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A Música, O tempo e A MULHER.

Por Eluciana Iris – Academia Mineira de Belas Artes – 15/02/2020 às 10h04min

A Música, O tempo e A MULHER.

Desde os primórdios da humanidade a música se faz presente em todo tipo de sociedade, nas comemorações das mais diversas, seja para agradecer aos Deuses as fartas colheitas, seja nas cerimônias religiosas, nos nascimentos, nas mortes, nas guerras.

Segundo estudiosos a música é uma combinação de vários elementos, dentre eles não pode faltar: o ritmo, a harmonia e a melodia; é uma arte de combinações que encanta, seduz, ensina e educa.

Já dizia Platão: “Primeiro, devemos educar a alma através da música e a seguir o corpo através da ginástica.” 

Imagem – Sinpro MG

Nos tempos atuais a música faz parte do cotidiano de brasileiros e estrangeiros, pode se dizer que é uma linguagem universal, sem limites de alcance.

No Brasil e no mundo há vários estilos musicais para todos os gostos: Rock, Poprock, Sertanejo, Bregafunk, Country, Eletrônica, Trep, Jazz, Pagode, Samba, Reggae, MPB, TangoRock entre outros tantos.

A música tem o poder de reunir amigos, atrair grupos diversos, de protestar, de acalentar saudades, de encantar corações e mentes.

Por outras vezes, ela pode também tentar romantizar relacionamento abusivos e a violência contra a mulher, incutindo nas mentes dos ouvintes a normalidade de tais fatos que são graves e perversos. Mais à frente, voltaremos a tocar neste assunto.

É fevereiro, ano 2020, carnaval quase chegando, em todos os cantos do Brasil, uma marchinha carnavalesca inesquecível de 1899 é sucesso até hoje, “Ó Abre Alas“, de Chiquinha Gonzaga. Uma mulher a frente do seu tempo, neta de escrava liberta, teve a honra de ser a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Sua vida não foi só flores e glamour, foi marcada por violências, em 1863, aos 16 anos foi obrigada a casar, do relacionamento teve um filho, seu casamento não deu certo, e veio a separação, na época foi vista como pecadora, imunda, uma vergonha para sua família, sendo assim expulsa de casa. Alguma semelhança nos tempos atuais?

Retomando as letras das músicas, a violência contra mulher, machismo e relacionamentos abusivos, estão presente em vários gêneros musicais.

Talvez nós admiradores de tantos artistas e gêneros musicais, não paramos para ler a letra na íntegra, estamos envolvidos com aqueles elementos, melodia, ritmo e harmonia, a letra fica para segundo plano.

Afinal você está curtindo o momento da festa, do encontro, sua mente está voltada para divertir.

Talvez o psicanalista Freud em uma de suas teorias “A maioria das emoções e impulsos humanos está “escondida” no inconsciente”, tenha a explicação porque deixamos de lado a letra em que está implícita a violência contra a mulher… e mesmo assim a ouvimos.

Como exemplo 4 gêneros musicais, Brega, Samba, Sertanejo, MP.

Se te agarro com outro, te mato – Sidney Magal 1977

Piranha – Bezerra da Silva 1975

Vidinha da Balada – Henrique e Juliano 2017

Cabocla Tereza -Tonico e Tinoco (1 versão gravada em 1936., Raul Torres (proseado) e Florêncio (parte cantada)

Mesmo que seja eu – Erasmo Carlos 1982


“Se te agarro com outro te mato
Te mando algumas flores e depois escapo”

“Tô afim de você e se não tiver ‘cê vai ter que ficar

Se reclamar ‘cê vai casar também, com comunhão de bens

Vai namorar comigo sim”

“Senti meu sangue fervê
Jurei a Tereza matá
O meu alazão arriei
E ela eu vô percurá.

Agora já me vinguei
É esse o fim de um amor
Esta cabocla eu matei
É a minha história, dotor.”

“E eu que compro gemada, geléia
Aveia maizena e catupiry
Tudo isso eu dou à crioula
Pra ela ter força de falar de mim

Eu só sei que a mulher que engana o homem
Merece ser presa na colônia
Orelha cortada, cabeça raspada
Carregando pedra pra tomar vergonha”.

“Filosofia é poesia é o que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu
Um homem prá chamar de seu.”

A violência contra a mulher é assustadora, o feminicídio é crescente, a Lei Maria da Penha não é suficiente para barrar essa realidade crua e nua.

 A ferocidade aparece em vários formatados: Assédio, violência doméstica, machismo, violência emocional, financeira, estupro.

A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 2015;

Em 66 mil casos de violência sexual 2018, 180 estupros por dia, vítimas 54% até 13 anos de idade (Folha de SP);

Feminicídio, o assassino, 89% o companheiro ou ex-companheiro da vítima (Folha de SP);

Agressões domésticas – Notificados 145 mil em 2018 (Ministério da Saúde).

Diante do escárnio da humanidade, de homens violentos, sem escrúpulos, sem dó nem piedade, precisaríamos de mais Platão e Freud para buscar soluções para amenizar a tragédia iminente contra a MUHER, um cenário de guerra de vidas ceifadas cruelmente e de perspectivas de vida desoladas.

Na alma do homem há como que uma parte melhor, outra pior; quando a melhor por natureza domina a pior, chama-se a isso ser senhor de si – o que é um elogio, sem dúvida; porém, quando devido a uma má educação ou companhia, a parte melhor, sendo menor, é dominada pela superabundância da pior, a tal expressão censura o fato como coisa vergonhosa, e chama ao homem que se encontra nessa situação escravo de si mesmo e libertino. (Platão)

Se a avó daquela época que foi feita a música “de que é melhor mal acompanhado do que só”, estivesse viva e presenciando a maldade alheia machista, sua filosofia da época seria vã, e ela teria vergonha de seu neto. Mulher carregar pedras? Somente se for para construir, edificar um lar, uma profissão, jamais carregar pedra para envergonhá-la, os tempos mudaram e nós nem vivemos no oriente médio, que por sinal é reprovável tal atitude de castigo as mulheres carregarem pedras ou ser apedrejadas, respeitar culturas sim, mas atos de violência? Ahh! Esse é impossível de compactuar.

Homens precisam entender uma coisa simples, simples assim: mulher namora com quem ela quiser, a época de coronelismo acabou faz tempo, atualize, o homem sabe usar telefone digital e comporta como se estivesse no século XIX, XVII, aperte a tecla atualizar que dá certo.

Mande flores em vida, mulheres querem flores em vida, homens escape de suas infelicidades, de suas amarras, busque a felicidade dentro de você, matar a MULHER não te faz escapar de sua frustração.

Se o sangue ferver que seja de emoção, de contentamento, se ferver de ódio, sinal que está na hora de selar seu cavalo e partir, senão o que te aguarda é uma cela de prisão, nada especial, nem o dotô vai dar jeito.

Por mais melodia, ritmo e harmonia, e letra em favor da MULHER, tente seguir o conselho de Platão, educar a alma da sociedade, sociedade esta machista e desenfreada.

               A música é a alma do universo. Dá Voo a imaginação, alegra o espírito, afugenta a tristeza. Dá vida a tudo que é bom e justo. (Platão)

  Eluciana Iris Almeida Cardoso é natural de Campo Belo-MG, Brasil. Reside em Belo Horizonte, é escritora, poeta, nutricionista, professora, palestrante, bacharel em direito. Membro da Academia Luminiscence Francesa e do Núcleo de Letras Y Artes de Buenos Aires. É Vice Presidente da Academia Mineira de Belas Artes e escreve semanalmente para o Jornal Clarín Brasil
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