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“Eu sou preto e branco, nunca serei cinza na minha vida” – o legado de Maradona; Segundo maior jogador do futebol mundial

Nos últimos 34 anos, ele é o único grande responsável pelo início da verdadeira globalização do futebol moderno – como esporte, como paixão e forma de entretenimento.

Por Jornal Clarín Brasil JCB News – Belo Horizonte, em 27/11/2020 às 16hs17mins

As peças mais fáceis de escrever são as memoriais, principalmente no esporte. O manual nunca falha: comece com uma situação ou piada engraçada, conecte aquela história aparentemente inócua, mas altamente significativa com o contexto mais amplo do protagonista, evidencie alguns destaques e, em seguida, baixe um pouco a cadência do enredo para adicionar equilíbrio e perspectiva, e economize alguma munição para um “grand-finale”

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El Pibe, que já despontava como promessa desde a tenra infância – Imagem: Twitter Maradona

Então, com esse projeto em mente, devemos começar a encapsular a vida, a trajetória e o legado de Diego Maradona? Ou devemos, só desta vez, jogar o inventário de referências pela janela?

Pois, como você define alguém que definiu sua geração – não mais de 24 anos altamente eficientes como em uma escala menor, um Zico definiu a história do Flamengo pós iniciar sua carreira e trajetória de sucesso no clube; nem por ser o modelo perfeito enquanto languidamente busca a excelência como Airton Senna fez na Fórmula 1; mas por ser tão apaixonado, tão humano, tão sincero e usar cada grama de todos esses traços de uma personalidade um tanto imperfeita para criar magia que engolfou tanto leigos, quanto conhecedores e amantes do bom futebol?

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AAqui nasceu o anti-herói, amado por uns, odiados por outros “La mano de dios” – Imagem: AFA

Todo esporte é uma questão de argumentos, pontos de vista e opiniões diversas. E então aparecem algumas pessoas com as quais as discussões terminam. Tiger Woods ou Justin Thomas? Cassius Clay ou George Foreman? Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo? Até mesmo Gorbachev ou Reagan? Sempre houve debates que intensificaram e tornaram o acompanhamento de qualquer disputa, em qualquer campo da vida muito mais revigorante. A tese e a antítese.

Mas no futebol, qual outro atleta da modalidade podemoscomparar com Maradona?

O maior craque da história do futebol francês, Michel Platini, de tão maravilhado que era com o baixinho Maradona, certa vez disse: “O que Zidane pode fazer com uma bola, Maradona pode fazer com uma laranja”.

O holandês Ruud Gullit? Ousou emitir sua opinião em forma de um controverso veredicto: “O melhor jogador que já existiu, melhor que o Pelé – exagerou… Algumas das coisas que ele fez foram inacreditáveis. Ele podia controlar a bola sem olhar. ”

O metódico alemão, Juergen Klinsmann, acreditava que Maradona era de outro mundo: “Eu sempre tive certeza que ele era de um mundo diferente …

Teríamos assunto para mais um século, e gastar boa parte desse século pesquisando a história do futebol e somente iríamos apresentar uma única pessoa que pudesse interromper esse cansativo debate, o formidável – Pelé!!!.

Quando se trata de Pelé, poderíamos falar sobre a marca dos 1.000 gols ultrapassados, e as 03 copas do mundo vencidas pelo gigante negro do Brasil. Quanto a Maradona, falaríamos sobre, os dribles, o gol de mão contra a Inglaterra, ou o fato de ele vencer a Copa do Mundo de 1986 sozinho. Mas já que estamos tratando já de um epitáfio, as emoções nesta hora devem dar lugar a razão e a lógica, e se insistirmos, bastará consultar mais informação.

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Argentina campeã na Itália 1986 – Imagem: Twitter

Naquela geração que assistiu a Maradona jogar pela primeira vez na Copa de 1986 – havia muitos de nós em todo o mundo, separados, mas juntos, atentos a cada jogada daquele baixinho encapetado e desumanamente talentoso. 

