O ponto mais importante que distingue a política de Pequim, que inclui investimentos e incentivos na área de tecnologia, de seus concorrentes é que ela adota uma abordagem holística do local ao nacional e faz dos comitês partidários o principal pilar dessa política.
Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 22/05/23
Observando as mudanças no mundo apresentamos uma matéria sobre os crescentes investimentos da China em tecnologia e seus proeminentes objetivos estratégicos em 3 perguntas..
1 • Quais são as políticas de incentivo que a China implementou para desenvolver sua capacidade industrial e tecnológica?
O objetivo principal e estratégico dos investimentos da China em tecnologia é tornar o país uma potência global, aproveitando as oportunidades oferecidas pela tecnologia. A China, sob a liderança do presidente Xi Jinping, adota uma política tecnológica que prioriza o investimento em inovações tecnológicas, da qual participam todas as instituições governamentais, do local ao nacional. Em vez de um sistema capitalista, esta política é baseada mais em um sistema construído sobre um vínculo entre empresas estatais e empresas privadas por meio de uma variedade de canais formais e informais. Essa política, baseada na estrutura do partido-Estado, tendo como centro o Partido Comunista da China (PCC) e focando tanto na tecnologia quanto no planejamento industrial, basicamente incentiva as empresas locais a competir primeiro no mercado local e depois no cenário global. O modelo chinês contempla basicamente os objetivos de localização setorial, criação de espaços de mercado e aumento de produtividade. Graças a investimentos privados e apoio do governo no setor privado, empresas como Baidu, Tencent, Alibaba competem com empresas multinacionais em áreas de alta tecnologia.
Ao adotar uma estratégia em que todos os mecanismos estatais, do local ao nacional, atuam em conjunto, a China pretende aproveitar as oportunidades políticas, econômicas, militares e comerciais oferecidas pelas tecnologias inovadoras e tornar-se o país líder no campo da tecnologia até 2035 . Esse modelo, no qual todas as instituições estatais trabalham em coordenação entre si, difere do modelo dos Estados Unidos (EUA) e dos países ocidentais, tanto por ser misto quanto por centralizar a estrutura partido-Estado. Ao mesmo tempo, a classificação das políticas de incentivos da China como prioritárias para o desenvolvimento do mercado local e abertura à competição global faz com que esse modelo diverja do sistema ocidental. Enquanto alguns recursos disponibilizados no âmbito de políticas de incentivo visam fortalecer a alta competição tecnológica e preparar as empresas para competir no cenário global, especialmente em áreas como inteligência artificial, alguns outros apoios financeiros são direcionados diretamente ao mercado doméstico. Assim, o objetivo é desenvolver industrialmente alguns centros, cidades ou regiões locais da China e fortalecer o mercado local. Por exemplo, o município de Pequim fornece algum apoio a empresas do setor privado, especialmente em veículos autônomos.
A China, que vem implementando reformas financeiras desde 1979, continua a desenvolver o modelo que construiu com as opções de proteger o mercado doméstico, por um lado, encorajar investimentos estrangeiros seletivos, comprar empresas ocidentais ou cooperar, por outro. O país começou a se integrar aos mercados globais e a recorrer a programas de alta tecnologia e inovação, implementando programas de apoio às Empresas Econômicas Estatais (SOEs) e ao desenvolvimento do setor privado. Declarando Planos Quinquenais em paralelo, Pequim visa transformar o mercado doméstico, alcançar crescimento econômico sustentável e levar as empresas a níveis competitivos neste período de 5 anos. Para o efeito, através do financiamento de I&D e programas de apoio às EES; desenvolvendo o ecossistema de pesquisa, incluindo universidades;
Neste ponto, além de seus Planos Quinquenais, a China pretende mudar para uma produção de alto valor agregado no campo da tecnologia com políticas como “Made in China 2025” e “Internet Plus”. Com foco em investimentos em áreas críticas nesse quadro, a China implementou um modelo que incentiva o surgimento de empresas líderes que podem competir tanto em nível nacional quanto global. Aumentando seus gastos com P&D em 350%, a China forneceu 250,7 bilhões de dólares em apoio financeiro a empresas desde 2014. Esta situação é decisiva para que as empresas desenvolvam suas capacidades e capacidades, além de ter um impacto direto na posição da China na competição global.
