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Cotidianos – Por Lin Quintino

“A moça do caixa, protagonista relutante, segue no automático…”

Cotidianos

O leite derramado sobre a mesa
é uma tragédia particular.

Alguém suspira fundo,
recolhe os cacos de mais um dia
que ainda nem começou.

Na fila do supermercado,
uma discussão
sobre o preço do tomate
é o ato central de uma peça
sem ensaio.

A moça do caixa,
protagonista relutante,
segue no automático,
digitando as cenas do próximo cliente.

O elevador quebra
entre o décimo e o infinito,
e dois estranhos
trocam olhares que dizem:
“será que é aqui
que termina a história?”

Mas não,
o técnico chega,
e o desfecho
é só um suspiro de alívio.

À noite,
a janela aberta dá ao vento
o papel principal.

Ele entra, dança com as cortinas,
e encerra o espetáculo
num silêncio que ninguém aplaude.

A vida insiste
em escrever dramas curtos,
sem final feliz,
mas cheios de poesia.

Lin Quintino

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”

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