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Manhã de Chuva – Por Lin Quintino

As manhãs de chuva têm essa estranha capacidade de nos fazer pensar em coisas que, em dias secos, passariam despercebidas.

Manhã de Chuva 

Lin Quintino

A manhã começa silenciosa, como se o mundo estivesse em suspenso. As gotas caem miúdas, quase tímidas, formando pequenos rios nas calçadas, alheias à correria da cidade que, mesmo assim, insiste em acordar.

Nas janelas, o vidro embaçado reflete rostos distraídos, olhares perdidos. A chuva, com sua cadência lenta, parece convidar à pausa, mas ninguém aceita. O metrô corre, o trânsito lateja, e os passos apressados se multiplicam nas ruas. Cada um com seu guarda-chuva, seu rumo, sua urgência.

Mas há algo na chuva que muda a cidade. O asfalto molhado ganha outro brilho, uma melancolia disfarçada. As cores parecem menos vibrantes, e o ar, impregnado de umidade, carrega a nostalgia de dias que não voltam. Os parques, vazios, guardam segredos entre folhas molhadas. Os bancos de praça, solitários, esperam por alguém que tenha coragem de sentar, de sentir o tempo passar, de ouvir o som da chuva.

As manhãs de chuva têm essa estranha capacidade de nos fazer pensar em coisas que, em dias secos, passariam despercebidas. O mundo parece mais lento, mesmo que a rotina siga seu ritmo implacável. Talvez seja a água que escorre pelos vidros, desenhando caminhos aleatórios, que nos lembra da imprevisibilidade da vida. Ou talvez seja o som suave das gotas, que nos convida a um silêncio interno que raramente ouvimos.

Enquanto os carros espirram água nas esquinas e os pedestres pulam poças, há quem veja poesia no caos. O senhor de cabelos grisalhos que observa a rua pela janela do café, a criança que estica a mão para sentir o frio da chuva, ou aquele casal que caminha devagar, sem pressa de se esconder.

A chuva pode ser incômoda, sim, mas também é pausa. Uma pausa no barulho, uma pausa na pressa. Uma manhã de chuva é, talvez, um lembrete de que não controlamos o tempo, de que há dias em que o céu decide falar baixo e cabe a nós ouvir. Ou seguir correndo, como sempre.

Na cidade que não para, é preciso coragem para aceitar o convite da chuva: parar por um instante, deixar que as gotas lavem a alma e, quem sabe, enxergar além do vidro embaçado, além da pressa cotidiana, algo que só o tempo molhado revela.

Lin Quintino

Lin Quintino – Mineira de Bom Despacho, escritora, poeta, professora e psicóloga. Academia das quais faz parte: Academia Mineira de Belas Artes – AMBA / ANLPPB- cadeira 99, / ALPAS 21, sócia fundadora, cadeira 16; / ALTO; / ALMAS; / ARTPOP; / Academia de Letras Y Artes Valparaíso (chile); / Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires; / ACML, cadeira 61 Membro da OPB e da Associação Poemas à Flor da Pele. Autora dos livros de poemas Entrepalavras e A Cor da Minha Escrita. Comendas: destaque literário da ALPAS-21, / Ubiratan Castro em 2015 pela ABRASA / Certificado pela ALAF de Destaque Literário em 2014 7 Troféu destaque Mulheres Notáveis – Cecília Meireles- Itabira/MG, 2014 Participou de várias coletâneas e antologias nacionais e internacionais.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”

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