2 • Quais áreas estratégicas o movimento tecnológico da China cobre?
Um dos aspectos mais importantes da política de tecnologia da China é sua orientação para integrar inovações e capacidades civis e comerciais com campos militares, como a indústria de defesa. Com foco no investimento em tecnologias de uso dual, a China investe em áreas estratégicas como sistemas espaciais e de satélites, espaço cibernético, tecnologia quântica, inteligência artificial, sistemas de automação, indústria de robótica e armas hipersônicas. Nesse contexto, a China, que começou a facilitar o investimento de empresas do setor privado na área militar, por outro lado, concentra-se em áreas como computação em nuvem, big data e redes locais de internet móvel, graças à sua política de Internet Plus.
O ponto mais importante que distingue a política de Pequim, que inclui investimentos e incentivos na área de tecnologia, de seus concorrentes é que ela adota uma abordagem holística do local ao nacional e faz dos comitês partidários o principal pilar dessa política. Nesse sistema, onde a cooperação setor privado-Estado ou o controle estatal está em alto nível, outro objetivo da China é fortalecer o mercado local e incluir instrumentos que permitam às empresas que competem nesse mercado se tornarem competitivas na arena global ao longo do tempo . Em outras palavras, a China também molda sua visão de competição global ao manter a competição forte no mercado local e encorajar as empresas a investir em áreas críticas.
3 • Qual é a principal reivindicação da política tecnológica da China?
O ideal de Xi Jinping de “seguir inquestionavelmente o caminho da independência no campo da inovação” e tornar o país uma potência global no campo da inteligência artificial constitui a base da estratégia tecnopolítica da China. A abordagem, que vê a futura posição global da China em tecnologias inovadoras, também visa aumentar a eficácia do país no mercado global. Isso está fazendo com que a China invista em tecnologias inovadoras e priorize o desenvolvimento de ferramentas competitivas no espaço digital.
Neste momento, o objetivo mais importante do país é aumentar os investimentos em áreas como inteligência artificial, tecnologias quânticas e big data, e passar para uma produção com alto valor agregado no campo econômico. Desta forma, a China, que pretende aumentar a sua quota de mercado tanto no mercado digital como na economia global, quer ter uma palavra a dizer no mercado da economia digital, que deverá ultrapassar os 15 biliões de dólares até 2030. Neste ponto, empresas como Tencent, Baidu, Huawei e Xiaomi oferecem vantagens significativas para a China.
Além do retorno econômico de tecnologias inovadoras, é outra prioridade para a China integrar as oportunidades tecnológicas nos campos civil e comercial no campo militar e criar uma potência militar adequada para as guerras do futuro. Neste ponto, a China; continua a desenvolver suas capacidades tecnológicas, como espaço, sistemas cibernéticos, veículos autônomos e quantum para fins civis e militares. O país se concentra em transformar seu conceito militar e desenvolver novas estratégias graças às suas capacidades tecnológicas.
Neste ponto, a crescente capacidade tecnológica da China também afeta a competição energética global. A crescente capacidade econômica e tecnológica da China, especialmente suas iniciativas em áreas estratégicas como inteligência artificial, tecnologias quânticas, atividades espaciais e 5G, perturba Washington. Percebendo a ascensão da China como uma ameaça à sua hegemonia global, os atores tomadores de decisão em Washington veem a rivalidade EUA-China em um nível estratégico e recorrem a tentativas de limitar a China. A capacidade tecnológica da China e suas repercussões nos campos civil, comercial e militar são considerados sérios riscos para Washington, que quer manter sua superioridade nos campos político, militar, econômico e tecnológico.
[Mesut Özcan, estudante de doutorado da Universidade Sakarya]
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