“A imortalidade também pode conferir certa datação aos nossos escritos, inscrevendo a autoria num contexto histórico do qual somos agentes e pacientes sem qualquer passividade ou autoridade absolutas”.
Por Angeli Rose
Experiência e imortalidade
Comparecer a eventos literários, em torno de livros ou não, é sempre um acontecimento regado a experiências. Experiências no sentido benjaminiano, isto é, definidas na obra do filósofo Walter Benjamin. Grosso modo, as vivências são o combustível para que nossas vidas tenham experiências e delas possamos extrair saberes. Saberes que nos formam e vão nos dando a consciência de sermos o que somos em cada etapa de nossas vidas.
Assim, tenho tido a alegria de participar de eventos culturais em que a literatura é o carro-chefe.
E que tipo de experiência tenho passado? Posso falar de algumas, porque no cotidiano acelerado com que lidamos desde meados do século XX, são exatamente as experiências que andam escassas. Mas, por outro lado, tem sido a atividade leitora a que tem me protegido da aceleração e tem-me preservado em certa integridade oriental (de ser e não ser) na exigência da contemplação e da intimidade comigo mesma, aspectos fundamentais para o exercício da leitura literária.
Então, posso falar da oportunidade de conhecer outros escritores, assim como escritoras, novos ou não, conhecer parte de suas obras e com eles e elas travar diálogos -nem sempre amenos – em torno da literatura e dos fatos que nos cercam, muitos deles tornando-se matéria de poesia.
Cabe também lembrar a experiência de conhecer leitores e leitoras ,que num momento de generosidade voltam suas atenções para mim, quero dizer, para alguns escritos de minha autoria.
Outra experiência, para mim de grande importância, é a de leitora ,quando conheço as obras que me chegam aos olhos baixos sobrepostos aos livros ou às telas, ou projetadas em edificações (geniais criações proporcionadas pela tecnologia).
Detenho-me por agora nessas referidas experiências para desenvolver aqui o que de fato me propus, sem ainda noticiar ao leitor, à leitora.
Entre as várias ações que realizo como ativista cultural e potencializadora de talentos, organizo feiras literárias. E há dois anos idealizei e co-organizei duas edições da FELIVRE/CEDERJ (Feira literária de Volta Redonda pelo CEDERJ) no polo Darcy Ribeiro. Nesta última, de 2019, tive a oportunidade de promover pelo segundo ano consecutivo o CAFÉ LITERÁRIO, um bate-papo entre autores, principalmente, locais. Cabe registrar que toda a iniciativa foi apoiada pela Secretária de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro (SECEC-RJ),e pela competência e simpatia do superintendente de leitura no estado e sua assistente, Pedro Geromilichi e Arlene Costa, respectivamente, além do CEDERJ naturalmente, e de outros apoiadores, dentre eles as academias a que pertenço na condição de membro correspondente ou titular.
Feito o registro e a breve digressão ,peço ao leitor e à leitora (se houver) que me acompanhem no que lhes trarei de novidade.
Recebi numa meia-lua improvisada com cadeiras alguns escritores e escritoras, convidados, que muito contribuíram para que o início daquela tarde quente de dezembro fosse especial . No espaço multiforme do polo de VRE, contei com o auxílio luxuoso do poeta e editor Jean Carlos Gomes (PoeArt), para receber com cafezinho Aline Reis, Lourildo Costa, Djalma Augusto, confrades da AVL, entre outros e outras, como a incansável editora e escritora Zélia Fernandes (ZMF), presidente da ADABL; a pesquisadora Shery Ribeiro, “afilhada” da ALB/Campos-RJ, o escritor Jorge Barbosa a quem tive o prazer de escutar falando um pouco de sua caminhada de poeta. E outros participantes, literatos de igual relevância.
A atividade teve como proposição estabelecer um diálogo aberto e dinâmico, conduzido por mim, sobre a questão da imortalidade no meio acadêmico, já que todos os presentes eram (e são) acadêmicos, ou seja, pertencem a academias de letras, artes e ciências ou a associações de mesma natureza. E de algum modo também fora solicitado a cada convidado que relacionasse tal aspecto à sua trajetória de escritor (a).
A conversa foi produtiva, animada e diversos elementos foram levantados pelos ilustres escritores e poetas da contemporaneidade e, em especial, os de Volta Redonda e região.
A imortalidade foi mencionada como consequência do fazer literário, e mais ainda intensificada em tempos digitais, posto que “caiu na rede, é peixe” ,isto é, uma vez na teia digital, para sempre estará lá, ao menos em algum repositório. Portanto, potencialmente matéria de busca e leitura, quiçá, de pesquisas futuras, mesmo que a caminhada de escritor não lhe venha com fartas chances de visibilidade no mundo editorial e das publicações.
A imortalidade também pode conferir certa datação aos nossos escritos, inscrevendo a autoria num contexto histórico do qual somos agentes e pacientes sem qualquer passividade ou autoridade absolutas.
Ao lado disso, a formação de um escritor (a) e poeta pode ser confrontada com traços de uma existencialidade humana cruzada com elementos emergentes e acidentais que a história social pode precipitar.
Enfim, lidar com a imortalidade no campo cultural e literário vai além do pertencimento a uma academia. E por isso, sinto-me tocada pela experiência disparada pela vivência de ter me dado a chance de dialogar com confrades e confreiras tão singulares. No caso, ressalto os amigos feitos na AVL (Academia Volta-redondense de Letras), porque as atuações em Volta Redonda – e para além da cidade do aço – têm conferido à região valor inestimável no campo literário, e com isso, têm honrado nomes imortalizados como o de Guilherme de Almeida, por exemplo, idealizador do brasão de entrada da cidade.
Mas, tenho certeza de que será na minha memória que experiências como essa do CAFÉ LITERÁRIO serão prolongadas, com a pitada de afeto que faz de todos esses escritores e escritoras dignos de serem conhecidos e visitados.
Caro leitor, cara leitora, que tal visitarem as páginas digitais das inúmeras academias e associações brasileiras que fazem a história da literatura brasileira ser consistente e imortalizada em nossa memória social, para além dos compêndios escolares? Academias que difundem conhecimento, formam público leitor, colaboram para a formação cidadã, inclusive, infanto-juvenil, fazem ações sociais contra a fome e outras mais.
Sugiro algumas, adiantando a você, leitor e leitora, que há mais de mil academias e associações literárias pelo país: ABL;ALB (e suas seccionais); AVL; FEBACLA; CONCLAB; ADABL; ALG; LITERARTE; AMBA; AJEB;NALAP.
Em tempos de codiv-19,de necessárias restrições à circulação citadina, vale investir na contemplação leitora, mas também na visitação dos sites e das páginas em redes sociais destas instituições, e lá, o leitor e a leitora poderão encontrar boas dicas de leitura da literatura brasileira contemporânea em prosa e poesia.
Até a próxima semana!
Excelente oportunidade Angeli Rosi!!!
Compartilhar conhecimentos acompanhado de experiências faz toda diferença. Eu como mulher que segue de cabeça erguida (inspirado nos escritos rsss…) a luta; só tenho a dizer: maravilhoso!!!!
Obrigada,Valéria. É a contribuição que podemos dar à socidedade como retribuição.
Legal!!!