Não se tinha outro meio a não ser copiar o que as colônias estrangeiras faziam. O negro, de certa forma, era também minoria como os italianos, os alemães, os espanhóis.
Por Jornal Clarín Brasil/JCB – Belo Horizonte em 09/04/2020 às 21h00min
Em 06 de janeiro de 1924 circulava pela primeira vez o que viria a ser um dos mais importantes periódicos da imprensa negra paulistana: O Clarim d’Alvorada.
Fundado pelos jovens militantes Jayme de Aguiar e Jose Correia Leite o jornal era editado na cidade de São Paulo e circulava várias cidades do Brasil. Ao longo de sua publicação ele foi apresentado em diversos formatos, uma mudança drástica na linha editorial, transformou o jornal em um elemento fundamental na construção de uma consciência política e social na comunidade negra.
O jornal circulou com o nome de “O clarim” até a 4ª edição. A partir da 5ª lançada em 13 de maio de 1924, foi adicionado ao seu título em letras menores a palavra “da Alvorada”. Consolidando assim o nome: “ O Clarim da Alvorada”.
A primeira fase do jornal que vai da fundação até outubro de 1927 teve 36 edições publicadas. Nestas primeiras edições eram escritos artigos com foco na abolição da escravatura, lutas, acontecimentos e os desdobramentos referentes a população negra.
No início de 1928 o jornal viveu sua segunda fase, que consistiu em apresentar uma identidade política forte voltada para a “questão racial” e propondo a mobilização do povo negro para conquistar a cidadania plena. O redator responsável, Correia Leite propôs diversas mudanças ao Clarim, bem como: organização, cabeçalho e diagramação. Até o ano de 1933 o jornal publicou cerca de 26 edições e ainda neste mesmo ano foi extinto.
Em 1940 sua terceira fase, foi publicada apenas a edição número um.
Jayme de Aguiar
Jayme de Aguiar era filho de uma família alforriada, nasceu e cresceu em São Paulo, no bairro do Bexiga, junto com outros negros. Jayme de Aguiar e José Correia Leite fundaram O Clarim d’Alvorada, em 1924. Aguiar também fez parte da fundação da Frente Negra Brasileira, em 16 de setembro de 1931, juntamente com José Correia Leite, Vicente Pereira, Henrique Cunha, Raul J. do Amaral, Gervásio de Morais e Arlindo V. dos Santos. Aguiar trabalhou em entidades do movimento negro contribuindo, dessa maneira, para a valorização do negro contra o preconceito.
José Correia Leite
Em depoimento José Correia Leite discorreu sobre essa a última fase do Jornal: “Depois de um longo silencio, o porta-voz que marcou uma época nas indagações históricas, nas afirmações dos direitos e em todos os anseios de conquistas dos homens negros, surge hoje, uma edição do “Clarim da Alvorada”. Isto prova que das cinzas de velhos ideais, ainda brilham as pequenas brasas da esperança”. (LEITE, “O Clarim da Alvorada”, 28 de setembro de 1940, p.1)
Naquela época, os jornais eram o meio de comunicação mais difundido. No mesmo período, poucos se colocavam dispostos a refletir sobre as questões do povo negro, por isso é importante destacar que os jornais da imprensa negra que circulavam, estimulavam a população negra na luta contra a opressão e na reivindicação de sua inserção social. Deste modo, com o passar dos anos a imprensa negra além de difundir o conhecimento, denunciava os primeiros casos de discriminação racial nos espaços públicos. O Clarim d’Alvorada trouxe a questão da militância política e procurava sempre estar a par de tudo que acontecia no meio da população negra, assuntos eram debatidos através dos escritos do jornal promovendo assim uma afirmação social da população.
“A comunidade negra tinha necessidade dessa imprensa alternativa. Não se tinha outro meio a não ser copiar o que as colônias estrangeiras faziam. O negro, de certa forma, era também minoria como os italianos, os alemães, os espanhóis. E todos eles tinham jornais e sociedades. As publicações negras davam aquelas informações que não se obtinham em outra parte.” Afirma Correia Leite, redator responsável na segunda fase do O Clarim d’Alvorada, em depoimento.
Fontes: Fundação Palmares