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Filhos de Plástico – Por Lin Quintino

“Humanos o suficiente para preencher o vazio, artificiais o bastante para não decepcionar.”

Filhos de Plástico

No início, era visto como excentricidade.

Adultos andando com bonecas no colo, falando baixo, embalando corpos de vinil como se fossem de carne. Depois, virou movimento.

Agora é protocolo.

Em bairros planejados, já há creches especializadas para bonecos de companhia parental. Os condomínios oferecem áreas de lazer seguras, com escorregadores que ninguém usa, mas que ficam bonitos nas fotos. Os shoppings adaptaram trocadores. As redes sociais criaram filtros especiais para “reborn parents”.

A justificativa é sempre a mesma: “é mais seguro assim”.

Filhos reais? Custam demais. Afeto real? Arriscado.

A perda virou epidemia, então a indústria ofereceu solução: bonecos com pele térmica, olhos que piscam, e até chips que imitam batimentos cardíacos.

“Humanos o suficiente para preencher o vazio, artificiais o bastante para não decepcionar.”

Esse é o slogan. A ideia pegou.

Agora, ao invés de choro, há programação.

Ao invés de crescimento, atualizações de firmware.

Os adultos, aliviados, vivem maternidades e paternidades sem fraldas sujas, sem birras, sem conflitos. Só carinho, controle, silêncio.

Há quem diga que isso é cuidado. Mas, no fundo, é medo. Medo de amar o imprevisível.

Medo de falhar como pais de verdade. Medo de outro corpo humano exigir mais do que estamos dispostos a oferecer.

Na televisão, especialistas debatem os “benefícios da parentalidade simbólica”. Na prática, estamos educando bonecos para não ter que educar a nós mesmos.

O mundo ficou seguro, limpo, eficiente. E absolutamente solitário.

Lin Quintino

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