O legado do Imortal Evanildo Bechara é incomensurável, ainda que sua cadeira na ABL seja o índice do quanto sua vida dedicada à língua portuguesa foi prolífera e esteve acima de todas as mazelas que a Educação Brasileira enfrenta há décadas.

Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 25/05/25
TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS
Angeli Rose
Foi com grande pesar que recebemos a notícia do falecimento do Professor Evanildo Bechara no dia de ontem. Assim como, no dia de hoje a nota também de falecimento do fotógrafo renomado Sebastião Salgado. Duas ausências que serão sentidas no curso da história, porque fizeram e ainda farão a diferença na memória coletiva, quer por palavras, quer por imagens. Mas hoje desejo sublinhar a falta de Evanildo Bechara.
O pernambucano, nascido em Recife (26/2/1928),desde cedo assumiu o magistério e com suas pesquisas tornou-se um grande mestre da língua portuguesa com contribuições incontáveis ao patrimônio cultural universal,no que tange a potência da língua portuguesa,sem esquecer o papel decisivo no “Acordo Ortográfico” (1990) entre países falantes e nativos de língua portuguesa. O Professor Bechara formou-se na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde também foi professor de diversas gerações, tanto na graduação como na pós-graduação.
Tive a sorte e o privilégio de tê-lo como professor na graduação em Letras, lá pelos idos dos anos 80, no século passado. Recordo que sua sala era sempre lotada, ainda que os horários das aulas fossem ingratos para trabalhadores que freqüentavam o curso noturno daquela instituição – como fora o meu caso. Um docente bem-humorado, disponível e competente. O professor, que já era conhecido pela Moderna Gramática Portuguesa, era também referência e inspiração para aqueles que desejassem prosseguir no magistério. A clareza com que apresentava e explicava suas considerações sobre os usos da língua deixava, senão todos, mas a maioria em condição de apaixonar-se pelos estudos lingüísticos.
Tempos que não voltam mais...
Entretanto, agraciada pela sorte, talvez, mais recentemente nos últimos anos pude reencontrar o Mestre e a ele dirigir palavras de agradecimento por tudo o que ele ofereceu a nós, como alunos, como igualmente por tudo que representa como linguista e estudioso da língua portuguesa. Tanto na ABL, na posse do Professor Godofredo De Oliveira Neto (UFRJ), como no Pen Clube do Brasil, neste último quando fora homenageado em cerimônia especial presidida pelo Dr.Ricardo Cravo Albin, foram oportunidades únicas para rever e poder trocar algumas palavras pelo sempre gentil mestre.
O legado do Imortal Evanildo Bechara é incomensurável, ainda que sua cadeira na ABL seja o índice do quanto sua vida dedicada à língua portuguesa foi prolífera e esteve acima de todas as mazelas que a Educação Brasileira enfrenta há décadas.
No entanto, ao lado desta perda, teremos de lidar com outra perda, no mínimo, estranha, a extinção do curso de licenciatura em Linguística na Universidade de São Paulo, grande referência do Ensino Superior no país e no mundo. Segundo o departamento de Lingüística daquela universidade: A linguística é a ciência que estuda as línguas humanas em todos os aspectos de sua manifestação: os sons da fala, as palavras, as frases, o significado, o texto, o discurso. Estuda, ainda, a aquisição da linguagem pelo bebê, a fala dos diferentes grupos sociais e a evolução da língua ao longo da história.
A importância da disciplina é indiscutível, percebemos, mas a reestruturação de cursos e métodos são exigências da dinâmica da sociedade em geral – assim caminha a humanidade... Porém, o que se tem também como indicativo é o fato de as discussões terem sido norteadas pela entidade “Mercado”. Sinal dos tempos...
Aliás, vale tomar para reflexão o quanto esta “entidade” tem influenciado nossas aquisições, criações, perdas e omissões. Críticos especializados estão sendo substituídos por “influenciadores”, entre tantas mudanças por que estamos passando no cotidiano tomado pela vida digital. São muitos os fatores a que podemos nos referir e elencar para desenvolver qualquer discussão no campo.
Mas gosto de pensar que o legado do Professor e Mestre da língua portuguesa, Evanildo Bechara, e não somente aquele deixado em livros, mas também aquele deixado por testemunhos de tantos que por ele foram formados e puderam conviver com a sabedoria e o conhecimento desse Ás do jogo das letras e das palavras.
E a lição que fica, entre tantas outras, quando Bechara comentou em entrevistas as mudanças de usos diante do novo “Acordo Ortográfico da língua portuguesa” que passou a vigorar em 2009 no Brasil e passou a ser obrigatório no ensino a partir de 2016: - Ninguém gosta de mudança. Toda mudança traz certa resistência, porque exige novas perspectivas... – ainda que não tenham sido em palavras literais do Mestre.

Angeli Rose é colunista de jornais digitais, Presidente do INSTITUTO INTERNACIONAL CULTURA EM MOVIMENTO, fundadora do COLETIVO
MULHERES ARTISTAS, carioca, geminiana. Adora viajar, ler e praia.
Professora de Literatura, pesquisadora há mais de 25 anos. Recebeu recentemente a Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, além de uma Moção de Aplausos e Louvor da mesma “casa do povo”. Com alegria, é Embajadora Cultural das feiras virtuais do livro, organizadas pela Confederación Del Libro Peru,entre outras atividades e funções que exerce na cena cultural com espírito de colaboração.
@angeliroseescritora // [ http://lattes.cnpq.br/4872899612204008 ]
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