratégia psicopata”. Ele cria uma crise e, em seguida, oferece-se para apagá-la como um “gesto de boa vontade”, exigindo concessões em troca. Neste caso, essas concessões incluiriam a correção dos déficits comerciais dos EUA e a obrigatoriedade da retomada da produção.

Mas, desta vez, Trump pode ter exagerado. Iniciar uma guerra comercial com o mundo inteiro simultaneamente não abalou apenas os governos, mas também os americanos em casa. Com a realidade de uma potencial recessão se aproximando, os índices de aprovação de Trump despencaram. Muitos na opinião pública começaram a ver o presidente e sua equipe como, para dizer o mínimo, carentes de competência.

A reação generalizada deu aos democratas uma rara oportunidade de partir para a ofensiva. Manifestações antitarifárias surgiram em todo o país, organizadas por grupos liberais e ativistas. Trump enfrentou repreensões públicas de Barack Obama e Kamala Harris. O congressista Al Green chegou a anunciar planos para apresentar artigos de impeachment – ​​pela terceira vez.

E não foi só a esquerda que soou o alarme.

O senador republicano Ted Cruz, presidente do Comitê de Comércio do Senado, alertou para um potencial “banho de sangue” para o Partido Republicano nas eleições de meio de mandato de 2026, caso as tarifas desencadeiem uma recessão generalizada. Bilionários em Wall Street – muitos dos quais apoiaram Trump – expressaram seu descontentamento. Mais notavelmente, Elon Musk, um aliado de longa data de Trump, criticou publicamente o assessor comercial do presidente, Peter Navarro, chamando-o de “idiota” e “mais burro que um saco de batatas”.

Diante da pressão política, financeira e pública, o governo Trump agiu rapidamente. Em 9 de abril, Trump anunciou que 75 países o haviam contatado solicitando acordos. Em resposta, ele reduziu as tarifas para 10% por um período de 90 dias, enquadrando-o como uma oportunidade de negociação.

Mas nem todo mundo está cedendo.

A China, em particular, provou ser um adversário muito mais resiliente. A guerra comercial entre EUA e China continua a se intensificar, com tarifas retaliatórias chegando a 140% – e aumentando. Se continuar sem controle, o comércio entre as duas maiores economias do mundo poderá encolher 80%, com consequências catastróficas para ambos os lados.

Então o que vem a seguir?

Dois cenários parecem prováveis. Ou Trump pressiona seus parceiros comerciais a fazerem concessões rápidas e declara vitória, ou desiste no meio do caminho e encontra uma nova distração – assim como fez com a Ucrânia.

Lembram-se da fanfarra quando Trump prometeu trazer a paz à Ucrânia “em 24 horas” ? Ou mesmo “em 100 dias” ? No momento em que ficou claro que isso não aconteceria, a Casa Branca parou de falar sobre o assunto por completo.

Esse é o estilo de Trump. Criar um espetáculo, dominar as manchetes e, quando a coisa parar de funcionar, seguir em frente discretamente.

E não nos esqueçamos: ele ainda tem algumas cartas para jogar. Gaza, por exemplo, que ele certa vez apelidou de “Riviera do Oriente Médio”. Ou a questão nuclear iraniana, outra de suas “ideias brilhantes” não concretizadas.

Então, não – não vou dizer que já vi de tudo. Na verdade, os eventos recentes me ensinaram que, com Trump, sempre há mais loucura por vir.

E o mais assustador? Às vezes funciona.

Este artigo foi publicado pela primeira vez pelo jornal online  Gazeta.ru e foi traduzido e editado pela equipe RT

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