Cultura/Lazer Mercados/Negócios

Manual prático para sobreviver ao tédio – Por Lin Quintino

O lençol amassado, a cara amassada, e a vontade de continuar amassada no tempo

Manual prático para sobreviver ao tédio

Acordei com o celular vibrando. Não era uma ligação, ninguém liga mais. Era só o aplicativo de banco avisando que eu continuo pobre, mas agora com menos taxas. Que gentileza.

Levantei sem poesia. O lençol amassado, a cara amassada, e a vontade de continuar amassada no tempo. Abri a geladeira como quem abre a vida: sem grandes expectativas. Um iogurte vencido, meia cebola triste, e um silêncio gelado que me olhou de volta. O essencial está sempre em falta.

Abri o Instagram: o oráculo moderno. Lá estavam eles: os corpos sarados, as frases de autoajuda copiadas de algum guru com dentes brancos e alma de plástico, e os cafés caros que ninguém toma, mas todos fotografam. A realidade, claro, com filtro Valencia.

Lembrei que hoje é terça-feira. O pior tipo de dia: nem tem a audácia da segunda, nem o alívio da sexta. Terça é um eterno meio-termo. Como aqueles relacionamentos que não são nada, mas também não acabam.

Saí na rua com cara de quem quer voltar. Pessoas esbarram em mim sem pedir desculpa, mas me oferecem desconto em cursos online de produtividade. O mundo não quer que você viva, ele quer que você produza. Seja útil, mesmo que inútil pra si mesma.

Voltei pra casa e encarei o teto. Grande companheiro, o teto. Ele não promete nada, não cobra nada, apenas existe. Talvez eu vire teto um dia. Seria um upgrade.

No fim das contas, sobreviver ao tédio é isso: rir sem graça, reclamar com estilo e continuar indo, mesmo sem saber pra onde. Afinal, desistir é cafona. O negócio é ir ironizando tudo até que vire arte.

Lin Quintino

Lin Quintino – Mineira de Bom Despacho, escritora, poeta, professora e psicóloga. Academia das quais faz parte: Academia Mineira de Belas Artes – AMBA / ANLPPB- cadeira 99, / ALPAS 21, sócia fundadora, cadeira 16; / ALTO; / ALMAS; / ARTPOP; / Academia de Letras Y Artes Valparaíso (chile); / Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires; / ACML, cadeira 61 Membro da OPB e da Associação Poemas à Flor da Pele. Autora dos livros de poemas Entrepalavras e A Cor da Minha Escrita. Comendas: destaque literário da ALPAS-21, / Ubiratan Castro em 2015 pela ABRASA / Certificado pela ALAF de Destaque Literário em 2014 7 Troféu destaque Mulheres Notáveis – Cecília Meireles- Itabira/MG, 2014 Participou de várias coletâneas e antologias nacionais e internacionais.

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Clarín Brasil – JCB News, sendo elas de inteira responsabilidade e posicionamento dos autores”

Curta,compartilhe e siga-nos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *