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Tá Pago, Velha Premium e Velho Stein

“E aí fico pensando: tem gente querendo chegar aos cinquenta bem, tem quem já passou dos setenta dando show”

Tá Pago, Velha Premium e Velho Stein

Paulo Siuves

Minha esposa me manda uma foto todo dia, quase como um ritual de boas intenções. Não é selfie, nem pôr do sol — é o painel da esteira da academia. A legenda, sempre a mesma, faltando a hashtag: “Tá pago.”

E não é só o exercício que tá pago, não. É o esforço de quem venceu uma muralha de resistência interna pra chegar nesse ritmo de maratonista da vida real — entre trabalho, casa, compromissos e autocuidado.

Agora ela tá nessa fase fit, disputando ali com outras mulheres quem vai atravessar os cinquenta com o pique dos trinta (ou menos). E olha, eu acho lindo. Tem uma poesia silenciosa na foto da esteira. Tipo um bilhete dizendo: “Hoje também cuidei de mim.”

No trabalho, tem uma amiga que tá indo pelo mesmo caminho. Ela ainda nem chegou aos cinquenta, mas já decidiu: “Quero ser uma velha premium”, disse, com a naturalidade de quem fala em investir na aposentadoria.

Aprendi esse termo com ela. Descobri que a expressão “velha premium” é um termo relativamente novo, de origem popular e informal, que se disseminou principalmente nas redes sociais como TikTok, Instagram e Twitter (ou X), entre 2022 e 2023.

Não surgiu de estudos acadêmicos nem de movimentos institucionais — nasceu de forma espontânea e bem-humorada, especialmente entre mulheres que estão ressignificando o envelhecimento. A ideia é essa: envelhecer com saúde, estilo, energia — e, se possível, com a pele boa também.

Enquanto isso, voltei à rotina de trabalho em um dos lugares que mais gosto: os parques da cidade.

Se a memória não me falha (e ela só falha quando não quer lembrar), já trabalhei em uns três parques (cemitério não conta). Tô agora no Parque Amílcar Vianna Martins, uma preciosidade ali no meio da cidade, que pouca gente conhece direito. Um lugar de sombra boa, árvores altas e silêncio que abraça.

Já passei por outros parques. O Américo Renné Giannetti, nosso tradicional Parque Municipal, no coração de BH — com seus coretos, suas histórias e aquele cheiro de pipoca; de infância, no ar.
Teve também o antigo Julien Rien, que hoje leva o nome de Monsenhor Expedito D’Ávila — onde aprendi muito e fiz bons amigos.
E o Parque Lagoa do Nado, que mora num canto afetivo do meu peito: vivi ali momentos doces, amizades fortes, conversas importantes debaixo das mangueiras.

Mas é aqui, no Amílcar, que conheci o personagem mais impressionante dessa fase: um senhor que, sem exagero, deve ter passado dos setenta.
Ele corre no parque como se tivesse vinte e cinco. Faz flexão de braço plantando bananeira, treina com uma energia que deixa os jovens no chinelo.

Esse aí já passou da categoria “velho premium”. Ele é velho Stein — tipo aço mesmo. Um monumento da resistência e da vitalidade.

E aí fico pensando: tem gente querendo chegar aos cinquenta bem, tem quem já passou dos setenta dando show. E eu aqui no meu canto, anotando tudo com olhos de cronista e coração de quem só quer viver direito.

No fim das contas, se tá pago, tá pago. Mas que venham mais dias de chá, parque, esteira — e até umas flexões malucas. Com ou sem bananeira.

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