Nós não podemos perder de vista o fato de que não será o acaso ou as emoções inconscientes ou inconsequentes que nos guiará em nossas escolhas
Por Nilson Apollo Belmiro Santos – Jornal Clarín Brasil JCB – Belo Horizonte em 16/11/2020 às 11hs24mins
Amanheceu, e é segunda-feira, pós eleições municipais em todo o Brasil. Olhando pela janela hoje, o céu se mostra nublado, e a cidade assustadoramente quieta e até mesmo silenciosa para um dias de pós eleições.
Em Belo Horizonte, onde moro, as pessoas seguem suas buscas pelo pão de cada dia. Muitos pelo sonhado emprego, enquanto outros seguem suas rotinas de reconstrução pessoal, ou profissional em meio a essa avassaladora crise instalada em todo o país.
Muitas empresas lutam para se manterem em atividade, e em conjunto, todos temem e querem evitar o clima que ainda insiste em pairar sobre nós, o medo de algum levante social, alimentado por uma sociedade acuada e insegura sobre o que será do futuro deste país, e dessa multidão de mais de 200 milhões de pessoas, que assiste a desintegração de um tecido social, já cheios de arremedos.
Há meses a ansiedade vem sendo companheira fiel e quase quase palpável de cada pai e mãe de família no Brasil, e a cada eleição, podemos observar como um termômetro, o nível de confiança, esperança, ou desespero da população, acerca do desconhecido que nos aguarda.
Desde 2106, quando do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, vem havendo muita tensão em todas as eleições. Ninguém se esquece do que passamos quando da última ida às urnas para escolher nosso presidente, uma verdadeira batalha que dividiu e muito o nosso querido país.
Estes últimos anos foram diferentes de qualquer outro período vivido no Brasil. Temos visto agitações e conflitos nas ruas e redes sociais, em um nível que a maioria de nós nunca experimentou antes. Para piorar, assistimos as mesmas condições de polarização política em diversas partes do mundo, o que veio se agravando cada mais, causando-nos a sensação de que estamos dentro de uma redoma global de problemas e tensões.
A situação, quando pensávamos não poder piorar, piorou, quando fomos acometidos pela incerteza e a devastação trazida pela pandemia do novo coronavírus (COVID-19), aliadas a violência nas ruas de cidades norte-americanas, que levou a saques e tumultos e os protestos organizados pelo movimento Black Lives Matter e o antifas, em conflitos com forças policiais, e uma ameaça real de aquilo pudessese espalhar mundo à fora. Os noticiários enchiam nossos olhos e mentes de cenas horripilantes, onde as pessoas entravam em conflito quase que diariamente.
Nós, os brasileiros, estamos ainda traumatizados, pois ainda não nos curamos dos embates de 2018 protagonizados pelos apoiadores de Jair Bolsonaro em conflito com apoiadores de Lula, representado por Fernando Haddad no último pleito da eleições presidencial. Em muitos casos, os ataques verbais se transformaram em confrontos físicos, que causaram até mesmo as mortes de alguns dos envolvidos, e prisões e condenações de outros, que no dia a dia tinham talvez mais motivos de serem amigos, do que inimigos e oponentes letais. Bastava somente conversarem em uma esfera de entendimento e conciliação. Mas optaram pela barbárie.
Como esperado, o aumento da polarização, que iniciou-se ainda antes dessas eleições, nos levou a sentir ódio por aqueles que pensavam de forma diferente de nós, e essa falta de respeito, compreensão e empatia desabaram em um verdadeiro caos psicológico e emocional em todo o país. Criou-se no Brasil, uma atmosfera de antagonismo generalizado, simplesmente por que o vizinho pensa diferente do outro, criando uma máxima esdruxula de que: “Quem não pensa igual a mim é contra mim“.
Quem disse que precisava ser assim?
As disputas políticas sempre existiram, mas, houve um tempo, não muito tempo atrás, em que podíamos ter desentendimentos políticos e permanecermos civilizados, e acreditem, até mesmo amigos.
É fácil rememorar Lula e FHC, ou até mesmo Lula e Brizola, ou Sarney e quem quer que seja, todos coabitando em pacífica comunhão. Nesses tempos, a escolha de um candidato por alguém não o impedia de ter amigos que apoiaram o candidato ou partido adversário. Sabíamos e acreditávamos que nossas diferenças e desacordos eram construtivos e nos fortaleciam enquanto uma sociedade livre e democrática.
