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MODERNIDADES EXÓGENAS, CONTEMPORÂNEOS ENDÓGENOS (SERÃO?)

O episódio histórico resultou em 30 mortos, 945 prisões, 461 deportados e 110 feridos em menos de duas semanas de conflitos, além de muitos dos revoltosos terem sido contaminados fatalmente pela doença.

Por Angeli Rose / Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 08/01/2021

A ciência progride. A Literatura, não. Copérnico destruiu

                                                                                                       Ptolomeu. Camões não destruiu Homero.

                                                                                                                                          (Agripino Grieco)

Estamos às portas do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, acontecida na 2ª. quinzena de fevereiro daquele ano. Assim como ainda este ano comemoraremos o Bicentenário da Independência do Brasil. Vou parar por aí, porque certamente este ano, 2022, que acabamos de festejar a passagem para ele, deve concentrar muitas datas marcantes e significativas para o cenário cultural tão abalado pela Pandemia do Corona vírus. Destaquei apenas esses dois grandes eventos para a Cultura a fim de recordar momentos que deverão ser recorrentemente alvos de nossas atenções em jornais, revistas e programas de entrevista.

Mas vale voltar um pouco mais no tempo para lembrar de um episódio que aproxima o passado do presente com manchas de “Negacionismo”, refiro-me à Revolta da Vacina de 1905. O leitor deve estar farto de ler sobre ela no noticiário, pois foi logo a chamada adequada ante o posicionamento de muitos cidadãos, especialmente esses que batem palmas para o governo federal atual de olhos fechados e ouvidos moucos.

A “Revolta da Vacina” [https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2 ], assim foi chamada porque consistiu exatamente nisto: numa revolta popular contra a obrigatoriedade da vacina contra a Varíola, Na época, já havia certa insatisfação em relação ao governo de Rodrigues Alves aqui no Rio de Janeiro, então, o responsável por tal iniciativa só poderia pagar por querer submeter a sociedade brasileira a tamanho “absurdo”, o Presidente Rodrigues Alves da capital federal da República sediada no Rio de Janeiro.

O episódio histórico resultou em 30 mortos, 945 prisões, 461 deportados e 110 feridos em menos de duas semanas de conflitos, além de muitos dos revoltosos terem sido contaminados fatalmente pela doença.

Um pouco depois, vamos lembrar, o silêncio e a dor foram a sombra do surto de gripe espanhola que acometeu a população brasileira na década de dez, início do século XX.E o que marcou? Marcou o carnaval que veio logo depois do surto da “gripe espanhola”. Iguais dificuldades estão encontrando nesse momento: O carnaval foi suspenso aqui no Rio de Janeiro pelo prefeito Eduardo Paz. E tal decisão anunciada contrariou muito gestor de blocos de rua.

Se lá em 1900 e pouquinho, o homem começava a descobrir a pedagogia das ruas, avenidas, das alturas dos arranha-céus, praças e do mar, percebendo-se motivado pelo exterior, parece que agora, nos anos 20 do século XXI o homem contemporâneo, o de hoje, foi exigido a redescobrir-se motivado pelos interiores de sua casa, das paisagens citadinas limitadas, dos seus pensamentos, breves ou não, porque a mais nova cepa do vírus, a Ômicron, parece não ser o fim da Pandemia arrastada no tempo e acelerada na ocupação dos corpos. E, curiosamente, o que temos é um governo federal “revoltoso” contra as vacinas do Corona Vírus.

Mas o que considero valer também um pouco de reflexão e contemplação, já que parece que estamos fadados a mais meio ano, no mínimo, tolhidos pela potencial letalidade do vírus que se espalha vertiginosamente no cotidiano e mutila nossa vocação para as comemorações e festejos populares, sem dar tempo para que nos revoltemos contra ele, o vírus, é a impositiva condição de endogenia a que estamos tendo de nos adaptar, como se isso fosse algo absolutamente estranho ao homem atual.

E eu registraria, encaminhando-me para o fim da crônica, que o fato de a Ciência ter proporcionado em tão pouco tempo as vacinas necessárias para destruir o vírus, ou ao menos aplacar sua fúria contra nossos corpos – o que é um grande mérito merecedor do Nobel da Medicina – fez desse fato responsável por prolongar em nossas vidas a possibilidade de contemplar Camões,Homero e tantos outros bardos e sonhadores que iluminam nossos sonhos com as palavras domadas em estado poético.

Assim pode-se pensar que o moderno Agripino Grieco, nascido em Paraíba do Sul(RJ) em 1888 e falecido no Rio de Janeiro em 1973,morador do Meier, zona norte da cidade, crítico e erudito incomparável, curiosamente, querido pelos leitores e respeitado por muitos escritores, acertou em cheio o modo de dissipar as contendas entre Ciência e Arte, através dos tempos que nos separam deste intelectual.

Por isso, recomendo ao leitor e à leitora que esteja seguindo no fim de semana as recomendações de retomar prudentemente o isolamento, atendo-se a pequenos grupos, ou apenas ao meio familiar, que experimente voltar a Camões ou ao vate de sua preferência, ou a Castro Alves que, segundo Alvaro Moreyra – contemporâneo de Agripino – , “ Brasileiro. Não era uma voz na multidão. Era a multidão numa voz” .

E se ainda lhe sobrar mais tempo de contemplação, não deixe de ler a deliciosa antologia organizada por Ruy Castro, As vozes da metrópole. Uma antologia do Rio dos anos 20, o que deve levar ao deleite e despertar a imaginação para conhecer melhor daqueles modernos que vivenciaram o processo de modernização das cidades ocidentais. Mas não se preocupe, porque o livro anterior do jornalista e biógrafo, Metrópole à Beira-Mar. O Rio moderno dos anos 20, certamente irá aplacar tal curiosidade sobre idos tempos do homem exógeno.

Boa semana de leituras!

Angeli Rose é carioca, mãe de Thiago Krause, professora, pesquisadora, Dra. em Letras, PhD em Educação e Letras (UFRJ), fundadora e Presidente do Instituto Internacional Cultura Em Movimento (IICEM), fundadora e coordenadora geral do Coletivo Mulheres Artistas(CMA),ativista cultural, feminista; Diretora de Eventos e Divulgação da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil(AJEB) e membro de diversas associações e academias de Letras, Artes e Ciências. Autora do infanto-juvenil Biografia Não Autorizada de Uma Mulher Pancada e dos livros técnicos: Reflexões sobre experiências de leitura e algumas contribuições do mito de Don Juan; e Jornalismo Cultural: Um exercício de valor, ambos pela editora Atena.@angeliroseescritora // http://lattes.cnpq.br/4872899612204008

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