O rastreio envolveu aviões que emitiram pulsos de laser na floresta e mediram o caminho de retorno, revelando características topográficas invisíveis sob as árvores
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Jornal Clarín Brasil JCB News – Brasil 13/01/24
Uma densa rede de cidades interconectadas foi descoberta por arqueólogos na Amazônia, no Vale Upano do Equador. Os assentamentos têm pelo menos 2,5 mil anos e são mais de mil anos mais antigos do que qualquer outra sociedade amazônica complexa conhecida.
A pesquisa foi publicada na quinta-feira (11) na revista Science e revela “mais de 6 mil plataformas de terra distribuídas em um padrão geométrico conectadas por estradas e entrelaçadas com paisagens agrícolas e drenagens fluviais no Vale Upano”.
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Stéphen Rostain, arqueólogo da agência nacional de pesquisa da França (CNRS) começou as escavações no vale quase 30 anos atrás. Sua equipe explorou grandes assentamentos, chamados Sangay e Kilamope, e achou montes organizados em torno de praças centrais, cerâmica decorada com tinta e linhas incisas, e grandes jarras contendo os restos da tradicional cerveja de milho, a chicha.
As datas de radiocarbono indicam que os sítios do Upano foram ocupados por volta de 500 a.C. até entre 300 d.C. e 600 d.C.. “Eu sabia que tínhamos muitos montes, muitas estruturas”, disse Rostain à Science. “Mas eu não tinha uma visão completa da região.”
Em 2015, essa situação mudou: o Instituto Nacional de Patrimônio Cultural do Equador financiou um levantamento do vale com uma tecnologia de mapeamento a laser chamada Lidar. O rastreio envolveu aviões que emitiram pulsos de laser na floresta e mediram o caminho de retorno, revelando características topográficas invisíveis sob as árvores.
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Graças à tecnologia, os pesquisadores identificaram cinco grandes assentamentos e dez menores em uma área de 300 km², sendo que todos eram densamente povoados com residências e estruturas para cerimônias. Intercalando as cidades, haviam campos agrícolas retangulares e terraços nas encostas onde existiu plantio de milho, mandioca e batata-doce, encontrados em escavações passadas.
Estradas largas e retas, além de ruas entre casas e bairros, conectavam as cidades. As maiores estradas tinham 10 metros de largura e se estendiam por 10 a 20 km. “Estamos falando de urbanismo”, ressaltou o coautor do estudo, Fernando Mejía, arqueólogo da Pontifícia Universidade Católica do Equador.
Os pesquisadores não sabem exatamente quantas pessoas viviam no Vale Upano, mas estimam que o local tenha abrigado pelo menos 10 mil habitantes — talvez até 15 mil ou 30 mil em seu auge, como o arqueólogo Antoine Dorison, outro coautor do estudo, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
Segundo o estudo, a extensão da modificação da paisagem de Upano rivaliza até com as “cidades-jardim” da civilização maia clássica. E os assentamentos são mil anos mais antigos do que outras sociedades complexas amazônicas, incluindo Llanos de Mojos, um sistema urbano antigo descoberto recentemente na Bolívia.
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“Sempre houve uma incrível diversidade de pessoas e assentamentos na Amazônia, não apenas uma forma de viver. Estamos apenas aprendendo mais sobre eles””, concluiu Rostain.