BETWEEN SAYINGS AND WRITINGS: A VALUE INTERVIEW
“Respostas bem espontâneas, com uma voz cheia de modulações que vão se alternando ao longo da “conversa”, já que a entrevista não dispunha de interrupções ou tempo pré-determinado”
Por Angeli Rose – Jornal Clarín Brasil JCB News – Belo Horizonte em 30/01/2021 às 01hs01mins
Numa voz tranquila, delicada e suave, quase rouca, um pouco diferente da Tatiana (Salem Levy) que conheci na universidade (PUC-Rio),onde fomos contemporâneas de doutoramento em Letras, ela respondeu gentilmente às questões que lhe enviei por email alguns dias antes, concedendo entrevista exclusiva para a proposta de pesquisa que eu desenvolvia na área de Jornalismo cultural, em formação de especialista. Em meio à agenda doméstica e profissional que administra em seu cotidiano de mãe, cidadã do mundo, mulher, escritora, palestrante, tradutora, colunista, enfim, buscando encaixar o convite feito – meio à queima roupa -,via rede social FACEBOOK[https://www.facebook.com/tatianasalem]. As respostas chegaram também por email, mas em áudio, bem pontuais, detendo-se no que abordavam e antecedidas pelo resumo sobre a investigação e reflexão que eu vinha elaborando sobre os escritos e os dizeres em cadernos culturais em torno da literatura e sua presença nos espaços jornalísticos, no caso, especificamente sobre o caderno cultural EU&FIM DE SEMANA do jornal Valor Econômico. Apresento adiante a transcrição da entrevista de Tatiana Levy, colunista da seção “Outros Escritos” do jornal Valor Econômico, enviada em 4/4/2017 pela escritora a mim.
Por ocasião de formação que realizei em Jornalismo cultural na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na faculdade de Comunicação, a entrevista foi um dos conteúdos da monografia de conclusão do curso, a qual posteriormente resultou num e-book autoral pela editora Atena em 2017: “JORNALISMO CULTURAL: Exercício de leitura em Eu &Fim de semana”.
[https://www.atenaeditora.com.br/ebooks?titulo=ANGELI+ROSE ]
A breve entrevista tinha como principal objetivo colher elementos para situar a escritora Tatiana Salem Levy neste tipo de produção crítica que vai além de serviços oferecidos ao leitor em jornais, como resenhas, por exemplo. Convite aceito: dito e feito. Foram respostas bem espontâneas, com uma voz cheia de modulações que vão se alternando ao longo da “conversa”, já que a entrevista não dispunha de interrupções ou tempo pré-determinado, a não ser o que ela, a colunista de “Outros escritos”, considerasse possível, dentro de sua agenda movimentada.
(Biblioteca Mario de Andrade,SP)
https://www.youtube.com/user/bma1925
Tatiana Salem Levy voltou com apenas noves meses de nascimento em Portugal para o Brasil com sua família, após a promulgação da Lei da Anistia brasileira. Cursou Letras na UFRJ, fez mestrado e doutorado na PUC-Rio, com dissertação publicada pela Relume Dumará em 2003,”A experiência do Fora: Blanchot, Foucault e Deleuze”, e com a tese de doutoramento que deu origem ao seu primeiro romance, “A chave de casa”; e realizou o estágio pós-doutoral, tornando-se Ph.D. em Letras(UFRJ). Atualmente, se divide entre Brasil e Portugal, onde mantém residências, depois de ter morado na França e nos EUA. É também tradutora de francês e tem vários contos em coletâneas, inclusive, publicados em outros países. O escritor Luís Ruffato a incluiu na primeira coletânea brasileira que reuniu,sob o olhar crítico desse autor e jornalista, as vinte melhores escritoras brasileiras da contemporaneidade. Seu segundo romance “Paraiso” é de 2014 e editado pela Foz. Seu conto “Tempo Perdido” recebeu do escritor britânico Ian Mc Ewann a seguinte afirmação: “I thought it was a wonderful story that wears its symbolism very lightly. I was very touched.“. (Tradução livre: “Eu pensei que era uma história maravilhosa que usa simbolismo muito levemente. Fiquei muito emocionado.”).E publicou dois livros infantis, “Curupira Pirapora” (Tinta da China, Prêmio da FNLIJ) e “Tanto Mar” (prêmio da ABL).Descendente de turcos e judeus, em parceria com outra escritora jovem ,Adriana Harmony, organizou uma antologia de contos “Primos”, que nas palavras dela, davam a conhecer um pouco da cultura judaica.Com uma produção variada e presente no cotidiano brasileiro, Tatiana Salem tem sido objeto de inúmeras pesquisas acadêmicas, comparativas ou não ao lado de Paloma Vidal, a própria Adriana Harmony, Bruna Beber, Carol Bensimon, entre outras.
