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ATÉ TU, BRUTUS? – Por Angeli Rose

A traição pode ser hoje o assunto em questão e sobre ela há inúmeros
episódios históricos e literários que reatualizam e, por conseguinte, chegam a ritualizar tal comportamento

ATÉ TU, BRUTUS?


Angeli Rose

“Não se pode chamar de valor assassinar seus cidadãos,
trair seus amigos, faltar à palavra dada, ser desapiedado,
não ter religião. Essas atitudes podem levar à conquista
de um império, mas não à glória.” (Maquiavel)


A famosa questão introduzida pelo Imperador Julio Cesar e dirigida aos
presentes numa reunião de senadores, diante do reconhecimento de seu filho
adotivo, Marcus Brutus, como um dos seus traidores, continua sendo
atualizada a cada vez que um cidadão ou cidadã desleal trai alguém, de acordo
com os próprios interesses. Há, segundo historiadores, indícios na história
antiga, lá pelo século I A.C. de que a frase foi de fato proferida .
Mas creio que o texto Julio Cesar de Willian Shakespeare seja a melhor
perpetuadora do episódio, como é próprio da natureza da obra de arte, fazendo
com que assuma um valor simbólico com o tempo e, portanto, representativo
da decepção e da perplexidade vivida por alguém ante uma conspiração para
derrubar ou tirar-lhe algum poder. Na peça, Cesar proferiu a frase no ato III,
cena 2,quando está sendo esfaqueado até a morte. Aliás, o dramaturgo inglês
fez da traição o tema de 9 de seus textos,com a genialidade que a literatura
universal soube reconhecer.
No cenário lusófono, quem pode esquecer-se de O Primo Basílio de Eça de
Queirós, escritor português? Ou de Dom Casmurro de Machado de Assis
(muitos críticos dizem ser influenciado por Otelo de Shakespeare)?
Confesso que prefiro ler sobre o assunto na Literatura ou na Filosofia a ser alvo
de alguma traição. Entretanto, em tempos de “individualismo” e da falsa crença
na ideia de “progresso” são noções que alimentam traições, hoje ninguém está
a salvo do jogo de interesses com sofisticação.
O individualismo é um alimento para a traidora porque acredita que seus
interesses estão acima de tudo e de todos. Este tipo de criatura usa a todos; e
o “progresso”, porque a mesma criatura individualista sustenta a crença no
progresso,ou seja, ela vê-se indo cada vez mais “pra frente”,ou como
Maquiavel bem iluminou,vê-se conquistando, expandindo territórios de poder.
Dias desses uma amiga passou-me um fragmento que considerei bastante
pertinente do genial Nelson Rodrigues: “Só o inimigo não trai nunca.”
A pensar, tomei a frase como um aviso. Num rápido flash back, reconheci que
as traições vividas não vieram de pessoas amigas. Ruas de mão única. Foram
oriundas de pessoas que eu considerava “amigas”, porém, nunca assim se
fizeram.
Então, a traição pode ser hoje o assunto em questão e sobre ela há inúmeros
episódios históricos e literários que reatualizam e, por conseguinte, chegam a ritualizar tal comportamento. Mas lembremos rapidamente de alguns
episódios:


Imagino que com certa resistência, o Presidente Luís Inácio da Silva deve ter
emitido a mesma frase de Cesar ante a revelação de que o então Ministro do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI),General Gonçalves Dias,estava
dentro do Palácio do Planalto durante os atos terroristas e golpistas de 8 de
Janeiro de 2023.


Ainda na história do Brasil: Em 1789, colônia de Portugal: Joaquim Silvério dos
Reis que traiu Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, que acabou enforcado e
esquartejado.


Muito mais tarde, talvez tenha mudado o curso da história, o rompimento entre
A União Soviética de Stalin e a Alemanha nazista em 1939, às vésperas da 2ª.
Guerra Mundial de Hitler, depois que este descumpriu o tratado de “não-
agressão germano – soviético.


O verbo Trair vem do latim tradere, que significa “entregar, passar adiante”.
Porém, tradere era formado pelo verbo trans-, “além, adiante”, mais dare, “dar,
entregar”. Mas assumiu a conotação de “entregar algo em prejuízo de outrem”,
como quem passa informações que possam ser usadas com más
conseqüências. É curioso pensar que a tomada das informações seja um
recurso mais internalizado do que a famosa fofoca, que não está excluída.
As vitórias e as conquistas podem levar a momentos de satisfação, entusiasmo
e até de felicidade; mas a “gloria”, esta só virá com ética, respeito à diferença
e, principalmente, com a sabedoria da humildade.


É nesse ponto que a traidora usa as pessoas, ainda que de fala mansa e doce,
faz-se de ingênua, ou desinformada, para assim que tiver as informações
necessárias, de modo oportunista, excluir os “informantes” e seguir seu
caminho acumulando conhecimento e poder. É uma pessoa acumuladora,
acredita que a expansão de territórios ou conquistas a farão “vitoriosa”. O que
ela não sabe,ou não acredita que aconteça é que os demais estão a observar
seu comportamento e talvez se façam a pergunta: “Será que ela seria capaz de
fazer isto comigo?”
E por que não?
Lá vem a loba em pele de cordeira…
(Mas isto é outra história para outro dia!)

Angeli Rose é colunista de jornais digitais, Presidente do INSTITUTO
INTERNACIONAL CULTURA EM MOVIMENTO, fundadora do COLETIVO
MULHERES ARTISTAS, carioca, geminiana. Adora viajar, ler e praia.
Professora de Literatura, pesquisadora há mais de 25 anos. Recebeu
recentemente a Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, além de uma Moção de Aplausos e Louvor da
mesma “casa do povo”. Com alegria, é Embajadora Cultural das feiras virtuais
do livro organizadas pela Confederación Del Libro Peru,entre outras atividades
e funções que exerce na cena cultural com espírito de colaboração.
@angeliroseescritora // [ http://lattes.cnpq.br/4872899612204008 ]

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