“Humanos o suficiente para preencher o vazio, artificiais o bastante para não decepcionar.”

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 18/05/25
Filhos de Plástico
No início, era visto como excentricidade.
Adultos andando com bonecas no colo, falando baixo, embalando corpos de vinil como se fossem de carne. Depois, virou movimento.
Agora é protocolo.
Em bairros planejados, já há creches especializadas para bonecos de companhia parental. Os condomínios oferecem áreas de lazer seguras, com escorregadores que ninguém usa, mas que ficam bonitos nas fotos. Os shoppings adaptaram trocadores. As redes sociais criaram filtros especiais para “reborn parents”.
A justificativa é sempre a mesma: “é mais seguro assim”.
Filhos reais? Custam demais. Afeto real? Arriscado.
A perda virou epidemia, então a indústria ofereceu solução: bonecos com pele térmica, olhos que piscam, e até chips que imitam batimentos cardíacos.
“Humanos o suficiente para preencher o vazio, artificiais o bastante para não decepcionar.”
Esse é o slogan. A ideia pegou.
Agora, ao invés de choro, há programação.
Ao invés de crescimento, atualizações de firmware.
Os adultos, aliviados, vivem maternidades e paternidades sem fraldas sujas, sem birras, sem conflitos. Só carinho, controle, silêncio.
Há quem diga que isso é cuidado. Mas, no fundo, é medo. Medo de amar o imprevisível.
Medo de falhar como pais de verdade. Medo de outro corpo humano exigir mais do que estamos dispostos a oferecer.
Na televisão, especialistas debatem os “benefícios da parentalidade simbólica”. Na prática, estamos educando bonecos para não ter que educar a nós mesmos.
O mundo ficou seguro, limpo, eficiente. E absolutamente solitário.
Lin Quintino

Lin Quintino – Mineira de Bom Despacho, escritora, poeta, professora e psicóloga. Academia das quais faz parte: Academia Mineira de Belas Artes – AMBA / ANLPPB- cadeira 99, / ALPAS 21, sócia fundadora, cadeira 16; / ALTO; / ALMAS; / ARTPOP; / Academia de Letras Y Artes Valparaíso (chile); / Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires; / ACML, cadeira 61 Membro da OPB e da Associação Poemas à Flor da Pele. Autora dos livros de poemas Entrepalavras e A Cor da Minha Escrita. Comendas: destaque literário da ALPAS-21, / Ubiratan Castro em 2015 pela ABRASA / Certificado pela ALAF de Destaque Literário em 2014 7 Troféu destaque Mulheres Notáveis – Cecília Meireles- Itabira/MG, 2014 Participou de várias coletâneas e antologias nacionais e internacionais.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”