Eram tempos em que ainda que em pleito, eleitor podia dizer tranquilamente em quem votou, e porque votou. Agora estamos amordaçados e cada vez mais divididos, desobedientes e alheios a um sábio aconselhamento das escrituras judaico/cristãs, onde diz que; “uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir”. E é fato, nós estamos sucumbindo, e retroagindo enquanto nação e povo de bem, quando declaramos guerra aos nossos compatriotas, por motivos tão pequenos em nossas diferenças.
Nos últimos tempos, andamos receosos até mesmo de que a qualquer hora venhamos a nos envolver em algum tipo de conflito armado, uma típica guerra civil, alimentada pelo ódio ideológico. Brasileiro contra brasileiro, irmão contra irmão, negros contra brancos, héteros contra homos, ateus contra crentes (católicos ou protestantes), esses todos contra os que pacificamente (como sempre foi) praticam as religiões de matrizes africanas.
Minha esperança é que superemos essa tumultuada fase de nosso história, independentemente de quem vença as eleições, em qualquer esfera de disputa. Que aprendamos a suprimir a frustração, decepção e a raiva, e nos contenhamos de maneira civilizada, para que evitemos comportamentos destrutivos, seja das amizades, reputações, ou patrimônios alheios, daqueles que divergem de nós.
Embora pareça ser complicada essa nossa jovem democracia, temos que dar um voto de confiança a ela, e acreditar que ela funciona, e que ela vai sempre funcionar, caso não queiramos mudar as regras em cima da hora, ou rejeitemos aceitar os efeitos e resultados posteriores dela, no que tange a escolha das maiorias – Nós não temos outro modelo que se apresente seguro, ou sequer aceitável no momento – ressuscitaríamos a arcaica monarquia, ou entregaríamos o poder nas mão de algum ditador? Nem um nem outro, a democracia é o que temos mais próximo do que de fato precisamos para nos conduzir.
Esses próximos dois anos serão cruciais para nossa evolução e equilibrio no próximo período de escolhas. Nós não podemos perder de vista o fato de que não será o acaso ou as emoções inconscientes ou inconsequentes que nos guiará em nossas escolhas.
Precisamos voltar a acreditar plenamente em nossas instituições, que foram projetadas para o sustentáculo pacífico de poderes, e garantidores de nossa constituição, que está muito acima de partidos ou políticos de preferência de A ou B.
É tempo de trabalharmos juntos, apesar de nossas diferenças. Não podemos deixar que o ódio, caos e a destruição nos vençam enquanto povo e nação.
Sejamos cuidadosos e respeitosos uns para com os outros. As próximas gerações estarão nos assistindo, e estarão nos julgando em um futuro bem próximo, e é agora que devemos mostrar nossa força, com base em nossa resposta coletiva pare esses momentos tão contenciosos, e ao msmo tempo, tão decisivos em nossa história.
O final do dia de ontem (15), foi um pouco apreensivo, pois, nosso sistema atrasou por 03 horas na apuração dos votos. Assustadoramente, estranhamos um atraso de pífias três (03) horas, ou seja, nada em relação ao cansativo e confuso processo norte- americano, que se autodenomina, “um exemplo de democracia”, quando na verdade nós, os brasileiros, sabemos estar anos luz à frente deles, e temos que nos orgulhar disso. Os superamos com nossa tecnologia, e pasmem, confiança, na segurança desse requintado e moderno processo eleitoral que pertence a nós, os brasileiros.
Em matéria de logística e organização do processo eleitoral, o Brasil tem tem sido um modelo para o resto do mundo, e cabe a nós, nos mantermos nesse alto padrão, e exemplo de modernidade para o mundo. Vamos agora trabalhar para que esse êxito seja também no dia a dia, em nossas escolhas e liberdade de escolhas, enquanto cidadãos de um estado democrático de direito.
Aproveitemos essa prévia pela qual passamos ontem, e amadureçamos, a ponto de sermos um azimute para o mundo que nos assiste e que torce por nós, pois somos uma nação amada e bem quista pelas demais.
Parabéns aos envolvidos no processo encerrado ontem, aos que se elegeram nas urnas, e também que não foram eleitos… Estão todos de parabéns!!!
Que aprendamos também a nos amar e respeitar, cada vez mais enquanto indivíduos livres e donos de suas escolhas individuais!
Nilson “Apollo Belmiro” Santos – É um cidadão brasileiro, empreendedor do comércio e comunicação, sobrevivente desse caos político e econômico, ora instalado no Brasil, e escreve esporadicamente neste canal de comunicação