Este projeto é apresentado pelo Ministério da Cultura e pelo Governo de Minas Gerais por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 07/05/25
O violinista russo Andrey Baranov retorna a Belo Horizonte nesta semana para interpretar com a Filarmônica de Minas Gerais um dos concertos mais fascinantes do século XX, o “Concerto para violino nº 1 em lá menor, op. 77”, de Shostakovich, acompanhado pelo regente convidado Silvio Viegas que faz sua estreia à frente da Filarmônica.
Com Tchaikovsky, a Orquestra revisita uma sinfonia marcante do Romantismo tardio, a “Sinfonia nº 1 em sol menor, op. 13”, “Sonhos de inverno”, e, abrindo o programa, uma obra de Guerra-Peixe baseada nas suas impressões sobre um período fundamental da história do nosso estado, “Museu da Inconfidência”.
As apresentações serão nos dias 8 e 9 de maio, às 20h30, na Sala Minas Gerais. Os ingressos estão à venda no site www.filarmonica.art.br e na bilheteria da Sala, a partir de R$ 39,60 (inteira) e R$ 19,80 (meia).
Este projeto é apresentado pelo Ministério da Cultura e pelo Governo de Minas Gerais por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Mantenedor: Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Apoio Cultural: Inter. Apoio: Circuito Liberdade e Programa Amigos da Filarmônica. Realização: Instituto Cultural Filarmônica, Governo de Minas Gerais, Funarte, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Repertório
César Guerra-Peixe (1914 – 1993) e a obra “Museu da Inconfidência” (1972)
Minas Gerais está presente na obra de César Guerra-Peixe através dos sete poemas de Carlos Drummond de Andrade que ele musicou para voz e orquestra na cantata/cantoria “Drummondiana”. E em “Museu da Inconfidência”, o compositor revela, sem nenhuma intenção descritiva, sua comoção diante das correntes, lápides e outros objetos que testemunharam a tragédia dos Inconfidentes.
Uma grande carga dramática percorre os quatro movimentos da partitura: a “Entrada” é anunciada pelos trompetes, como se quisessem demonstrar a importância e a imponência do prédio que dá nome à composição, localizado em Ouro Preto e visitado por Guerra-Peixe em 1966.
O título do segundo movimento, “Cadeira de arruar”, refere-se popularmente à liteira usada pelos senhores brancos para saírem às ruas carregados pelos escravizados. A música, aqui, torna-se maliciosamente irônica, pois os carregadores (cientes de que não eram vistos pelos que iam no interior do veículo) aproveitavam o trajeto para zombar de seus donos.
O terceiro movimento, “Panteão dos Inconfidentes”, retoma o clima trágico: uma prece fúnebre cresce dramaticamente até o clímax, que ecoa como o desesperado grito dos heróis condenados. Em “Restos de um reinado negro”, o quarto e último movimento, a delicada percussão destaca as particularidades folclóricas do tambor militar, enquanto um belo canto negro entoado pelo fagote convoca elementos da nossa herança musical africana. Ao final, uma coda retoma as frases da “Entrada” com um brilho metálico de armas e caráter conclusivo.
Dmitri Shostakovich (1906 – 1957) e a obra “Concerto para violino nº 1 em lá menor, op. 77” (1947/1948)
Ao longo de sua trajetória, Shostakovich estabeleceu relações contraditórias com o Regime Soviético – duras advertências, expurgos e condenações alternaram-se com honrarias, títulos e prêmios oficiais. Tal dubiedade manifesta-se em sua obra com a estratificação de dois discursos distintos – há uma voz grandiloquente, exterior, heroica, e outra íntima, meditativa, austera.
Em 1948, Shostakovich foi suspenso temporariamente de sua docência no Conservatório de Moscou, acusado de orientação musical antipopular e formalista, e proibido de estrear novas obras orquestrais. O compositor procurou recuperar o prestígio oficial com obras alinhadas às preferências neoclássicas e de apelo patriótico do Comitê Central.

Porém, em contraste com essa voz exterior, Shostakovich escreveu também peças cuja estética inviabilizava qualquer possibilidade imediata de execução, pois traziam elementos da música popular judaica, o que destoava das campanhas antissemitas oficiais.
O longo e severo Concerto para violino, op. 77 integra este conjunto. Seu “Noturno” inicial, essencialmente cantabile, explora a escrita para cordas duplas e os vários registros do instrumento solista. O “Scherzo”, movimento em que as inflexões judaicas são mais perceptíveis, traz a animação unida à irônica causticidade própria do compositor.
O tema da “Passacaglia” aparece nas cordas graves com um contraponto das trompas. A seguir, o violino dialoga com diversos blocos instrumentais. Uma grande cadência faz a ligação com a “Burlesca” final, movimento coreográfico que retrata a vivacidade irresistível de uma festa popular.
Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840 – 1893) e a obra “Sinfonia nº 1 em Sol menor, op. 13”, “Sonhos de Inverno” (1874)
Desejoso de se firmar como compositor, Tchaikovsky se empenhou em uma tarefa por demais árdua para um jovem recém-formado: a composição de uma sinfonia. Em março de 1866, ele começou a traçar os primeiros rascunhos, mas, no mês seguinte, a publicação de uma crítica devastadora do compositor César Cui a respeito da cantata apresentada em sua formatura desencadeou uma série de problemas psicológicos que o acompanhariam por toda a vida. Tchaikovsky passou a sofrer de ansiedade nervosa e insônia, além de apresentar ataques apopléticos constantes.
Após meses trabalhando acordado na orquestração, Tchaikovsky cometeu um erro de cálculo e submeteu a sinfonia, ainda inacabada, à crítica de seus antigos professores Anton Rubinstein e Nikolai Zaremba. Os dois foram impiedosos, atacando cruelmente a obra. Hipersensível a críticas, Tchaikovsky ficou completamente arrasado, mas em dezembro conseguiu voltar à partitura e finalizá-la. Todavia, a sua “Sinfonia nº 1” só seria executada na versão integral meses depois, em 3 de fevereiro de 1868, em Moscou, sob a regência de Nikolai Rubinstein. A versão que hoje conhecemos data de quando Tchaikovsky revisou a obra pela última vez, em 1875, antes da publicação.
Apesar dos percalços, pode-se considerar esta Primeira Sinfonia uma obra madura, que evidencia o temperamento típico da música russa tanto em seus temas de sabor folclórico quanto no brilhante colorido orquestral. O título “Sonhos de Inverno” foi dado pelo próprio Tchaikovsky. Apesar de conter temas vivos e movimentos rápidos, a sinfonia guarda um certo tom melancólico, especialmente no “Finale” que, apenas na grandiosa coda, deixa entrever um pouco de sol.
Silvio Viegas, maestro convidado
Silvio Viegas é Regente Titular da Orquestra Sinfônica Provincial de Santa Fé, na Argentina, e professor de regência na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nascido em Belo Horizonte, esteve à frente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais entre 2016 e 2022, e atuou como professor na Escola de Música da UFMG de 1998 a 2016.

Também ocupou os cargos de Regente Titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (2008 a 2015) e de Diretor Artístico da Fundação Clóvis Salgado (2003 a 2005). Desde o início da carreira, tem se destacado no meio operístico, regendo obras como “O Navio Fantasma” (Wagner), “O Barbeiro de Sevilha” (Rossini), “As Bodas de Fígaro” e “A Flauta Mágica” (Mozart), “La Bohème” e “Tosca” (Puccini), entre outros clássicos. Como maestro convidado, colaborou com grandes orquestras nacionais e internacionais, incluindo a da Arena di Verona, a Sinfônica de Roma e a do Teatro Colón.
Esta é a primeira vez que o maestro Silvio Viegas rege a Filarmônica de Minas Gerais.
Andrey Baranov, violino
O violinista russo Andrey Baranov é vencedor dos concursos internacionais Rainha Elisabeth, Benjamin Britten e Henri Marteau, e já se apresentou em palcos e festivais dos cinco continentes. Desde a sua estreia com o maestro Vasily Petrenko e a Filarmônica de São Petersburgo, em 2005, tocou com grandes orquestras como a Sinfônica de Viena, a Royal Philharmonic de Londres, a Sinfônica de Montreal, a Orquestra do Teatro Mariinsky, entre outras.
Colaborou com regentes e instrumentistas de renome, como Martha Argerich, Julian Rachlin, Teodor Currentzis, Vladimir Fedoseyev e Michel Tabachnik. Em 2012, fundou o David Oistrakh Quartet, cujo nome é uma homenagem a um dos grandes violinistas do século XX. Seu disco The Golden Violin, lançado pela Muso, recebeu o prêmio Diapason d’Or em 2018.
Este é o segundo concerto de Baranov com a Filarmônica de Minas Gerais, seguindo a estreia em 2024, quando se apresentou com o violoncelista e amigo Alexander Hülshoff.
Serviço:
8/5 – Série Allegro
9/5 – Série Vivace
Horário: 20h30
Local: Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto)
Ingressos: de R$ 39,60 (Mezanino) a R$ 193 (Camarote). Meia-entrada para estudantes, maiores de 60 anos, jovens de baixa renda e pessoas com deficiência, de acordo com a legislação.
Foto: Alexander Fefelov
Informações: (31) 3219-9000 ou www.filarmonica.art.br