Foi possível então situar a escritora de ficção, premiada por “A chave de casa“, Record (Prêmio São Paulo,2008) e da recente coletânea de “escritos” sob o título “O mundo não vai acabar”(2017),como alguém que pode estar interagindo regularmente de modo formativo até, ao escrever quinzenalmente sobre suas reflexões disparadas pelas leituras literárias nacionais e estrangeiras que realiza com o cotidiano de leitores, como é o caso de colunistas e formadores de opinião em geral, e até com leitores diferenciados, isto é, que embora direcionados para a área econômica, no caso do jornal “Valor Econômico”, estão sensíveis a abordagens estéticas e reflexivas. E como só aos mais singulares é permitido suceder, a obra de Tatiana Levy que hoje inclui sua produção em jornais, revistas e eventos culturais, está longe de ser unanimidade para críticos e pesquisadores. Percebe-se para aqueles que acompanham a escritora que há irregularidades de estilo e que temos a transparência de uma escritora em construção.
1ªED.(2013)editora: Bestbolso
A extensão da entrevista superou as expectativas e favoreceu o olhar crítico sobre o material de reflexão e pesquisa. Enfim, nesses tempos de distâncias longas e abreviadas pela internet, foi um privilégio obter de Tatiana Salem Levy essa contribuição significativa e bastante instigante para ajudar-nos a pensar nos ditos sobre a Literatura, também por quem faz e pensa a Literatura. Certamente, ainda teremos material para a posteriori desdobrarmos em outras reflexões e, quiçá, em outros escritos. Neste sentido, avaliou-se que tal diálogo estaria em consonância com a temática deste número da Revista Língua & Literatura, uma vez que a leitura Tatiana Salem Levy vem propondo(-se) questões aos leitores de seus outros escritos sobre literatura e em certa medida até articulando tais reflexões com aspectos da Teoria da Literatura, o que confere à coluna uma dimensão formativa e diferenciada no que tange a crítica literária. Sua coluna tem se destacado por não estar classificada nem como crônica, crítica estética, tampouco como sofisticados ensaios acadêmicos, além de realizarem a proposição freiriana de leitura de mundo: o que o ato de ler, através da leitura literária pode fazer pensar sobre o mundo, sobre o mundo em que vivemos. São dizeres e leituras que uma leitora-escritora compartilha com outros leitores [https://youtu.be/sZ8VAQ_C0e4] .Passemos, então, à entrevista:
ANGELI ROSE: Como você entrou para o jornalismo cultural, em específico, o “Valor”?
TATIANA LEVY: Então, eu entrei pro VALOR a convite do editor do Eu&fim de semana, Robson Borges, na verdade, onde hoje é o “Outros escritos”, antes era um espaço em que cada semana uma pessoa diferente escrevia. E o Robson já tinha me chamado pra[pra] escrever pra esse espaço 2 vezes, assim como tinha chamado muitas outras pessoas. Ele tinha gostado do que eu tinha feito…e então quando ele decidiu ter duas pessoas só, fixas, ele resolveu me convidar e convidar a Eliana Cardoso.
A. R.: Você tinha alguma referência no jornalismo ou na crítica literária para enfrentar essa empreitada?
T. L.: [reanimando a voz] Bom, eu li muito Silviano Santiago, li muito José Castelo, e…acho que talvez essas fossem as referências mais contemporâneas,[né?](mas aí como você fala, como você fala… no resumo do seu trabalho: acho que de fato eu estar assumindo esse espaço no jornal de um grande crítico, assim, da literatura. Então… um pouco complicado falar de grandes referências, sabe? Acho que eu poderia… citar esses dois autores, como autores que eu acompanhava[assim]…
A. R.:Verifica-se que você aproveita muito da sua formação em Letras nesses “outros escritos”, chegando a explorar questões bem específicas da Teoria da Literatura. Isso é intencional? Você acha que poderia fazer diferente?
T. L.: Sim, é intencional a ideia de explorar questões bem específicas da teoria da literatura, até porque quando o Robson me fez o convite, ele me falou justamente do meu primeiro livro, que é um livro de ensaios, “A experiência do fora: Blanchot, Foucault e Deleuze”, que foi minha dissertação do mestrado. É… Acho que foi esse livro [indicando estar sorrindo com a lembrança]que levou o Robson a me convidar. Claro, também o fato de eu ser escritora, mas esse livro contou bastante, Então entendi um pouco que o caderno queria…esse ponto de vista, assim, sabe? que não fosse uma coisa muito crônica, que fosse uma coisa mais aprofundada, mais reflexiva…
Não é simplesmente gostei desse livro por isso ou por aquilo e sim o que cada livro me fez pensar. Que não fosse uma coisa muito “crônica”, que fosse mais uma reflexão, mais aprofundada das coisas, tem espaço para textos mais longos, mais reflexivos. São reflexões que partem de livros[voz firme e frisando a informação],mais do que propriamente uma leitura, como o que cada livro me fez pensar .
