Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 15/12/24
LITERATURA E FILOSOFIA
Angeli Rose
Novela e poesia funcionam ,sem dúvida, como formas de
conhecimento em que o pensamento se encontra dissol-
vido,disperso,através das quais o saber sobre temas es-
senciais e últimos corre sem se revestir de qualquer au-
toridade,sem se dogmatizar,tão livre que pode parecer
extraviado.
(María Zambrano, Hacia un saber sobre el alma)
A relação entre Filosofia e Literatura é antiga e remonta a produções seculares,
desde a antiguidade, no entanto, é com Aristóteles que temos a “fundação” dos
estudos literários, com A Poética. Mas cabe logo de início admitir que são 3 os
elementos que as aproximam e distinguem: Linguagem,pensamento e
escritura. E a estes que os expoentes no campo têm se dedicado mais
detidamente.
A epígrafe escolhida faz parte de meus apontamentos que há anos dedico
sobre a leitura da obra da filósofa espanhola de Málaga, María Zambrano,
primeira mulher a ganhar o Premio Cervantes. Volto sempre a ela quando
desejo pensar um pouco mais sobre o ofício de escrever e criar pelas palavras.
E tempos de Inteligência Artificial (AI),me pergunto se algumas noções tão
caras ao pensamento de Zambrano,ou alguns aspectos que o desenvolvimento
de sua obra nos legou poderão estar ao alcance das sutilezas de
sensibilidades estéticas. Refiro-me à “razão poética”,por exemplo, que o breve
trecho introduz ao comentar que sem se dogmatizar ou apresentar-se como
autoridade de saberes, a poesia e a novela, isto é, em última instância a
Literatura, dão a ver alargando o conhecimento humano sobre si mesmo.
Minha reflexão é insipiente, já que pouco entendo de AI, de seus usos e
desusos ,embora esteja a ler e conversar sobre o tema.
Entretanto, o que desejo hoje trazer para a pauta é o acontecimento de que a
Literatura que se alimenta da Filosofia e vice-versa pode suspender a razão por
um tempo,assim como pode por outra mão empreender sensibilidade estética
ao pensamento. E nisso reside a “razão poética”,grosso modo.
A partir de tais referências e elementos li GUIMEL E A FILOSOFIA, um
pequeno livro de Marilena de Jesus M.Nascimento,pequeno porque tem 46
páginas apenas, mas contém um mundo como só a boa leitura pode conter.
Guimel é o personagem que encontra uma fada e estabelece com ela um
diálogo inusitado sobre o autoconhecimento e a vida. O ser da ordem do
Maravilhoso, a fada, é o que representa o pensamento filosófico ,porque o
apresenta para o menino que é iniciado.
A leitura é agradável e é um vôo sobre as dúvidas que pairam sobre a
existência humana ,sem querer dirimi-las com certezas : “Ela então lhe falou
com carinho: Cada manhã é um recomeço.É assim na natureza. A cada nascer
do sol os animais vibram,cantam,saúdam o novo dia com toda a intensidade
que possuem(…). Tente sentir esta vibração a cada manhã ao perceber a luz
entrando pela sua janela e agradeça sempre.Desta forma você evolui.”
Ao lado disso, as ilustrações são como um caderno da infância em que
guardamos as imagens mais significativas de nossa memória em tons pastéis.
E o melhor de tudo,a prosa poética ensaiada argumenta com diálogos
afetuosos e singelos o que muitos de nós gostaríamos de ter ouvido de nossos
pais ou falado para nossos filhos.
Miguel, a quem o livro foi dedicado e por quem a prosa foi inspirada,certamente
ainda levará alguns anos para ler por ele mesmo a obra,assim como outros
meninos e meninas ,entretanto, caberá a nós, adultos, buscar introduzi-los e
aos adolescentes à leitura de boas palavras e grande sensibilidade.
Guimel e Filosofia (2024) é um daqueles livros,publicado pela editora Cultura
Em Movimento do Instituto Internacional Cultura Em Movimento,com Prefácio
de Michele Angelillo – artista plástico e escritor italiano de Nápolis – , que faz o
convite à leitura : “ Convido especialmente os jovens, a ler o livrinho,a
mergulhar neste breve,fantasioso e estimulante conto filosófico e captar sua
mensagem,com o objetivo de ampliar seu arsenal de ideias para viver uma vida
melhor e mais consciente,contribuindo para a construção de uma sociedade
mais justa e equilibrada.”.
Boa leitura!
Angeli Rose é colunista de jornais digitais, Presidente do INSTITUTO
INTERNACIONAL CULTURA EM MOVIMENTO, fundadora do COLETIVO
MULHERES ARTISTAS, carioca, geminiana. Adora viajar, ler e praia.
Professora de Literatura, pesquisadora há mais de 25 anos. Recebeu
recentemente a Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, além de uma Moção de Aplausos e Louvor da
mesma “casa do povo”. Com alegria, é Embajadora Cultural das feiras virtuais
do livro, organizadas pela Confederación Del Libro Peru,entre outras atividades
e funções que exerce na cena cultural com espírito de colaboração.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”