Aqui no Brasil, Copa do Mundo era como um marco cronológico e certeza de aquisição de aparelhos novos para várias famílias que economizavam uma “graninha” já pensando no próximo torneio, as grandes redes. Depois das copas da década de 70, grande parte do mundo, mesmo nos rincões mais remotos, passou a acompanhar com mais atenção essa modalidade esportiva que conquista as multidões, era a primeira geração consolidada das transmissões do esporte ao vivo e a cores.

Muitas das crianças daquela época ainda tinha tão somente a figura de Pelé em seus ideários.  Não importava quanto de histórias do futebol conhecíamos – todo mundo estava começando quase do zero, era a vez daquela pueril massa espectadora assumir a paixão que sustenta esse esporte fascinante, e foi justamente aí que destaca-se o gênio.

Maradona já era um herói para os argentinos, isso desde criança, mas o mundo ainda não o conhecia plenamente, a ponto vivenciar a alegria de seu futebol. Gigante de 1.65cmde altura de cabelos volumos com pés mágicos e uma das mãos, depois declarou, emprestada de Deus, tornou-se a materialização física de um diferente estilo de jogo e daquela própria Copa do Mundo, a qual ele venceu, sem diminuir aos companheiros, “sozinho” para a Argentina. 

Através dele, o futebol consolidou-se como uma celebração do talento humano, ousado e quebrador de paradigmas. A argentina teve a sorte de ter Maradona, tendo como segunda pele a camisa “alviceleste“, um dos simbolos de orgulhos máximos dos “hermanos”, que naquele jogo marcante, encontrara justamente com a Inglaterra que o havia derrotado na guerra das Malvinas, quatro anos antes – E sejamos justos, as Malvinas pertencem a Argentina.

É fácil gostar de Diego Maradona pelo que ele fez em 1986, por legado no Napoli, na liga italiana, nos inúmeros problemas que também marcaram sua agitada(drogas, obesidade, envolvimento com a máfia), ou quiçá em sua personalidade controversa, impulsiva, extremamente emocional, apaixonada e humanamente rebelde e questionadora. Características que ele não mudou ao longo dos anos, mesmo sendo aconselhados por centenas de comuns, que tentaram destituí-lo de sua condição de “mito”.

Emilio Sansolini on Twitter: "Felices 60 Diego Armando #Maradona 🇦🇷… "

Como um Che Guevara dos gramados, Maradona vai perdurar, e seu legado vai muito além das quatro linhas do campo. Pelé plantou o futebol, mas Maradona nos tempos modernos, o globalizou como esporte/paixão, e carro-chefe do entretenimento televisivo. Contemporâneo a ele, existia o Zico, que também era talentoso e brilhava, porém, o brilho de Zico não ultrapassou as fronteiras do Brasil, e nem o de Platini da França. Tardiamente Zicou cumpriu seu papel no novato (no esporte) Japão, onde é ídolo.

Pelé é irremovível de seu posto de grandeza inatingível, mas Don Diego Maradona é o responsável pela redefinição da fama futebolística em tempos de frenesi tecnológico da onipresente mídia e imprensa.

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As duas maiores entidades do futebol mundial, o Rei Pelé, e o Príncipe Maradona – Imagem: Reprodução

Pelé brilhou junto com Elvis Presley, e Maradona dividiu holofotes com Michael Jackson. Por mais que insistam, ele não substituirá Pelé, a matemática e o placar dos jogos e das carreiras em comparação não permitem isso. Assim como bola na trave não altera o placar, gols fora do campo também não abrilhantam o comparativo entre as duas entidades.

Como Pelé encontra-se vivo e lúcido, ainda não é hora de definir sua obra, que esperamos durar, em vida, por muitos e muitos anos. Maradona encerrou seu ciclo nesse plano, e independente de qualquer coisa, também será eterno nos corações de amantes ou apenas simpatizantes do bom e prazeroso futebol.

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Imagem: Reprodução

Obrigado, e vá com Deus Maradona!

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