O som das risadas da criança é uma tentativa de suavizar o ambiente, mas não impede que todos ali se lembrem do motivo que os trouxe.

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 02/03/25
A sala de espera
Lin Quintino
Na sala de espera do consultório, o tempo parece ter outra textura, uma lentidão própria. O relógio na parede avança, mas os ponteiros parecem pesados, como se arrastassem consigo o cansaço das pessoas ali sentadas. Cada uma delas traz seu silêncio, sua ansiedade contida, sua dor discreta.
Na poltrona do canto, uma senhora de cabelos brancos folheia uma revista velha. Não está interessada nas matérias, é só um jeito de fazer o tempo passar. De vez em quando, ela ajeita os óculos na ponta do nariz, mas o olhar segue perdido, fixo em um ponto distante, onde talvez more uma preocupação que ela tenta disfarçar.
Ao lado, um homem de terno olha para o celular com a testa franzida. Talvez esteja respondendo e-mails, fechando algum negócio importante, mas o brilho da tela não consegue apagar o cansaço no rosto. A gravata frouxa indica que ele já abandonou parte da formalidade — no consultório, todos são iguais, todos esperam, e a saúde não se apressa para ninguém.
Perto da porta, uma mãe entretém a filha pequena com um joguinho no tablet. A menina ri, alheia ao nervosismo da mãe, que morde os lábios enquanto tenta manter o sorriso. O som das risadas da criança é uma tentativa de suavizar o ambiente, mas não impede que todos ali se lembrem do motivo que os trouxe.
A porta se abre, e uma voz anuncia o próximo nome. Os olhares se levantam, brevemente, cheios de expectativa, para logo voltarem à quietude quando percebem que ainda não é a vez. A pessoa chamada se levanta devagar, ajeita a roupa e caminha até o consultório. Os outros, sem alternativa, seguem no ritual da espera.
Na sala de espera, não há pressa que resolva, nem distração que baste. Tudo é uma suspensão do cotidiano, uma pausa forçada que nos lembra de nossa fragilidade. E, no fundo, todos ali sabem: por mais que o tempo demore a passar, quando chegar a hora, a consulta vai trazer respostas que talvez mudem algo — ou que simplesmente prolonguem mais um pouco essa espera, que parece nunca acabar.
Lin Quintino

Lin Quintino – Mineira de Bom Despacho, escritora, poeta, professora e psicóloga. Academia das quais faz parte: Academia Mineira de Belas Artes – AMBA / ANLPPB- cadeira 99, / ALPAS 21, sócia fundadora, cadeira 16; / ALTO; / ALMAS; / ARTPOP; / Academia de Letras Y Artes Valparaíso (chile); / Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires; / ACML, cadeira 61 Membro da OPB e da Associação Poemas à Flor da Pele. Autora dos livros de poemas Entrepalavras e A Cor da Minha Escrita. Comendas: destaque literário da ALPAS-21, / Ubiratan Castro em 2015 pela ABRASA / Certificado pela ALAF de Destaque Literário em 2014 7 Troféu destaque Mulheres Notáveis – Cecília Meireles- Itabira/MG, 2014 Participou de várias coletâneas e antologias nacionais e internacionais.
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