Cultura/Lazer

O que é mesmo Literatura?

Por Ângelo Roberto

Dada a privilegiada oportunidade concedida para falar de tão fascinante e enriquecedor tema, nesta fase inaugural partimos de uma introdução em linha conceitual sobre a temática.

“Literatura – sf 1- Arte de compor escritos, em prosa ou em verso, de acordo com determinados princípios teóricos ou práticos: …”

O conceito acima, extraído do Dicionário Online Michaelis Uol, embora não seja profunda e nem irrefutável definição para o que seria Literatura, alinha-se a este texto de apresentação, em que busca-se expor de forma a mais simplificada e acessível possível no que tange aos repertórios teóricos relacionados.

Então tomemos, a partir do verbete transcrito – em que caracteriza Literatura como uma arte, em prosa e verso, de acordo com determinados princípios teóricos ou práticos – alguns aspectos correlatos a esse sentido. Sendo tratada como arte, nos remete à sensibilidade, harmonia, à Estética, à apurada técnica, à expressão criativa…

A sentença do verbete é seguida de um exemplo:

 “Os tênues murmúrios suspirosos desdobravam-se em orquestra de baile, onde se distinguiam instrumentos, e os surdos rumores indefinidos eram já animadas conversas, em que damas e cavalheiros discutiam política, artes, literatura e ciência”. (Aluísio Azevedo, em “O Cortiço”).

Neste fragmento, notamos a criteriosa e sugestiva escolha das palavras, o dedicado esmero para a construção do sentido e impacto do conteúdo narrado, dentre outros atributos da artística expressão do autor. São utilizadas técnicas de composição, figuras de linguagem, e recorre-se ao sentido conotativo das palavras.

A construção e produto da Literatura, assim de distingue da expressão e escrita cotidiana; de documentos, mensagens em instrumentos comunicativos habituais, como em cartas oficiais, relatórios de serviço, petições judiciais, receitas e prescrições médicas, reportagens e matérias jornalísticas, nos documentos em geral. Nestas composições textuais, é utilizada predominantemente a linguagem objetiva, em sua acepção de dicionário, em sentido denotativo.

Para ilustrar esta distinção de sentidos de expressão da palavra, vejamos:

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barraco sem [número

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas

e morreu afogado. (Manoel Bandeira, “Libertinagem”)

Intitulado “Poema tirado de uma notícia de jornal” bem ilustra a diferença de expressão e sensações proporcionadas pela narração de uma pessoa que morre afogada. Os versos que o compõe encaminha o leitor a saber e pensar sobre como “João Gostoso” vivia, o que gostava de fazer, quais suas alegrias, e ainda institui o suspense sobre qual seria o seu drama para atirar-se “na Lagoa Rodrigo de Freitas” e morrer afogado.

Em sentido diametralmente oposto, as técnicas e objetivos jornalísticos exigem a expressão direta, clara e o mais correspondente ao de fato acontecido, ao veicular suas notícias. Uma tradicional notícia sobre a morte de pessoa por afogamento, normalmente traria em linguagem objetiva: o local do afogamento, a descrição da vítima (a sua idade aproximada ou presumida), se socorrida antes do óbito, poderia contextualizar sobre a incidência de afogamentos no local e região. O mais significativo é que a matéria seria apresentada da maneira a mais neutra possível.

Assim, como buscou-se esclarecer, Literatura caracteriza pela expressão criativa da linguagem, com composição e exposição artística de seus elementos constitutivos, na intenção e impacto na sensibilidade e subjetividade do leitor.

Nas oportunidades subsequentes, buscaremos falar mais sobre Literatura e temas correlatos.

Até a próxima!

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Ângelo Roberto é Bacharel em Língua Portuguesa pela UFMG. Escritor, poeta e acadêmico em Academias de Letras, regionais, nacionais e internacionais. Desde 2009 preside a Academia Matozinhense de Letras, Ciências e Artes (AMALETRAS).
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