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Entre Herança e Escolha: Quando o Caçula Escolhe Continuar

Ele entende que cuidar do que estou construindo não é repetir meus passos, mas preservar e dar continuidade à essência do que acredito

Entre Herança e Escolha: Quando o Caçula Escolhe Continuar

Por Paulo Siuves

Ser pai é mais do que guiar, ensinar ou proteger — é criar raízes que se estendem para além da própria existência. É construir, com o passar dos dias e dos anos, um legado que não se resume a feitos concretos, mas que se revela nos valores que plantamos no coração dos nossos filhos e que, silenciosamente, florescem por gerações.

Hoje, enquanto celebro os dezoito anos do meu caçula, JP, olho para trás e vejo a jornada que me trouxe até aqui. Lembro-me vividamente das conversas — e dos pequenos embates carinhosos — que tive com minha esposa sobre o nome que daríamos ao nosso filho. Eu queria homenagear a mãe dela, Maristela, com o belíssimo nome Maria Estela, caso fosse menina. Ela, por sua vez, torceu o nariz. Não queria aquele nome de jeito nenhum. A escolha do nome, que surgiu como uma ironia do destino, acabou se tornando um acordo inusitado: se fosse menina, eu escolheria; se fosse menino, ela escolheria. Simples. Justo. Ingênuo da minha parte.

O destino, com seu humor peculiar, fez questão de me lembrar disso. Quando o ultrassom revelou que era menino, minha esposa não hesitou: escolheu colocar o meu nome em nosso filho. José Paulo Siuves Filho. Fiquei sem argumentos. Fui vencido, sem apelação. Sem direito a palpite.

O apelido, JP, já tinha sido escolhido por ela antes mesmo de bater o martelo no nome completo. JP. Curto, forte, marcante. E assim ele cresceu: com identidade própria, personalidade firme e um senso de propósito que sempre me surpreendeu. JP sempre me diz que não pretende ser um mero herdeiro. Ele se vê como um sucessor — alguém que escolheu, por vontade própria, cuidar do que estou construindo e continuar aquilo que acredito ser meu maior sonho: deixar um legado de cultura e paz.

Ele entende que cuidar do que estou construindo não é repetir meus passos, mas preservar e dar continuidade à essência do que acredito. Tem seus próprios sonhos, quer seguir o próprio caminho, mas sabe que parte da sua missão é manter vivo esse legado. Me derreto com isso. Porque paternidade também é isso: se emocionar com o olhar de um filho que entende o que você busca deixar para o mundo.

Mas minha história como pai vai além do JP. Eu sou pai de dois casais. E cada um deles é parte essencial dessa jornada que me transformou.

Meus filhos Kenya Helena, Marcus Paulo e Kelly Helena cresceram sob o mesmo céu da infância, mas em casas diferentes da minha. A vida nos desenhou caminhos diversos, mas nem por isso deixei de ser presente, atento, amoroso. Nunca fui um pai ausente. Sempre estive lá — participando, amando, acompanhando de perto, mesmo estando fisicamente longe. Nossa relação é sólida, construída na base do carinho, da escuta e do respeito. E meu orgulho por eles é imenso. Busquei construir com eles laços verdadeiros e, hoje, posso dizer que tenho não só filhos, mas amigos.

Minha filha mais velha, Kenya Helena, carrega em si firmeza e delicadeza, força e acolhimento. Hoje, estuda arquivologia com os olhos voltados para aquilo que produzo. Ela compreende meu desejo de deixar algo para além da minha passagem por este mundo. É, de certo modo, o princípio. JP, por outro lado, representa o fim desse ciclo paterno — mas também o recomeço de tudo aquilo que sonho ver continuar. Eles dois, minha primeira filha e meu filho caçula, dizem que cuidarão, ao modo particular de cada um, do que estou construindo. E isso, para um pai, é quase como garantir a eternidade.

JP teve o privilégio — ou, como ele mesmo brinca, talvez o azar — de me ter mais por perto. Moramos juntos, dividimos silêncios e tempestades, alegrias e rotinas. Ele convive com meu lado mais ranzinza, sim, mas também com o meu lado mais afetuoso, mais disponível, mais inteiro. E o mais bonito disso tudo? Não há rivalidade. Meus filhos se respeitam, se gostam, se escutam. Meus netos são apaixonados pelo tio JP. E ver essa harmonia é, sem dúvida, um dos maiores presentes que a vida poderia me dar.

Ser pai é construir pontes, mesmo quando a vida impõe distâncias. É acompanhar, mesmo à distância, cada passo dos filhos e torcer por eles como quem torce pela própria vida. É ver nos olhos deles a continuidade de si mesmo — mas também o surgimento de algo novo, autêntico, melhorado.

E hoje, olhando para meu filho mais novo, atingindo a maioridade, só consigo agradecer. Agradecer por ter sido escolhido para essa missão. Agradecer por cada aprendizado que recebi deles — sim, porque os filhos também nos educam. Agradecer pelas histórias que escrevemos juntos, pelos desafios superados, pelas risadas partilhadas.

Quando JP diz que será meu sucessor, me emociono profundamente. Porque, no fim, o que deixamos para os nossos filhos não são apenas bens, nomes ou títulos. Deixamos aquilo que cultivamos com amor: os princípios, os gestos, as ideias, os sonhos. E, se eles decidirem levá-los adiante, não por obrigação, mas por escolha, então saberemos que cumprimos bem o papel de PAI.

A paternidade é um compromisso com o futuro. É o privilégio de plantar hoje aquilo que florescerá amanhã — mesmo quando já não estivermos mais aqui. E, nesse ciclo bonito da vida, sei que algo de mim seguirá vivo, pulsando, nos corações dos meus filhos e netos.

E isso, para mim, é o maior presente que um pai pode receber: saber que sua história continua.


Paulo Siuves é um dedicado defensor dos Direitos das Mulheres, reconhecido
internacionalmente como “Embaixador da Paz” por seus esforços. Com um sólido
histórico acadêmico e honrarias em Filosofia e Literatura, incluindo os títulos de Doutor
Honoris Causa, Paulo apoia e promove talentosas escritoras, contribuindo para um
cenário literário mais inclusivo e igualitário. Seu compromisso com a justiça social e a
igualdade de gênero é evidenciado por suas inúmeras qualificações, incluindo cursos de
formação em Direitos Humanos, e pelo reconhecimento com o Troféu Evita Perón,
concedido pelo Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”

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