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Sabedoria Popular: A Riqueza da Língua do Povo em Geraldo Couto Filho – Por Paulo Siuves

“A cavalo dado não se olham os dentes” 

Sabedoria Popular: A Riqueza da Língua do Povo em Geraldo Couto Filho


Por Paulo Siuves

Quem se lembra do inesquecível Geraldo da Escolinha do Professor Raimundo? Aquele aluno simples, de raciocínio inusitado, que fazia rir — e pensar. Lembrei-me dele ao folhear Sabedoria Popular Atropelando a Língua, de Geraldo Couto Filho. Não pelo nome, mas pela maneira como o autor, com humor e leveza, mergulha nos ditos populares e revela, com graça, a profundidade da linguagem do povo.

Recebi o livro como presente da minha terapeuta, a psicóloga Luciane Couto, filha do autor. E foi uma grata surpresa. Trata-se de uma obra informal e cativante, que nos leva a uma viagem deliciosa pelas expressões que brotam da sabedoria cotidiana — aquelas que nascem na rua, nos lares, nos botecos e nas conversas de esquina.

Geraldo Couto Filho não oferece aqui uma gramática tradicional. Ele nos conduz por um universo linguístico vivo, em que as expressões populares ganham destaque e profundidade. Ao longo das páginas, ditados como “a cavalo dado não se olham os dentes” ou “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” deixam de ser apenas frases repetidas mecanicamente: ganham história, contexto e alma.

O livro vai além da simples enumeração de provérbios. É uma verdadeira arqueologia da linguagem. O autor pesquisou durante mais de duas décadas, ouvindo conversas, lendo jornais, assistindo novelas e filmes, escutando música, mergulhando na cultura popular em busca de pérolas do nosso jeito de falar. E encontrou.

Com organização criativa — destacando origens históricas (H:), frases correlatas (FR:), e até QR codes para aprofundar o conteúdo —, o autor transforma o livro num instrumento versátil, ideal tanto para leitura contínua quanto para consultas pontuais.

O posfácio do advogado criminalista e poeta Jair Batista Gomes é um ponto alto. Ele chama atenção para a “agressão” que os ditos populares parecem cometer contra as normas gramaticais, mas celebra, com propriedade, a riqueza cultural que carregam. Para ele, a sabedoria popular é divina e espontânea; a gramática, uma construção humana. Essa oposição valoriza ainda mais a força das expressões que brotam do cotidiano.

Para mim, a leitura de “Sabedoria Popular Atropelando a Língua” foi uma jornada de redescoberta e aprendizado. Mesmo tendo transitado pelo universo da Linguística durante a faculdade de Letras, reencontrei aqui velhos conhecidos e descobri novos tesouros. O livro reacendeu minha curiosidade e o prazer de refletir sobre o modo como falamos — e sobre o que isso revela da nossa identidade.

Com uma escrita acessível e espirituosa, Sabedoria Popular Atropelando a Língua é uma leitura prazerosa tanto para estudiosos quanto para leitores que simplesmente apreciam uma boa conversa. É uma obra que diverte e instrui, que faz sorrir e pensar — assim como o personagem da “Escolinha”. Só que aqui, a aula é sobre a vida, a cultura e a alma do povo brasileiro.

Este livro é um verdadeiro achado. Historiadores, linguistas, professores, estudantes, pesquisadores da cultura popular e da sociolinguística — todos encontrarão nele um manancial de insights. Mas acima de tudo, é uma celebração da língua como ela é falada. Sem regras rígidas, mas com verdade, cor e sabedoria.

Em tempos de comunicação acelerada e artificial, Sabedoria Popular Atropelando a Língua nos convida a ouvir com mais atenção o que diz o povo — e a perceber que, por trás de cada expressão popular, pulsa o coração de uma cultura inteira.

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