Se eu poderia fazer diferente? a gente sempre pode fazer diferente…poderia fazer uma coisa no tom mais de crônica, né? Mas eu gosto também desse tom mais reflexivo. Eu acabei largando a universidade, depois de ter feito o pós-doutorado, um ano de pós-doutorado. Eu fiz um ano de pós-doutorado na UFRJ. Eu não queria tanto dar aula. Não queria tanto a vida acadêmica. Essa coluna do “Valor foi uma forma de voltar pro estudo, sem voltar pra universidade e dar aula Se poderia fazer diferente? Claro que poderia fazer diferente, mais crônica, mas eu gosto desse tom [reflexivo],também é uma forma. Eu acabei largando a universidade. Eu não queria tanto dar aula; pesquisa assim sempre foi uma das minhas paixões, gosto muito de estudar teoria.
Editora Tinta da China (BR)56pg,2012.
A. R.: Você tem algum retorno dos leitores? Em que medida? Por que meios?
T. L.: Eu tenho retorno dos leitores sim, sempre por email. Mas eu recebo sempre muitos emails de um público mais formal. A maioria dos emails é de advogados, economistas, é mais por aí. Quase não tem comentários no link, mas é raro eu receber emails de pessoas do meu meio. Essas pessoas comentam no FACEBOOK. É raro receber email de gente do meu meio…
Editor José Olympio (2017), CRONICA BRASILEIRA, 182pg.
A. R.: Depois que começou a escrever no “Valor” sentiu alguma diferença na sua produção ficcional? De que tipo?
T. L.: Não senti nenhuma diferença não na minha produção. Acho que são duas tatianas…
A. R.: Hoje, além de escritora de ficção, você se considera jornalista?
T. L.: Não me considero jornalista, porque não sou jornalista, não faço reportagens. Acho que o trabalho de jornalista é bem diferente. Sou uma escritora de ficção e não ficção, é isso, mas sempre escritora.
Qualquer coisa me fala. Beijos. Boa sorte!
Cabe ressaltar que a pesquisa desenvolvida na época observou através de pesquisas quantitativas anteriores, numa revisão bibliográfica, que o perfil dos leitores deste caderno cultural, Eu&fim de Semana, desde que surgiu em 2003, sob a coordenação do Jornalista Daniel Pizza, compreende professores universitários, médicos e profissionais liberais em geral.
Hoje, podemos dizer que na migração do impresso para o digital, os cadernos culturais voltaram com muita força, depois de terem ficado por um período restrito aos blogs e sites autorais. Nesse sentido, cabe ressaltar que a seção Cultura & Lazer do Jornal Clarín Brasil–JCB News (digital) vem cumprindo com excelência esse relevante tradição dos cadernos culturais que abrem espaço para a crítica literária, de arte e possibilidades inúmeras, como temos a chance de verificar.
Assim, esta semana, caro leitor, cara leitora, mudando um pouco o foco e o tom, expôs para vocês o bastidor de um processo de pesquisa e de formação, aproveitando para fazer um convite à leitura da obra dessa brasileira ,nascida em Lisboa, e que não abre mão de sua ligação com o país e sua cultura, onde formou-se e exerce sua cidadania plural e intercultural, Tatiana Salem Levy.
Mas adianto que nas próximas semana voltarei a contar alguns encontros com amigas, inclusive, no Fórum Social Mundial que termina amanhã, sábado 30, e o COLETIVO MULHERES ARTISTAS ofereceu agenda diária de atividades no canal do Youtube. Ainda dá tempo! Apareça para saber o que rolou no FSM [https://wsf2021.net/] e no CMA! [https://youtu.be/bUPkoos8Bpo]
Angeli Rose é carioca, geminiana, professora, pesquisadora (PhD em Educação/UFRJ),colunista do Jornal Clarín Brasil – JCB News (digital) a convite do amigo e presidente da AMBA, Paulo Siuves. É autora de Biografia não autorizada de uma mulher pancada, entre outros. É antologista com participações em obras lusófonas (Algumas: Palavreiras; Além da Terra, Além do céu; Registros femininos; Poesia Atemporal; Conexões Atlânticas). É membro de diversas associações e academias de Letras, Artes e Ciências (OMDDH ;FEBACLA;AVL;CONCLAB/CONNINTER;ALG;NALAP; e outras). Como idealizadora e coordenadora do COLETIVO MULHERES ARTISTAS, organizou uma série de atividades para o CMA no FSM (23 A 30/1/2021). Entre os diversos títulos honoríficos que tem recebido e premiações, destaca-se o d Embaixadora da Paz (2020,OMDDH)
Parabéns a todos… muito bom e produtivo.