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Império da Tristeza – Por Paulo Siuves

As crianças nascerão e vão chorar, precisam chorar para provar que estão vivas

Império da Tristeza

É tão triste! O império da Tristeza já vai começar. Ninguém está a salvo em lugar algum, todos estarão sujeitos à tristeza e ela se abaterá sobre qualquer que respirar o ar das ruas das cidades onde governará o triste imperador. Sua esposa, emurchecida por ter sido negado a ela o direito de ser o contrário de triste, assistirá da sacada do seu Palácio de Tristal as pessoas sendo roubadas, torturadas, aviltadas, e toda sorte de poder que provoca a tristeza. 

As despesas com o básico serão triplicadas, os gastos com saúde estará fora do orçamento, aquele que ousar dizer que vive uma vida saudável deverá ser punido. Saúde é antônimo de tristeza e isso será proibido. Preparem-se todos para o legado de tristeza e lástima. Infelizes trabalhadores vão transitar pela cidade em carros pretos ou bondes lentos. Os ônibus serão proibidos, porque é possível conversar dentro de coletivos e ninguém pode ter alegres conversas em público. 

As crianças nascerão e vão chorar, precisam chorar para provar que estão vivas. Seus pais estarão ansiosos para pegá-las no colo, isso será proibido, um vírus estará a solta e pode infectar o bebê, levem os bebês para longe dos pais, as mães terão leite sobrando em seus peitos e sofrerão por determinação do imperador. Tristeza em toda parte. Essa é a nova ordem. Para isso, haverá pandemia, haverá máscaras nos rostos cobrindo sorrisos. Abominação terrível será o sorriso em vias públicas. 

O império da Tristeza durará cem anos e seu legado será lembrado para sempre. Farão músicas tristes em tom menor. Usarão escalas melódicas para compor odes à tristeza e os ritmos que antes afastavam o desânimo e a angústia serão abolidas. As pessoas serão amarguradas, e os seus filhos e suas filhas terão nomes de desesperança, melancolia e prostração. Os amigos vão beber em nome da tristeza e beberão vinhos para falarem poesias tristes. 

Será o império da recessão econômica, da desigualdade social, estaremos em plena época de restrição e afastamento familiar. E o reino será triste, o governo será de tristezas e dissabores. Preparem-se, pois vai começar o império da Tristeza imposto pelo Estado e pela Justiça. E quem nascer nesse século triste jamais saberá o que é carnaval, nunca vai brincar em festas juninas, não saberão o que é natal e réveillon. Os jornais serão fontes de lamentação e os filmes estarão ganhando o Oscar do mais triste possível. Tiros, flechas voarão de dia e tiros serão ouvidos de noite sem que haja guerra, porque o império da Tristeza é sem guerra. Soldados perscrutarão as casas para impor o toque de chorar. Marcharão triunfantes ante olhares atônitos e rostos tampados por máscaras. E cem anos de tristeza e depressão será iniciado. Cumpra-se.

Paulo Siuves

O Dr. Paulo Siuves nasceu em julho de 1971 na cidade de Contagem, Minas Gerais, e é bacharel em Letras pela UFMG. Além disso, ele é autor de dois livros e organizador de coletâneas. Atua como servidor público municipal e faz parte da Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte. Paulo Siuves é colunista nos jornais; Jornal Clarin Brasil e Cultural Rol. Ele possui um Ph.I. em Filosofia Universal e um Dr.H.C. em literatura. Paulo Siuves é ex-presidente e membro fundador da Academia Mineira de Belas Artes (AMBA) e também é membro da Academia de Letras do Brasil nas seccionais Suíça, Minas Gerais (RMBH) e Campos dos Goytacazes/RJ, além de pertencer a muitas outras academias.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores

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