Cada solavanco é um lembrete de que o tempo não para

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 08/06/25
Pelos trilhos do tempo
Lin Quintino
O trem cortava o horizonte, num vai e vem que ecoava pelos campos, carregando consigo histórias, segredos e olhares distraídos. As rodas de ferro rodavam sobre os trilhos como quem desenha linhas invisíveis no tempo, unindo passado e presente numa trilha contínua.
Dentro do vagão, o mundo parecia suspenso, distante das preocupações do relógio. Homens de chapéu, mulheres com lenços floridos, crianças com olhos que refletiam a paisagem que corria lá fora. Um instante que parecia infinito.
Olhar pela janela era como folhear um álbum de fotografias antigas. Às vezes, surgiam ruínas de fazendas esquecidas, outras vezes, campos floridos, mas sempre aquela sensação de que o tempo, de alguma forma, também estava sentado no banco ao lado. O tempo. Esse velho conhecido que passa apressado para uns, mas parece caminhar a passos lentos para outros.
Mas, para o trem, o tempo é uma linha reta, sem curvas. Ele corre de estação em estação, apanhando e deixando vidas em suas plataformas, como quem troca de livro numa biblioteca gigante. E entre uma parada e outra, as histórias dos passageiros se misturam, se entrelaçam.
Na terceira fileira, um homem de bigode fino lê um jornal amarelado. As notícias já não importam tanto. Ele apenas folheia as páginas, talvez esperando que a próxima estação traga algo novo. Mais adiante, uma jovem sonhadora encara o vidro com olhos distantes, como quem observa algo que vai além da paisagem. Talvez seja o futuro que ela tenta decifrar, ou algum devaneio que o balanço do trem inspira.
Cada solavanco é um lembrete de que o tempo não para, mas, curiosamente, ali dentro, tudo parecia congelado. O barulho cadenciado das rodas se fundia com os murmúrios dos passageiros, criando uma melodia que, de alguma forma, acalmava.
E então, ao longe, a próxima estação aparece. Os passageiros se movem lentamente, pegam suas malas, ajeitam os chapéus, trocam olhares silenciosos. O trem, esse velho condutor do tempo, vai parar por alguns instantes, mas logo seguirá seu rumo.
Cada um descerá em sua estação, carregando consigo o peso do que foi vivido e a expectativa do que virá. E o trem, incansável, continuará sua viagem pelos trilhos do tempo, levando consigo novas histórias, novos olhares, novos começos. Afinal, o tempo é esse trem que nunca se cansa de seguir adiante.
Lin Quintino

Lin Quintino – Mineira de Bom Despacho, escritora, poeta, professora e psicóloga. Academia das quais faz parte: Academia Mineira de Belas Artes – AMBA / ANLPPB- cadeira 99, / ALPAS 21, sócia fundadora, cadeira 16; / ALTO; / ALMAS; / ARTPOP; / Academia de Letras Y Artes Valparaíso (chile); / Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires; / ACML, cadeira 61 Membro da OPB e da Associação Poemas à Flor da Pele. Autora dos livros de poemas Entrepalavras e A Cor da Minha Escrita. Comendas: destaque literário da ALPAS-21, / Ubiratan Castro em 2015 pela ABRASA / Certificado pela ALAF de Destaque Literário em 2014 7 Troféu destaque Mulheres Notáveis – Cecília Meireles- Itabira/MG, 2014 Participou de várias coletâneas e antologias nacionais e internacionais.
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